A dona de casa Alexsandra Alexandre, de 32 anos, só tem uma preocupação: o futuro das suas crianças. Mãe de quatro meninas e dois meninos, ela descobriu o tumor maligno no colo do útero já em fase avançada em uma cirurgia do dia 13 de fevereiro. Realizado na ala de oncologia do Hospital São José, em Joinville, o resultado da biópsia saiu 15 dias depois da operação.

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Desde então, a vida da moradora de Araquari, região Norte do Estado, se resume a esperar. Como sabe que precisa fazer quimioterapia, aguarda providências da equipe médica responsável para poder iniciar o tratamento. Além disso, reclama da ausência de medicamentos de uso contínuo pelo SUS.

O posto de saúde que atende o loteamento São José, região onde Alexsandra reside, quase nunca tem médicos, segundo moradores. Alexsandra necessita de remédios de uso contínuo para o tratamento do câncer, mas, devido a falta de médicos, não consegue pegar receita.

Ela já chegou a ir três dias seguidos ao posto local e não conseguiu o receituário. A solução que encontrou foi se deslocar ao Posto de Atendimento (PA) Central de Araquari, a unidade de emergência do município. Mesmo ali, Alexsandra enfrentou dificuldades para conseguir a receita. Às vezes, não consegue.

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Quando dá sorte e encontra um médico em um dos postos, a mãe de seis filhos se depara com mais um problema: a falta de medicamentos. Ela toma dois contra dor: tramadol e codeína. Na maioria das vezes, precisa tirar dinheiro do próprio bolso.

O marido Vinicius de Jesus é quem a apóia nessa hora. Garçom de uma lanchonete do Centro de Joinville, ele chega a gastar R$ 60 por semana para comprar os medicamentos de Alexsandra.

Ela sente muita dor, por isso, as cartelas duram, em média, uma semana. O pai de família, que trabalha dez horas por dia, chega a desembolsar R$ 240 mensais só em medicamentos.

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-O que o Estado deveria fazer, eu faço, para não perder a minha mulher. E ainda tenho seis filhos para sustentar-, desabafa Vinicius.

Como o câncer se espalhou para a virilha e perna, a principal angústia de Alexsandra é o início da quimioterapia. No dia 30 de abril, ela tinha uma consulta no posto de atendimento médico (PAM) do Boa Vista, em Joinville, que foi desmarcada por cair na véspera do feriado do Dia do Trabalhador.

Até agora, a dona de casa não recebeu resposta sobre a nova data de exame. Em alguns momentos, a mãe confessa pensar em “jogar a toalha”.

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-Enquanto isso, fico sem saber se meu problema alterou. E a gente sabe que câncer nessa fase precisa ser tratado com rapidez. O que me preocupa são as crianças. Eu espero mais agilidade no atendimento-, exige Alexsandra, que atualmente pesa 42 quilos e tem dificuldades para andar até curtas distâncias.

Funcionários cobram mais investimentos

O PA Central de Araquari passou por uma vistoria em conjunto pelo Ministério Público, Conselho Regional de Enfermagem (Coren) e pela Vigilância Sanitária Estadual, em abril deste ano. Na inspeção, foram identificadas muitas irregularidades.

Entre elas, ausência de manutenção dos aparelhos de ar-condicionado, infiltrações, paredes mofadas, mesas enferrujadas, salas sem ventilação, arquivos desorganizados e em locais inadequados e falta de limpeza e organização.

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O PA conta com três enfermeiros e seis técnicos em enfermagem, que se revezam no atendimento. Segundo o Coren, o número é insuficiente. O ideal seriam cinco enfermeiros e 15 técnicos para dar conta da demanda. A vistoria não fala da presença de médicos.

Procurados pela reportagem, funcionários do PA Central de Araquari – que preferem não se identificar – admitem a necessidade de maior investimento em equipamentos, medicamentos e mais funcionários.

Além de pronto-atendimento, o estabelecimento funciona como unidade de especialidades médicas e posto de saúde local, que atende todo o Centro do município. A vistoria realizada pela Vigilância Sanitária considera isto um excesso de atribuições.

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Os profissionais do PA Central também apontam a urgência de torná-lo uma unidade 24 horas devido ao aumento da demanda e por ser o único posto de emergência na cidade.

O horário de funcionamento do local é das 8 à meia-noite. Em situações de emergência durante a madrugada, moradores precisam se deslocar para outras cidades, como São Francisco do Sul e Joinville.

O posto conta com duas ambulâncias, que dispõem de profissionais para o atendimento. Porém, é o Corpo de Bombeiros que costuma socorrer em casos de emergência, de acordo com moradores e os próprios bombeiros. Não há Samu na cidade.

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Prefeito admite necessidade de posto 24 horas

O prefeito de Araquari, João Pedro Woitexem (PMDB), declara estar ciente da vistoria no PA Central, porém diz que não recebeu nenhum documento oficial.

Ele reconhece a necessidade de um posto 24 horas no município, mas afirma que o entrave é uma lei federal que impede a criação deste tipo de unidade em municípios com menos de 50 mil habitantes.

A população estimada de Araquari é de 29.593, segundo o último levantamento do IBGE, em 2013. O prefeito, porém, nega a falta de médicos e remédios nos postos de saúde.

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-O município gasta entre 21 e 22% em saúde. O obrigatório é 15%. Mas a demanda é grande. Cheguei a tirar recursos de outras áreas para atender à saúde, como pavimentação e a Araquari Fest-, revela Woitexem.

A Secretaria de Saúde de Araquari alega que há 32 médicos distribuídos pelos nove postos. Quanto aos medicamentos, a falha ocorreu devido a um atraso na licitação com a Amunesc, que fornece os remédios com desconto, mas a situação já está sendo contornada.

O órgão também admite a necessidade um posto de 24 horas, mas, além do número de habitantes, afirma que é necessária a ajuda do Ministério da Saúde. O PA tem um investimento mensal de R$ 380 mil. Para funcionar 24 horas, necessitaria de R$ 800 mil.

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