Esta quinta-feira não foi dia de pesca para Luiz Ponick, Matheus Ricardo Seiner e Natalino Rodrigues Padilha. Às 7h30 da manhã os pescadores largaram as bateras e as redes e voltaram do mar para proteger suas casas, ameaçadas de demolição. As residências foram construídas em áreas de proteção ambiental, na Praia da Vigorelli, em Joinville.
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Reformas de ampliação teriam atraído os olhares da Prefeitura, que respondeu ao protesto em nota oficial. Diante das máquinas da Secretaria de Meio Ambiente, os moradores fecharam com barcos, entre as 10h30 e as 15 horas, a rua João de Souza Melo e Alvin, que dá acesso ao ferryboat.
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Luiz tem 66 anos e mora na Vigorelli há 24. Vive de pescar e se surpreendeu com a chegada dos funcionários da prefeitura. O filho dele, Diego Nascimento, de 22 anos, casou e a residência da família não poderia ficar do mesmo tamanho. Por isso, de acordo com o pescador, foi feita uma ampliação. O que para o Luiz e sua família não é motivo de considerarem a residência como sendo de moradores novos. Motivos não faltaram para o protesto. Misturados às tentativas de demolições, estavam o “descaso” e a “falta de investimentos” na região.
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– Eu vou pescar todos os dias. Não sou aposentado ainda – argumentou Luiz, que continuou indignado – Pergunta se eles vem aqui cumprir as promessas.
Matheus Ricardo Seiner viveu 15 dos seus 24 anos na Vigorelli, que ainda nem luz tem. O rapaz foi outro que precisou reformar a casa.
– Tive que trocar as paredes. A casa tava quase na minha cabeça, já – explicou o jovem pescador.
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Caminhando em direção aos barcos que fechavam as ruas, Natalino e seus 60 anos de vida – 20 de Vigorelli – também não perdoaram o “descaso” da prefeitura. Com ele moram os netos, que são um dos motivos para a ampliação da casa.
– Queremos que nos deixem viver em paz. Se for fazer outra coisa da vida, vamos passar fome – cogitou o pescador, que admitiu – Dei uma reformada em casa. Aí já vieram com ordem de embargo. Agora vieram com a ordem de demolição.
De acordo com a advogada da Associação de Moradores, em 14 de janeiro os moradores receberam um auto de embargo, impedindo a continuação das obras. Pouco mais de um mês depois, em 24 de fevereiro, chegou a notificação de despejo, solicitando a saída dos moradores em 48 horas. Pontualmente, a secretaria apareceu no bairro e foi recepcionada pela indignação dos moradores.
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– Querem detonar a casa toda e não a reforma – esclareceu o presidente da associação, Mauro Araújo.
De acordo com o presidente, existe um tratado sendo negociado entre a prefeitura, o judiciário e a comunidade local, para selar um acordo em que os moradores antigos tenham segurança de que não serão prejudicados. Mas, segundo Araújo, quem vive ali há tempo e fez reforma está sendo encarado como recém-chegado. Em meio à Polícia Militar e aceitando as orientações da advogada, Natalino convenceu os moradores a abrirem caminho, andou em direção aos barcos com o vento refrescando as ideias.
– Esse é o ventilador que Deus nos deu, porque luz pra nós não vem – comentou.
Confira na íntegra a nota oficial da Prefeitura
A Prefeitura de Joinville informa que, preparando-se para cumprir uma determinação legal, a Secretaria do Meio Ambiente (SEMA) notificou proprietários de três moradias que estavam sendo erguidas no local a retirarem seus pertences pois os imóveis seriam demolidos. Para isso foi dado o prazo de 48 horas, findados nesta quinta-feira, dia 26.
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A Secretaria do Meio Ambiente está baseada por Termo Parcial de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público Federal (MPF) para evitar a instalação de novas moradias na área de preservação da Vigorelli.
A Secretaria do Meio Ambiente ressalta que essas construções são atuais e não fazem parte dos imóveis já cadastrados pela Secretaria de Habitação na região. Além disso, as obras não tinham alvará de construção, já tinham sido embargadas e estavam sendo erguidas em área de preservação.
A Secretaria do Meio Ambiente espera a compreensão dos moradores para que respeitem a determinação legal exercida pelo Município e não iniciem novas construções.
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