A falta de água não é novidade para quem vive na Vila Aparecida, em Florianópolis. Apesar de haver rede construída pela Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan) há pelo menos uma década, não há ligação na comunidade. Um reservatório de grandes proporções instalado pela estatal está cheio de lixo.
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Moradores dependem de caminhões-pipa e, principalmente, de “gatos” de água para tomar banho, lavar roupas e fazer comida. E não é preciso subir o morro para conhecer o descaso. Até a base da Polícia Militar, na Rua da Fonte, enfrenta dificuldades quando o assunto é água potável.
O desabastecimento piorou nos últimos meses, quando moradores fecharam a Via Expressa em manifestação. A mobilização voltou com força na última quarta-feira, 13, e agora eles esperam mudança. Na noite de quinta-feira, cerca de 200 pessoas participaram de reunião para planejar as próximas ações. Estima-se que 300 famílias sejam prejudicadas.
– A luta por água é antiga. Já cansamos de pedir para a Casan vir colocar, mas estamos abandonados. Agora, com a comunidade unida, esperamos mudanças – sonha Ivonete Aparecida Venâncio, 39, que vive na Vila Aparecida há 17 anos.
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Um abaixo-assinado tem sido providenciado pelos próprios moradores, que esperam pressionar a Casan por mudanças.
– Vamos entregar e pedir uma reunião. Assim não dá mais. Tem dia que não dá nem para cozinhar, quanto mais tomar um banho depois que chega do serviço – desabafa Carla Cristina Bernadete Pedro, 40, moradora há 23 anos.
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Abaixo-assinado será entregue na semana que vem. Foto: Diorgenes Pandini/Agência RBS
Sem conflito
Ester Andrade, 42, garante que a comunidade está tentando mudar a situação do jeito correto.
– O motor do posto de saúde manda água, mas é muita demanda. Agora o pessoal quer pagar pela água, porque cansou de subir e descer de madrugada, cansou de gente brigando por uma gota de água. Estamos tentando meios legais. Espero que, da próxima vez que vocês vierem, a gente tenha cavalete e relógio – arrisca.
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A dona de casa Ivonete Rodrigues Petrowisky, 45, é uma das que precisa virar noite adentro atrás de água. Ela cuida da sogra Terezinha de Oliveira, 89, que teve um acidente vascular cerebral (AVC) e vive há 15 anos acamada.
– É complicado, porque ela precisa do mínimo de higiene, né? A começar pelo forro da cama, fora os banhos. Tenho que dar de caneca, é uma tristeza.

Reservatório de água é utilizado como depósito de lixo e local para crianças brincarem. Foto: Diorgenes Pandini/Agência RBS
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O que diz o Poder Público
O vereador Pedro de Assis Silvestre, o Pedrão, esteve nesta semana na Vila Aparecida para conhecer o problema.
– Tem, de fato, muito ‘gato’ naquele local, até porque muita família não recebe água por se tratar de uma ocupação irregular. O problema é que lá é uma ocupação diferente: tem rua calçada, poste de luz, telefone, internet. Tem até esgoto. Só não tem água – explica.
Um relatório detalhado da situação da comunidade será entregue ao Ministério Público na semana que vem, conforme o representante legislativo.
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– Me reuni com o MP, prefeitura e uma comissão da comunidade para tratarmos da ligação legal de água. Prefeitura e Casan querem instalar, mas temem algum problema judicial se fizerem isso nesse momento ?- acrescenta.
O secretário de Habitação e Saneamento Básico, Domingos Zancanaro, diz que nada pode ser feito no local até que haja regularização fundiária e, então, seja colocado em prática o projeto de reurbanização previsto para a comunidade. Condomínio residencial com 160 vagas, creche e praça estão previstos, além das ligações regulares de luz, água e esgoto.
– Terminamos o projeto no fim do ano passado. Agora a Caixa está analisando. O orçamento necessário para infraestrutura é de R$ 32 milhões. A gente entende a gravidade, mas ali é uma ocupação desordenada, com famílias em áreas de risco e de preservação permanente – argumenta.
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A Prefeitura de Florianópolis estuda um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) perante o Ministério Público para interferir na Vila Aparecida antes do projeto de reurbanização.
Pela assessoria de comunicação, a Casan informou que “está disposta a ajudar e tem conhecimento de que há, na prefeitura, um grande processo de regularização da área.” Depois disso, a Companhia garante que “não há problemas em levar água até o local.” A empresa também diz que tem participado das discussões sobre o assunto.

Motores de água percorrem toda a comunidade. Foto: Diorgenes Pandini/Agência RBS