Nelson Bueno nunca existiu. Ele foi enterrado em uma cova do Cemitério do Perus, em São Paulo. Seu nome está lá. Morreu em 1972, dizem o túmulo e o registro oficial do Cemitério. Ele nasceu assim que seu corpo morreu.
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Em vida, foi Luiz Eurico Tejera Lisboa, o Ico. Nasceu em Porto União, no Planalto Norte de Santa Catarina, passou pelo Rio Grande do Sul e, depois, por São Paulo, onde atuou como um dos integrantes mais ativos da Aliança Libertadora Nacional (ALN).
Quatro décadas depois, seu nome volta à cena pela papelada da Comissão Nacional da Verdade (CNV). Ele e outras 43 pessoas são considerados “suicidados” da ditadura militar.
Os integrantes da comissão identificam os casos como de opositores assassinados pelo regime, mas cujos laudos necroscópicos e outros registros oficiais, como fotografias do corpo da vítima, apontam inconsistências que indicam que as versões criadas pelo governo de então eram farsas.
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Uma equipe de peritos que faz parte do grupo de trabalho Graves Violações de Direitos Humanos está auxiliando a CNV na elaboração de novos laudos.
Dos 44 casos de suicidados, 18 deles têm laudos necroscópicos com fotografia do corpo, do local ou de ambos. Todos estão sendo periciados com novas tecnologias e por um grupo de estudiosos, que avalia cada detalhe.
Um dos casos mais emblemáticos é o do catarinense Luiz Eurico. Ele morreu com um tiro na cabeça no bairro da Liberdade. Há laudos e exames, com fotos. Três peritos – Celso Nenevê, Pedro Luis Lemos da Cunha e Mauro José Oliveira Yared – já analisaram os documentos do caso de Ico e encontraram inconsistências.
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Para a Comissão Nacional da Verdade, houve uma farsa.
Com a morte de Ico, nasceu Nelson Bueno. Mais de 40 anos depois, morre a farsa de um suicidado.