Segunda-feira, 11h. Exatamente três dias depois do assalto que assustou a região, os moradores tentam retomar a normalidade na Itoupava Central, na região Norte de Blumenau. No entorno da agência bancária, parece que nada aconteceu. As cápsulas foram recolhidas, estilhaços foram limpos e clientes entram e saem do local, tal como em um dia útil qualquer. Do lado de fora, pessoas passam tranquilamente de bicicleta e vendedores ambulantes tentam comercializar bugigangas. Embora a tranquilidade marque o início da semana com sol, ainda há resquícios da ação dos criminosos na última sexta-feira (6).
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A começar pela escassez de dinheiro. Clientes que entravam na agência bancária saíam poucos segundos depois de mãos e bolsos vazios. Isso porque até a manhã desta segunda-feira os caixas eletrônicos, que teriam sido abastecidos no fim da última semana, ainda estavam completamente vazios. Outra questão aflige aqueles que têm na Itoupava Central o lar: a sensação de insegurança.
O segundo assalto de grandes proporções em menos de seis meses na região traz medo àqueles que moram no bairro há décadas e que não estavam acostumados a conviver com crimes dessas proporções. É o caso de Tárcio Treger, 61 anos, que vive no bairro há 32. O aposentado passou pela agência nesta segunda-feira e relata a preocupação trazida com ações criminosas no Aeroporto Quero-Quero (em 14 de março deste ano) e na agência do Bradesco.
– Todo mundo com quem converso tem medo. A nossa região está crescendo bastante, mas parece que a segurança pública não acompanha esse crescimento. Aumenta a população, mas não aumenta o efetivo da polícia. Agora cada vez que encostar um carro-forte aqui a gente vai ficar apreensivo – conta Treger.
Nascido e criado na Itoupava Central, o motorista Odilon Hackbarth, 42, diz que a sensação da comunidade é de uma situação que se equipara aos grandes centros na questão da insegurança. Ele conta que em quatro décadas nunca havia vivido um contexto com tanto medo na região onde mora quanto agora.
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– A gente sabe que acontecem furtos e assaltos pequenos, mas nunca imaginamos que esse tipo de crime maior ia vir para cá. Assusta saber que eles ocorrem tão perto e a sensação é muito ruim. Banco já é para ser um lugar seguro, e mesmo assim a gente vive esse tipo de coisa – conta o motorista.
Morador do entorno da agência bancária, o empresário Renato Michelmann, 50, estava em casa no momento do crime e descreve como foi o momento em que os assaltantes invadiram o local e fizeram os clientes de reféns. Ele ouviu os disparos feitos pelos criminosos.
– Primeiro pensei: “quem é que está soltando foguete, estourando rojão, uma hora dessas?”. Aí, logo em seguida já ouvi os disparos e percebi que eram tiros de metralhadora. Fica uma sensação de muito medo, já que duas horas antes eu tinha vindo aqui (na agência) fazer um saque. Poderia ter sido comigo – lembra Michelmann.
Bandidos levaram R$ 500 mil na ação
Fontes ligadas à segurança pública de Blumenau confirmaram ao Santa nesta segunda-feira que o valor levado pelos criminosos foi de R$ 500 mil. O montante havia chegado à agência bancária cerca de 20 minutos antes, em um carro-forte. O trabalho da polícia agora tem como foco tentar identificar as rotas utilizadas na fuga e também possíveis imóveis utilizados pelos criminosos como esconderijo nos últimos dias.
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Conforme o tenente Nicolas Vasconcelos, chefe do setor de Comunicação Social do 10º Batalhão de Polícia Militar de Blumenau, o que precisa ocorrer a partir de agora é um estreitamento da relação entre as instituições de segurança pública e as empresas que atuam com transporte de valores e que lidam diariamente com agências bancárias. Na avaliação do policial, é inadmissível que os bandidos tenham acesso a informações tão privilegiadas.
– Como pode o criminoso ter acesso à informação de que tão pouco tempo antes havia sido feito um abastecimento dos cofres da agência? Como é que no assalto do Quero-Quero os criminosos sabiam que naquele exato instante ia pousar um avião-forte com mais de R$ 9 milhões? Como é que eles conseguiram entrar no aeroporto tão somente abrindo o portão? Perceba que o problema que houve não é de segurança pública. O problema está principalmente nas empresas privadas, que lucram muito, mas que têm investimento (na segurança) irrisório – avalia o tenente Nicolas.
Na última sexta-feira (6), logo após o assalto, o governador de Santa Catarina, Carlos Moisés (PSL), anunciou o envio de 60 policiais da turma de soldados que está sendo selecionada em concurso público para Blumenau. É uma forma de aliviar a sensação de insegurança tanto na cidade, quanto região da Itoupava Central.