Moradora da Lagoa da Conceição, em Florianópolis, há mais de 30 anos, Vera Maria Barth não só amava o lugar onde vivia como também era uma referência para a comunidade. Generosa e batalhadora, a professora de educação pública, que não mediu esforços para auxiliar os vizinhos atingidos pelo rompimento de uma lagoa artificial da Casan, em 25 de janeiro, morreu por complicações do coronavírus na madrugada de terça-feira (6), um mês após o diagnóstico.
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Conhecida como uma pessoa caridosa e pelo envolvimento nas lutas contra injustiças, Vera não encontrou leito de terapia intensiva (UTI) disponível em Santa Catarina e foi transferida a um hospital do Rio Grande do Sul, após esperar pela vaga por mais de uma semana. Os gastos do transporte aéreo foram custeados por seus familiares, esperançosos por sua recuperação.
Segundo o filho, Luciano Barth Vieira, Vera teve o resultado positivo para Covid no 5 de março, um dia após comemorar seus 69 anos. Cinco dias depois, com sintomas se agravando, ela foi internada na UPA, porque não havia vaga nos hospitais. No dia 14 de março, precisou ser intubada:
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– Ficamos uns oito dias esperando por vaga em UTI, com ela intubada na UPA, que por sorte tinha um respirador, mas a lista é muito dinâmica e mudava a posição dela o tempo todo. Então fizemos uma vaquinha para pagar o transporte e ela foi transferida para o RS, onde havia leito.
Um mês antes do diagnóstico de Covid, Vera atuava ativamente na arrecadação de mantimentos e na organização das doações aos vizinhos que perderam tudo devido o rompimento da barragem da Casan. Também foi Vera quem lembrou de um morador que estava debilitado e sozinho, enquanto a casa inundava no dia em que o bairro alagou.
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– Ela lembrou que esse vizinho tinha feito uma cirurgia há pouco tempo, que estava em repouso e que poderia estar sozinho. Ela gritou para os bombeiros, que foram verificar. Quando chegaram à casa, ele estava sobre o sofá e só com a cabeça pra fora. Poderia ter morrido no local, não fosse ela – orgulha-se o filho, que tenta se conformar com a perda.
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Atingida pela água que inundou a Lagoa da Conceição, embora sem muitos danos na casa em que morava, conforme o filho, Vera também integrou o Movimento dos Atingidos por Barragens. O grupo também lamentou o ocorrido em nota de pesar:
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“A dona Vera foi uma mulher guerreira e generosa. Sempre se colocou em defesa de uma educação publica e de qualidade e, mesmo aposentada, mantinha-se ativa. Sua solidariedade deixará marcas nos corações de todas e todos que a encontraram, e sua memória estará presente quando sentirmos o cheiro do álcool com cravo e dos óleos essenciais que a acompanharam e foram doados por ela para o cuidado com o bem estar do próximo.
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