Pela terceira vez em menos de dois dias, os moradores de uma área de ocupação na praia da Vigorelli, na zona Norte de Joinville, impediram que a Fundema concluísse a retirada de uma cerca que separa as casas do mangue e que seria um pretexto para uma nova invasão e o loteamento ilegal da área.
Continua depois da publicidade
Cerca de 100 moradores atearam fogo numa barricada montada com madeira e pneus e bloquearam o trânsito na estrada João de Souza Mello e Alvin, que dá acesso ao ferryboat, nesta quinta-feira. Dezenas de carros tiveram que esperar dos dois lados por mais de duas horas. Como havia o risco de conflito, a Polícia Militar orientou o fiscal e os motoristas da Prefeitura a abandonar o local sem retirar a cerca.
Na noite anterior, a Fundema chegou a entrar na área, mas os trabalhos foram interrompidos pelos moradores. Na manhã desta quinta, nova tentativa frustrada.
Segundo o fiscal Carlos Kraus, a medida partiu de uma denúncia anônima de que a área estava sendo desmatada, cercada e seria possivelmente invadida. Policiais ambientais fotografaram o corte de árvores e reforçaram a denúncia à Fundema. Os moradores reclamam que a área estava cercada há 30 anos e que não há motivo para retirar a cerca, usada para estender roupas. Eles garantem que não há qualquer tentativa de invasão.
Continua depois da publicidade
– Tenho jornais aqui que mostram essa cerca. Há outros problemas. Tem gente desmatando em outra área atrás dessa e querem fazer isso com a gente? – diz o pescador Paulo Ricardo dos Santos, que mora no local há 16 anos.
Com os jornais nas mãos, ele mostrava a luta dos moradores pelo abastecimento de água, ainda na década de 1990.
Numa tentativa de acordo, ele se comprometeu a retirar a parte da cerca que fica perto da casa dele sem que houvesse intervenção da Fundema. Mas os outros moradores não concordaram. Uma nova tentativa de retirar a cerca deve ocorrer nesta sexta à tarde, com a presença de efetivo da Polícia Militar.
Continua depois da publicidade
Pedido por energia elétrica
Mesmo diante de uma decisão judicial e da ilegalidade para a instalação de energia elétrica na área, as cerca de 100 famílias também portavam cartazes pedindo uma rede, mesmo que provisória, para todas as casas. A área foi invadida ainda na década de 1980.
Até 1997, todos os moradores tinham de andar cerca de um quilômetro para buscar água potável na região do Cubatão. Depois de vários pedidos, inclusive de vereadores da cidade, a água foi instalada.
– Moro aqui desde o começo. Tivemos que lutar muito para colocar água. Agora, não entendo porque não instalam luz. Há outros locais praticamente dentro do mangue, aqui pertinho, que têm energia – diz o aposentado Olímpio Pincega, de 60 anos. Ele mora no núcleo do loteamento com a mulher, dois filhos e dois netos.
Continua depois da publicidade
No começo do ano, uma decisão judicial obrigou a Prefeitura a promover a recuperação da área de preservação, com realocação de famílias e a contenção de aterros sobre o mangue. Por outro lado, os moradores garantem que vão continuar protestando e bloqueando a estrada pela energia elétrica e para impedir a retirada de qualquer família do local.