Na ensolarada tarde de 9 de junho de 2011, poucos dias antes de completar seis meses como presidente, Dilma Rousseff (PT) veio a Santa Catarina para inaugurar residenciais do programa Minha Casa Minha Vida em Blumenau, cidade do Estado que tem mais unidades da Faixa 1 do projeto, 2.304. O chamado Condomínio das Árvores, no bairro Passo Manso, é composto por 580 apartamentos e foi erguido para atender famílias atingidas pela enchente de 2008. Com toda a pompa, a presidente chegou aos prédios cercada por novos moradores, militantes e políticos.
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Especial:
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Em março do ano seguinte, nove meses após a inauguração, a Polícia Civil fez uma operação naquele e em outros condomínios do Minha Casa Minha Vida em Blumenau. Pouco depois das 6h, moradores foram acordados por barulhos nos corredores, gritaria e um helicóptero sobrevoando os prédios. Quatro condomínios do projeto construídos na cidade tiveram apartamentos vistoriados pelos agentes. Na época, a polícia apreendeu drogas, uma arma e conduziu 11 pessoas para a delegacia.
Nos últimos quatro anos, a PC fez pelo menos outras duas operações nos prédios na cidade. Não entram nessa lista outras ações com menor efetivo. Em uma delas, a Divisão de Entorpecentes, no ano passado, encontrou um apartamento no Condomínio das Nascentes, no bairro Progresso, usado para o tráfico de drogas. Os suspeitos haviam inclusive mudado a cor da fachada do andar da unidade como símbolo de que ali funcionava o ponto.
– Eles (traficantes) tiraram os porteiros e expulsaram os síndicos. Obrigam os moradores a venderem seus apartamentos para familiares deles (traficantes) – conta um morador vizinho dos condomínios que não quis se identificar por medo de represálias.
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No condomínio inaugurado pela presidente, quase quatro anos depois da entrega das chaves, uma moradora diz ter desistido de morar no prédio. Sem se identificar, ela diz que irá vender e fazer um contrato de gaveta com o futuro proprietário. Ou seja, até que o prazo de 10 anos termine e ela possa então quitá-lo, o proprietário pagará pelo valor da mensalidade.
– Há facção (criminosa) aqui dentro. Duas vezes vieram me pedir para pagar um valor pela segurança do prédio. Não paguei e vou embora – diz a moradora.
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Segundo o delegado responsável pela Divisão de Entorpecentes de Blumenau, Ronnie Esteves, não há confirmação da presença de facções criminosas nos condomínios da cidade, mas ele admite que possa haver integrantes de grupos nos prédios.
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– Agora, se nada for feito para reverter esta situação, pode ser que isso ocorra. Os condomínios viraram reduto de foragidos da justiça também, além, é claro, do tráfico de drogas que ganha cada vez mais espaço por falta da atuação do poder público – revelou o delegado.
Em Palhoça, o segurança Amilton Vieira, morador do Residencial Marlene Moreira Pierri, no bairro Pachecos, resolveu encarar de frente os problemas do prédio onde mora. Depois de três anos, decidiu assumir o cargo de síndico em fevereiro deste ano. Ele é o responsável por administrar 320 apartamentos divididos em 20 blocos enfileirados lado a lado.
As dificuldades do novo síndico começam na entrada do residencial. Mesmo com a obra entregue em 2012, a guarita está inacabada e dá um ar de abandono, o que contribui para um estereótipo que Amilton pretende eliminar:
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– Aqui tem apelido de Carandiru. Assumi para ver se consigo resolver isso, mas o condomínio está falido- lamenta o síndico.
Nos fundos dos prédios, onde ficam o salão de festas e o playground, o cenário piora. O parque, antes destinado a crianças, tornou-se um espaço para consumo de drogas. No dia em que a reportagem foi até o local, dois rapazes exigiram que não fossem feitas imagens. No interior do salão, o que antes era um espaço para festa virou palco de destruição. Amilton conta que a estrutura foi danificada pelos próprios moradores.
– A Assistência Social não pisa aqui. As pessoas têm medo. A prefeitura e a Caixa lavaram as mãos e não vêm aqui- reclama o morador.
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Inaugurado há nove meses, o Residencial Saudades, no bairro Saudade, em Biguaçu, ainda luta para não se aproximar das condições dos prédios de Blumenau e Palhoça. Moradores relatam que duas empresas de segurança foram embora do prédio desde a entrega das chaves. Os vigilantes teriam sido agredidos por pessoas que residem no local. Com medo de se identificar, uma moradora diz que o segredo dentro do prédio é cada um viver a vida sem interferir no dos outros. Ela admite que há uso de drogas no condomínio, mas nega ter visto tráfico.
Em Criciúma, o delegado responsável pela Divisão de Investigações Criminais (DIC) da Polícia Civil, André Milanese, afirma que operações foram feitas no Residencial Carmel, construído na Faixa 1 do projeto. De acordo com ele, há tráfico de drogas no local. Mesmo com um recadastramento feito no ano passado pela prefeitura, Milanese diz que os problemas continuam. Em Palhoça, o delegado Claudio Monteiro também confirma o tráfico de drogas no Residencial Marlene Moreira Pierri. Monteiro afirma que a polícia está investigando.
Os residenciais Trentino I e II, em Joinville, foram inaugurados em 2012. Em abril do ano passado, diante do alto número de crimes que ocorria no local, a Polícia Militar fez uma operação nos residenciais. Segundo levantamento da PM, de agosto de 2012 até março de 2014, haviam sido atendidas 578 ocorrências nas dependências dos residenciais.
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