Os olhos azuis da cor do céu mantêm o brilho da distante juventude e os cabelos brancos como as nuvens revelam os anos que já passaram. As mãos enrugadas e calejadas, resultado das décadas em que trabalhou na estrada de ferro – em Blumenau e Mafra – , se movimentam enquanto os pássaros se aproximam e se alimentam do alpiste colocado cuidadosamente no colo do aposentado.

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Seu Artur Seberino, 89 anos, alimenta diariamente as pequenas aves e é desde a infância um verdadeiro apaixonado por pássaros. Foi pensando nele e em tantos outros apreciadores dos passarinhos da região que o Santa publicou nesta terça-feira o caderno Vale dos Pássaros.

Outro exemplo de apaixonado por pássaros é o blumenauense Ademar Manske, 65. Morador do bairro Salto, há dois anos ele salvou um filhote de aracuã da morte após ver os irmãos da ave serem atropelados em Indaial e desde então cuida do pássaro silvestre com carinho. Apelidado de Nini, o macho é como se fosse da família, divide a casa com outros moradores, mas não deixa de seguir o instinto e dar alguns breves voos pelas árvores da vizinhança em busca de brotos.

– Ele come de tudo, mas gosta mesmo de picolé. Me segue até o portão e fica esperando eu voltar para casa – conta entre sorrisos.

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Alimentação das aves

Não é de hoje que especialistas recomendam que as pessoas não devem alimentar animais silvestres, mas o presidente do Clube de Observadores de Aves do Vale Europeu (Coave), Maicon Mohr, não vê problema neste hábito. Para ele, é necessário apenas que as pessoas tomem certos cuidados como: lavar diariamente os recipientes onde a água é disponibilizadas e oferecer frutos frescos.

– Tratar as aves favorece o permanecimento delas no local desejado, mas também é possível plantar árvores e utilizar alternativas a longo prazo para conquistar os pássaros. Muitas espécies sofrem pela falta de alimento em determinadas épocas do ano e este hábito pode ajudar na sobrevivência delas – ressalta.

O Coave surgiu em 2002 e reúne interessados na prática da observação, além de fazer um trabalho de educação ambiental no Vale do Itajaí. Em mais de 10 anos de existência contabiliza mais de 140 mil pessoas, interessadas em aves, em todas as atividades oferecidas pelo grupo.

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Legislação

De acordo com a Polícia Ambiental de Blumenau é crime manter animais silvestres – incluindo pássaros – em cativeiro, o que não é o caso dos dois blumenauenses que, apenas, alimentam as aves que convivem livremente nos locais. O artigo 29 da Lei de Crimes Ambientais 9.605 de fevereiro de 1998 penaliza em seis meses a um ano de detenção e multa quem matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente.