Desde que nasceu, há 48 anos, a manipuladora de pescado Karla Geovana da Silva, mora no mesmo lugar. A casa onde ela criou os três filhos fica no Bairro São Pedro, em Navegantes, na região conhecida popularmente como Pontal. Ela e outras cerca de 200 famílias estão em área de marinha, local onde vai ficar o novo espaço de manobras do Complexo Portuário do Itajaí-Açu e, por isso, terão que sair das casas onde moram.

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Mas essa desapropriação ainda gera muitas dúvidas, especialmente nos pescadores, que não sabem ainda como será o futuro deles longe do lugar onde cresceram.

Uma pesquisa feita pela Acquaplan, empresa de consultoria ambiental, vai fazer um levantamento destas famílias, para conhecer a realidade e ver o que eles pensam sobre o futuro. Ontem, o filho mais velho de dona Karla, o vigilante Gabriel Felipe Correia, passou o dia na casa da mãe à espera dos pesquisadores.

– Vamos deixar bem claro que não queremos dinheiro. Nós queremos uma casa para ela morar com meus irmãos – diz Gabriel.

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O desejo de dona Karla é continuar no bairro onde nasceu, já que fica perto do local de trabalho.

– É a única coisa que eu sei fazer – explica.

Uma pouco mais à frente, a dona de casa Maria Aparecida Jeremias conta que também está ansiosa para ver o que vai acontecer com a família. O marido dela trabalha descarregando os peixes que chegam nos barcos de pesca e, por isso, eles não querem morar muito longe do bairro.

– Aqui tem escola perto, tem mercado, tem posto de saúde. Gostamos de morar aqui – explica ela, que vive há 41 anos no bairro, 16 deles na casa onde está hoje.

Um dos boatos que apareceu no bairro foi o de que todas as famílias seriam transferidas para um condomínio que seria construído para recebê-los. Ideia que a grande maioria desaprova, segundo dona Maria.

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– Ninguém aqui vai querer isso. A gente prefere que nos deem uma casa aqui perto, mas se demorar muito, acho que vamos ficar com o dinheiro (indenização) – reflete.

Pescadores são maioria entre os moradores

A maioria dos moradores da região do Pontal ainda vive da pesca. Mas algumas pessoas trabalham em outros lugares, como os vizinhos João Pedro Vieira e Eduardo Inácio. O primeiro é funcionário público e o outro, cabeleireiro. Eles afirmam que estão dispostos a deixar o local, mas que é preciso haver uma compensação.

– Se fosse para escolher mesmo, eu preferiria ficar aqui. Mas como não dá, eu quero a indenização, porque posso escolher onde morar – explica Eduardo.

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Os dois, assim como Karla Geovana da Silva, moram em áreas com escritura e acreditam que, por isso, teriam menos problema para deixar o local.

– Para mim, não teria problema sair da casa. Mas é preciso ter um retorno-_ avalia João Pedro.

A desapropriação das famílias é necessária para a instalação da nova Bacia de Evolução. A obra vai custar R$ 100 milhões e permitirá que navios de maior porte possam atracar no Complexo Portuário, já que teriam um espaço maior para a manobra. A empreitada, que deve ficar pronta em 2014, deve permitir operações com navios de até 336 metros de comprimento e 48,2 de largura.

Hoje, os terminais de Itajaí e Navegantes trabalham com cargueiros de até 272 metros e recebem embarcações maiores em caráter experimental. Terminais concorrentes, como o de Itapoá, estão aptos a receber cargueiros com até 335 metros de comprimento.

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Pesquisa socioeconômica termina esta semana

A pesquisa socioeconômica que foi contratada pelo Complexo Portuário do Itajaí-Açu está levantando os dados das famílias, especialmente no que elas trabalham e para onde querem ir. Segundo o engenheiro e coordenador de pesquisa de campo da Acquaplan, Sailon Noernberg, dos dados colhidos até agora, entre 60% e 70% das famílias preferem continuar morando no bairro. De acordo com a empresa, são cerca de 200 famílias na região.

– O que não significa que são 200 casas, já que em algumas moram mais de uma família – explica.

A previsão é de que o levantamento das informações termine esta semana. Mas nesta terça-feira inicia um novo levantamento, chamado de físico. Os engenheiros conhecerão todas as residências e levarão os dados até o sistema da empresa, que calculará o valor de cada uma.

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– Vamos apresentar os dados para a empresa contratante e para a prefeitura. Só depois será decidido o que vai ser feito com os moradores – diz Sailon.

Ele afirma ainda que o correto é não afastar as pessoas da realidade atual. Por exemplo, está sendo feito um levantamento dos barcos e os que não tiverem licença serão regularizados.

– Quem tiver trabalhando com pesca terá que continuar morando perto do rio ou do mar e tem que ter um espaço para a embarcação também – comenta.

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Segundo Sailon, os moradores estão recebendo bem os pesquisadores, especialmente porque a maioria está disposto a colaborar e tirar dúvidas. Desde o início da pesquisa, apenas duas pessoas não quiseram responder.