Dando continuidade a inspeção à população de rua realizada na noite de quarta-feira, a Polícia Militar esteve na manhã de ontem nas cabeceiras das pontes Colombo Salles e Pedro Ivo Campos pedindo que as pessoas que estavam instaladas em acampamentos improvisados na região deixem a área. De acordo com o sargento Nascimento, da Polícia Militar, 11 pessoas estavam vivendo ali. A Comcap também estava realizando limpeza dos entulhos.

Continua depois da publicidade

Leia mais notícias da Grande Florianópolis

Sem alternativas, a família de Valter Bruno Macedo, 63 anos, não sabe para onde vai. Junto com o filho e a nora, o senhor conta que está vivendo em uma barraca há cerca de duas semanas, depois que o casal perdeu o emprego e não teve mais condições de pagar o aluguel da casa em que moravam no bairro Bela Vista, em São José.

As roupas e poucos utensílios que trouxeram da casa estão em malas escondidas no mato e a higiene pessoal é feita na rodoviária.

Continua depois da publicidade

Sem ter para onde ir

Valter veio do Paraná para Santa Catarina há três anos em busca de trabalho, mas vai todos os meses para Curitiba tratar de um tumor no cérebro. Ele diz que por conta da idade e problemas de saúde já não consegue mais exercer a função de pedreiro, profissão da vida inteira, e faltam oportunidades:

Ninguém dá emprego pra velho. Estou tentando me aposentar pela doença, mas também não consigo. A gente não tinha mais pra onde ir, então montamos a barraca aqui nessa grama e estamos vivendo de comida que catamos no lixo e ajuda que algumas pessoas trazem. Consegui ficar um pouco no albergue da prefeitura, mas depois de um tempo perde a vaga — contou.

Com lágrimas nos olhos, a nora de Valter, que prefere não se identificar pelo preconceito, diz que nunca imaginou que iria viver na rua, mas as circunstâncias deixaram a família sem opção:

Continua depois da publicidade

— Não temos problemas com drogas, bebida, nada. A gente montou a barraca e fica no nosso canto, daí ninguém nos incomoda. Eu consegui emprego de auxiliar de limpeza e meu marido de marmorista, vamos começamos na segunda-feira, mas foi um trabalho, porque quando tu diz que mora na rua muita gente não dá emprego. Até receber o primeiro salário não sabemos pra onde vamos — lamentou.

A família diz que um grupo de igreja costuma ir todas as quintas-feiras no acampamento. Eles precisam de ajuda com moradia por um mês, e seu Valter também precisa de óculos de grau.

Ação é resultado de inspeção

Na noite de quarta-feira, diversos órgãos fizeram uma inspeção a moradores de rua no centro da cidade. Polícias Civil e Militar, IGP, Guarda Municipal, Ministério Público e Assistência Social foram a locais onde os moradores se reúnem, como no parque náutico Walter Lange. Foram recolhidas impressões digitais, fotografias e atualizado o cadastro deles.

Continua depois da publicidade

Embaixo da ponte Pedro Ivo, foi capturado um foragido da polícia. Ele havia fugido do presídio de Lages, onde cumpria pena por roubo. O homem estava em liberdade condicional por assalto, mas contou que estava trabalhando. Ali também estava um casal com uma filha de dois anos, vivendo em uma barraca. A família foi levada para um abrigo.

Invasão ao camelódromo

Também foi encontrado um pequeno acampamento num espaço fechado abaixo da ponte. Os homens que dormiam lá inclusive tinham a chave do portão. Mais adiante, no camelódromo desativado, na Baía Sul, diversos moradores improvisavam quartos nos boxes. A situação era degradante: cheiro ruim, sujeira, paredes e teto quebrados. Os moradores saíram do camelódromo antes da polícia chegar.

— Esse trabalho é inédito a nível nacional da maneira como é feito, com a coleta de impressão digital, fotos das tatuagens, e que nós estamos inserindo no nosso sistema. É de suma importância que possamos ter a identidade dessas pessoas —, explicou o delegado Wanderley Redondo, da Delegacia de Desaparecidos.

Continua depois da publicidade

Ao todo, 56 pessoas foram abordadas. Nenhum estava desaparecida. A maioria era catarinense, mas havia um chileno, oito gaúchos, cinco paranaenses, cinco paulistas, três pernambucanos, um mineiro, um maranhense e um fluminense.

Durante a inspeção, as profissionais da assistência social orientam os moradores a procurarem o Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro POP) e o Albergue Municipal.