O ônibus que passa de hora em hora – às vezes menos que isso – enfrenta a subida na estrada de chão e levanta poeira que torna difícil a tarefa de manter a casa limpa. Quando chove é a lama que atrapalha a vida dos moradores da Vila Bromberg, no bairro Escola Agrícola, que esperam o transporte coletivo em um ponto que é, na verdade, somente uma placa na calçada. Receber entregas dos Correios em casa também é luxo, já que os entregadores vão só até a Rua Maria Balbina Zimmerman e acumulam na casa de algum vizinho caridoso toda a correspondência do loteamento. Moradores de mais de 200 casas que vivem sem vários direitos e não conseguem nem ter a posse completa da própria casa em que vivem.

Continua depois da publicidade

A Vila Bromberg é um dos pelo menos 155 assentamentos irregulares que a prefeitura de Blumenau reconhece na cidade. Áreas do poder público ou privadas que foram ocupadas, invadidas ou loteadas de maneira informal e nunca foram regularizadas. Formaram-se, cresceram e se constituíram como espaços urbanos à margem do município, com moradores que não têm, de fato, a prova da posse de seus terrenos e não são alcançados por todos os serviços públicos.

– Moro aqui há 28 anos e sempre foi uma luta. O ônibus só começou a passar em 2008, a maioria das ruas não são regularizadas e nenhum morador consegue a escritura da casa. A gente pede a pavimentação para a prefeitura e eles falam que não podem mexer pois é irregular. Financiamento para obra em casa também é impossível – lamenta Paulo Henrique Nascimento Pereira, o Paulinho, presidente da Associação de Moradores da Vila Bromberg.

O loteamento na Escola Agrícola ainda é um dos poucos que têm processos de regularização em andamento. Da lista, a prefeitura de Blumenau tem 55 áreas mapeadas (conforme o mapa) e sete projetos de regularização fundiária em curso: Vila Bromberg, Fritz Koegler, Dona Edith, Vila Jensen (Arrozeira), Vila Vitória, Vila União e Rua Vereador Romário da Conceição Badia.

– Há um esforço para terminar o levantamento dos assentamentos para mapear a real situação e completar o diagnóstico, para então ver como é possível agilizar o processo de regularização fundiária em Blumenau. É um esforço que tem que ser da prefeitura com várias secretarias, da Câmara de Vereadores e também dos moradores – destaca o secretário de Regularização Fundiária e Habitação de Blumenau, Juliano Gonçalves.

Continua depois da publicidade

Os assentamentos irregulares demonstram um lado um tanto escondido da cidade, onde uma quantia enorme de moradores vive. Não há ainda um número oficial, mas é possível estimar com o que a prefeitura já mapeou: 1.098 pessoas vivem somente nas sete áreas que já têm processos em andamento.

Recuperação de décadas de ocupação irregular na cidade

Para o engenheiro Arlon Tonolli, vice-presidente do Conselho Municipal de Habitação, é preciso unir esforços para correr atrás de décadas em que a cidade foi ocupada de maneira irregular.

– É uma situação séria e que precisa da atenção de todos. Regularizar esses assentamentos significa mais qualidade de vida e direitos para quem vive neles, e também é positivo para a prefeitura, que passa a arrecadar com IPTU – destaca.

Tonolli destaca que é um bom momento para priorizar o assunto, com um cenário favorável nacional após a sanção da lei 13.465/2017, assinada pelo presidente Michel Temer no início do mês e que atualiza e facilita a regularização fundiária no país. Em nível estadual, há também a chegada breve do programa Lar Legal em Blumenau, organizado pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina e que facilita a regularização de imóveis para famílias de baixa renda.

Continua depois da publicidade

Outra saída encontrada pelo poder público para tentar agilizar a solução em loteamentos é o decreto de Zona Especial de Interesse Social, que já atinge 17 dos 55 assentamentos mapeados e ajuda a dar prioridade aos trâmites. O objetivo é não tornar os processos tão morosos e cheios de gargalos, como o da regularização do Horto Florestal, no bairro do Salto, que demorou mais de 20 anos para sair. O caminho, segundo a prefeitura, é unir esforços entre as secretarias e com a Câmara de Vereadores.

– É importante centralizar os processos em uma secretaria e trabalhar em conjunto com a Habitação, com a Faema, e atuar com o Legislativo para simplificar a lei municipal. Se houver vontade é rápido, o processo não pode ficar parado dentro da prefeitura por anos – dispara o secretário de Regularização Fundiária, Juliano Gonçalves.

Lado habitacional precisa ser trabalhado

Na Câmara de Vereadores foi formada uma frente parlamentar para começar os debates que o Executivo espera. Presidido pelo vereador Adriano Pereira (PT), o grupo tem como objetivo a transformação da questão de regularização fundiária em uma política pública no município, que dure além das gestões. Para o parlamentar, é importante estruturar a Secretaria de Regularização Fundiária com equipe técnica que qualifique os estudos e diagnósticos dos assentamentos.

– Tem que tratar o assunto com seriedade, pois gera uma série de dificuldades para os moradores. Tem que retomar a regularização, está devagar e quase parando, assim como a situação das ruas de placa amarela. A legislação também precisa avançar para desburocratizar o processo – diz o vereador.

Continua depois da publicidade

Muitos dos assentamentos mapeados pela prefeitura podem ser regularizados e manter os moradores, mas outros ficam em áreas de risco ou propriedades em situações jurídicas e, em algum momento, quem ocupou terá de ser realocado. Por isso a regularização fundiária também é um problema a ser tratado com a questão habitacional.

Nesse sentido, o município conta com condomínios do programa Minha Casa, Minha Vida em fase final de construção. O Residencial Progresso foi entregue em novembro do ano passado e o Residencial Tribess – considerado um modelo – recebeu moradores no fim do mês passado. Segundo o secretário Juliano Gonçalves, os outros quatro condomínios em construção já estão 99% prontos e aguardam apenas detalhes burocráticos. Os residenciais ficarão na Itoupavazinha e no Fidélis e somam 208 novas unidades.