Na casa da dona Celia Regina, 44 anos, não há geladeira. O marido é pescador, mas não tem onde armazenar os alimentos que traz do mar. Assim, é obrigado a vender os produtos imediatamente e utilizar o que sobra para o consumo da família. O banho – uma prática rotineira e tão simples para a maioria das pessoas – é de balde de água fria. Literalmente. Junto com o casal, vivem cinco filhos há mais de dez anos na praia da Vigorelli. Lá, a escuridão chega mais cedo: assim que o sol se põe.

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Este é o retrato de uma Joinville desconhecida por boa parte da população e esquecida pelo poder público. Na manhã deste domingo, mais de 50 moradores atearam fogo em uma barricada com madeira, pneus e até mesmo roupas formada na estrada João de Souza Mello e Alvin.

A via dá acesso ao ferryboat que leva até a Vila da Glória, em São Francisco do Sul, e foi bloqueada por mais de uma hora. Eles chamam atenção para um problema grave e que os acompanha desde que chegaram ao local: a falta de energia elétrica.

Mais de 30 anos atrás, os primeiros habitantes ocuparam a área que é considerada de preservação permanente. Por isso, não conseguem licença para que a luz chegue às residências. Aqueles que têm mais dinheiro, geralmente proprietários dos restaurantes que servem como ponto turístico da cidade, mantêm casas e comércios funcionando com auxílio de geradores. No entanto, o gasto com o equipamento, de acordo com os moradores, ultrapassa R$ 600 mensais. É um luxo que apenas uma minoria pode pagar.

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A pescadora Adriana Soares de Borba, 29 anos, conta que ela e o marido conseguiram comprar um chuveiro a gás para não sofrer tanto com o frio ao se banhar. Apesar disso, o verão bastante quente de Joinville se torna escaldante não só para o casal, mas também para as mais de 100 famílias que vivem na praia.

– Sem energia, não adianta a gente ter ventilador. Não conseguimos espantar os insetos. Muitas crianças, principalmente, sofrem com problemas de audição por causa do barulho dos geradores. Não há televisão em casa, nada que precise de uma tomada para ligar. O descaso com nossa comunidade é muito triste – lamenta.

Há dez dias, um confronto entre a população local e a Fundema já havia fechado o acesso ao ferryboat. Na ocasião, o órgão ambiental removeu uma cerca que separa as casas do mangue e poderia servir de pretexto para uma nova ocupação e o loteamento ilegal da área. Os moradores alegam que a estrutura era utilizada apenas para estender roupas.

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