Uma ação da Floram que previa a demolição de residências irregulares na Vila do Arvoredo, conhecida como Favela do Siri, no Ingleses, Norte da Ilha, terminou em confusão na manhã desta terça-feira. Após a primeira casa ser destruída, por volta das 10h, os moradores montaram barricadas com lixeiras e pneus na entrada na comunidade e atearam fogo em seguida, impedindo o acesso ao local.
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Segundo o Centro de Comunicação Social da Polícia Militar, guarnições foram descoladas até a local para prestar apoio a ação da Floram e foram recebidos com pedradas e tiros. Já a comunidade tem outra versão. De acordo os moradores, foi feito uma barricada para impedir a entrada do trator que iria derrubar as casas, porém a Polícia que teria reagido com violência, soltando bombas de gás lacrimogênio e atirando com balas de borracha na direção de famílias com crianças.
Moradores da região se assustaram com o barulho dos tiros e bombas e a todo momento saíam correndo de casa com crianças nos braços. No projeto social que funciona próximo a entrada da comunidade, a professora Isabela Santos juntou os 20 alunos em uma sala e trancou portas e janelas:
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— Foi uma situação de terror. Muitas crianças começaram a chorar sem entender o que estava acontecendo, outras queriam olhar pela janela. A eletricidade foi cortada na hora, o que deixou eles mais assustados ainda _ lamentou.
A moradora do Siri, Luiza Helena, estava em casa com os netos quando ouviu o barulho dos tiros. Depois que saíram de casa, as crianças tiveram a mochila revistada por policiais:
— A gente levou um susto, mas achei melhor sair e levar eles para escola — falou.
Na rua Floresta, restaram os vestígios do confronto. Cartuchos de bombas e balas, pneus queimados e pedaços de madeira com pregos.
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Moradores contestam ação policial
Muitos revoltados, os moradores da comunidade do Siri reclamaram da truculência policial. Depois que a Polícia deixou a comunidade, por volta do meio dia, os moradores foram para a rua Dom João Becker protestar:
— Já chegaram usando da força, sem olhar, tinham crianças, mulheres grávidas. Uma estava passando mal e nem deram espaço para ela passar, um vizinho que colocou no carro e levou para o posto de saúde — disse a moradora Adreia Liabana.
Documentário mostra realidade de comunidade do Norte da Ilha onde as dunas engolem casas
Com lágrimas nos olhos, a empregada doméstica Rudineia da Silva, relatou a situação de desespero. A casa dela era uma das que iria ser derrubada nesta terça:
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— A gente sabe que não pode construir, mas foi por uma questão de necessidade, de escolher se eu dava comida para os meus três filhos ou pagava aluguel. Eu e meu marido conseguimos juntar R$ 2 mil e construímos a casa, pra tentar dar uma vida digna para nossos filhos — disse.
Outra moradora, Kauana Luiza, disse que existe muito preconceito:
— A Polícia e muita gente pensa que todo mundo que mora aqui é bandido ou vagabundo. Até pra conseguir um emprego quando falamos que moramos na Favela do Siri não dão. Não tem diálogo, chegam e mandam a gente sair sem nem deixar a gente pegar nossas coisas.
Operação vai continuar
O chefe de fiscalização da Floram, Walter Hachow, explica que as equipes demoliram uma unidade irregular que ainda não estava habitada, além de três baldrames ( inícios de construção) e tudo corria bem até que um caminhão da Comcap, que estava no local fazendo a limpeza, saiu sem a escolta policial e começou a confusão:
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— As pessoas precisam entender que estamos cumprindo a lei. Ali é área de preservação e não pode ter construção. Pretendíamos continuar a operação na parte da tarde, mas por uma questão operacional da Polícia Militar vamos deixar para outro dia _ explicou.