Mesas com toalhas, enfeites de velas no centro, um cardápio especial e música. Para muitos, será assim a noite de Natal. Mas para uma parcela da população de Blumenau, não. São moradores de rua, estimados em aproximadamente 500 na cidade. Cada um tem suas histórias e motivos para estar na estrada, mas compartilham a incógnita de onde e o que irão comer na noite do dia 24 para o dia 25. Falta tempo até lá, dizem alguns deles. É preciso pensar primeiro no amanhã.
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Há quem saiba e entenda o desafio pessoal que cada um deles enfrenta. Fruto desse conhecimento, profissionais da prefeitura que atuam no projeto Consultório na Rua e voluntários do grupo Resgate na Rua resolveram preparar uma ceia. Foi na noite desta sexta-feira, em uma praça pública no bairro Victor Konder. Cerca de 50 pessoas foram chegando aos poucos e puderam compartilhar de uma noite diferente.
Se não fosse o jantar dessa noite, Osni Krueguer, 55 anos, diz que já estaria recolhido debaixo de alguma ponte da cidade e que a ceia não seria uma realidade provável. Os trabalhos que faz sempre que surgem como pedreiro ou roçando algum terreno dão conta de pagar o básico dos itens de primeira necessidade, mas não comportam uma refeição cheia de opções, onde as margens das calçadas foram substituídas por mesas e cadeiras.
– Se não fosse isso aqui, não tinha ceia – afirma Krueguer.
Quem atua com as pessoas em situação de rua se emociona com o momento. É o caso da enfermeira Patrícia Stenger. Não é tanto pela comida, que por vezes falta a eles, mas pelo sentimento de acolhida que a iniciativa dá àqueles que não se sentem pertencentes à sociedade, afirma. Quem está ali veio porque já criou um vínculo com o projeto e encontrou apoio para seguir em frente, desde um atendimento de saúde até uma orientação espiritual para quem deseja.
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Moacir Winzewski não vive mais nas ruas de Blumenau, mas fez questão de estar no jantar. O motivo? Gratidão e reconhecimento por um trabalho que o ajudou a superar o vício da bebida e a conquistar um espaço para se recolher quando a noite cai. Já precisou muito de um prato de comida e a presença na praça era ainda que subliminar um recado: é possível dar a volta por cima, por mais que leve tempo. De tudo o que viveu nas ruas, deixa uma mensagem a quem ainda busca um lugar seguro para chamar de lar.
– Não use drogas, não beba e não roube nada de ninguém – aconselha.