Como você se imagina ao completar cem anos? É tarefa difícil para a mente, sejamos honestos. Na melhor das hipóteses, é possível desejar ser como o Domingo Jose Tamasia, um brusquense que há 36 anos tem como refúgio a Vila Itoupava, em Blumenau.

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Neste domingo (26) ele completou 10 décadas de vida. Chega ao centenário com mais disposição que muitos jovens. Para quem não acredita, basta vê-lo cuidando das plantações e pedalando, atividade diária para quem não dirige.

É verdade que hoje ele faz isso mais para manter o corpo e a mente ativos do que propriamente por necessidade. Mas é preciso reconhecer o quanto batalhou para criar os nada menos do que 12 filhos.

Do engenho de farinha à manutenção das estradas do bairro Garcia, construiu a vida pautado em apenas uma regra: comer e beber apenas o necessário. Os excessos é que prejudicam, garante o “seu Zé”, como é chamado pela família.

Amor e carinho são as únicas coisas liberadas em doses ilimitadas, defende. Assumido namorador quando jovem, ele está no terceiro casamento. Bernardina, 84 anos, é sua paixão há 34 anos.

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Na vida é assim: para ganhar carinho tem que dar carinho. O amor tem mais força que uma parelha de cavalos – diz Tamasia.
Bernardina é a terceira esposa de José
Bernardina é a terceira esposa de Tamasia (Foto: Patrick Rodrigues)

O devoto de São Domingos admite que quando tinha 40 anos jamais imaginou que alcançaria a idade celebrada neste domingo. É compreensível se considerar que em 1940, por exemplo, a expectativa de vida de um homem era de 42,9 anos, segundo o IBGE.

Atualmente, seu Zé faz parte de um grupo seleto. De acordo com o último censo, Santa Catarina é lar de 405 pessoas que ultrapassaram a marca dos 100 anos. Na época do levantamento, feito em 2010, eram 126 homens e 279 mulheres.

Sim, acredita-se que elas vivem mais porque se cuidam mais. Aí Tamasia não foge à regra. Ele não é muito fã de visitar os médicos, mas garante que a saúde está boa. A rotina inclui apenas um remédio para o estômago. Fora isso, só aproveitar os dias.

Provavelmente os números da população idosa do Estado hoje são outros. Entretanto, ter tempo de vida esbanjando disposição física e lucidez não é para qualquer um. Contraria aquela cena típica de uma pessoa de pijama repousando na poltrona.

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Ficar deitado no sofá não faz parte da programação do aposentado. Ele acorda às 8h e só vai parar na hora de ir dormir. A família conta que se rolar um passeio então a felicidade está completa. Para ser melhor, só se for de avião, uma das modernidades que seu Zé aprova.

Aliás, é um entusiasta dos avanços tecnológicos. Não tem celular, admite, mas pontua o como a vida ficou mais fácil. Não precisa mais de tanto esforço para cortar uma árvore com a chegada das motosserras.

Hoje em dia está muito bom de se viver. Agora eu vou dizer uma coisa: o que você pode aproveitar hoje, não deixa para amanhã – aconselha o centenário.

A chave do sucesso

Em 2050, a expectativa é de que no Brasil existirão mais idosos do que crianças abaixo de 15 anos, fenômeno inédito, aponta o IBGE. Se a longevidade não é mais um desafio, com o que se preocupar? O médico geriatra Roberto Esmeraldino diz que o desafio agora é chegar bem à velhice. Ainda é exceção quem alcança os 100 anos como seu Zé.

Segundo o especialista, 30% da saúde ou doença de uma pessoa é genética, aquilo que se herda dos pais. Os outros 70% são reflexo dos hábitos de cada um ao longo da vida. Alimentação, hidratação, exercícios físicos e propósitos de vida são alguns dos tópicos elencados por Esmeraldino como fundamentais para envelhecer de forma saudável.

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Para a OMS (Organização Mundial da Saúde), saúde é o bem-estar físico, psíquico e social. Eu acrescentaria ainda o bem-estar espiritual – reforça o médico ao reiterar também a necessidade de manter boas relações familiares.

Especialista no cuidado de idosos, ele conta que se tornou mais comum ver pessoas com 80 e 90 anos nas mesmas condições de Tamasia, mas aos 100 ainda é raro. Ele acredita que isso deve se tornar mais frequente em uma ou duas décadas.

Além disso, se mostra otimista quanto às novas gerações. Com mais informações e meios de prevenção – cenário diferente do que quando seu Zé nasceu, as pessoas têm a possibilidade de se cuidar melhor de si.