O morador de Garuva, Marcelo Murilo Leite, de 25 anos, encontrou uma forma de transmitir leveza e gentileza pela vizinhança da cidade do Norte de Santa Catarina. Em forma de origamis, Marcelo distribui mensagens de motivação desde fevereiro de 2020 nas caixinhas de correio.
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A inspiração surgiu em um momento de ápice, extremamente difícil, enfrentado por Marcelo. Durante muitos anos ele sofreu bullying na escola. As ações violentas levaram a consequências traumáticas nos anos seguintes. Em 2019, ele chegou a tentar tirar a própria vida.

– A ideia [dos origamis] surgiu na cama da Unidade de Pronto Atendimento. Passei quase dois dias dormindo, quando acordei, veio esse pensamento, de, alguma forma, falar mais sobre saúde mental e bullying nas escolas – contou Marcelo em entrevista ao portal G1.
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10 mil peças de papel

Marcelo já contabilizou 10 mil peças feitas por ele. A arte do origami é tradicionalmente japonesa. São dobraduras geométricas de papel as quais formam representações de objetos sem que seja necessário cortes ou colagens.
Segundo o morador, essa é uma forma de levar esperança durante o momento difícil pelo qual todos estão enfrentando com a pandemia.
– Eu já recebi mensagens de que as coisas que eu faço melhoraram o dia da pessoa. São palavras que me dão mais força para continuar – destaca.
Ele se inspirou em letras de músicas para escrever as mensagens. As canções são as mesmas que serviram de conforto para ele no momento em que enfrentava bullying na escola.
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Trajetória escolar violenta
Durante o período em que estava na escola, Marcelo enfrentava constantemente episódios de bullying. Ele relata que o período mais delicado foi entre o nono ano do ensino fundamental e o terceiro ano do ensino médio.
– No início me excluíram, eu chorava todos os dias porque não tinha amigos, eu não entendia o porquê daquilo. Eles me chamavam de aberração, esquisito. Sofri agressões físicas e psicológicas. Sempre achavam uma maneira de me humilhar. Lembro até hoje das risadas que eles davam quando eu apresentava algum trabalho – relembra.
Por conta de uma situação de saúde que o pai enfrentava, Marcelo preferia não falar em casa sobre o que acontecia na escola.
– Eu não contava o que estava acontecendo por conta que meu pai estava passando por um momento delicado, ele sofreu um infarto e fazia hemodiálise, minha mãe cuidava dele, eu não queria ser mais uma preocupação, por isso não falei nada, guardei isso só pra mim – conta.
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“Fiquei de cara com a morte”
Em 2012, quando conclui os estudos, ele permaneceu enfrentando as consequências dos atos violentos e de humilhação. Marcelo acabou desenvolvendo ansiedade e depressão, não tinha desejo de conviver com pessoas e frequentemente sofria com pensamentos de menosprezo sobre a própria existência.
Ele tentou tirar a própria vida, mas foi resgatado por bombeiros e encaminhado ao hospital. Marcelo recebeu diagnóstico de depressão profunda e transtorno bipolar e precisa fazer uso de medicamentos controlados.
– Até hoje me pergunto como eu consegui sobreviver, fiquei com um problema de coordenação motora por um período longo, tive convulsões e fiquei de cara com a morte. Nunca consegui compreender que prazer se pode ter ao magoar alguém – completa.
O desejo de Marcelo agora é estender a ação às escolas assim que a pandemia acabar, especialmente na unidade onde estudou. Marcelo pretende voltar ao local para realizar palestras sobre as consequências desse tipo de violência.
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Ele defende que as instituições não podem tolerar esse tipo de situação.
– Não se cale e não tenha medo. Falar é a melhor solução, não é só uma frase clichê. Se eu tivesse falado mais sobre o que eu estava sentindo na época, não precisaria passar por tudo isso. É algo que às pessoas escondem, por acharem que é fraqueza, ninguém sabe o que se passa pela cabeça de outra pessoa, sempre devemos ser gentis – aconselha.