O braço ferido resiste. O homem segura a arma mesmo com o vão aberto pouco antes do cotovelo. O soldado avança, apesar do colega que cai ferido à frente. E outro soldado segue empunhando a baioneta. Os quatro voluntários da Guerra do Paraguai seguem a batalha em uma guerra que não é mais para definir um pedaço da fronteira oeste do país com os paraguaios. Desde a inauguração em 1965, o grupo armado com ferro e moldado em concreto luta com o tempo.
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Entre o Itajaí-Açu, que os trouxe da Alemanha, e a Rua XV de Novembro, os quatro soldados do Monumento dos Voluntários da Pátria que representam os 77 soldados que saíram e Blumenau para lutar no Paraguai em 1865 já não podem fazer nada.
Desde a inauguração da obra de Miguel Barba, a promessa era de que o cimento fosse apenas o molde provisório, antes do bronze definitivo. Permaneceu. E resta aos quatro homens de cimento esperar, imóveis, que a cidade os salve antes que se desfaçam.
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Apesar da limpeza das praças, não há política pública para conservar estátuas ou bustos com relevância histórica em Blumenau. Assim, mais nove esculturas expostas em praças da área central da cidade seguem deteriorando. A Fundação Cultural de Blumenau não tem um levantamento das obras fixadas em praças.
_ Não temos uma política pública estabelecida. Quando vemos algo, solicitamos limpeza. Não temos equipe ou fundo para este tipo de trabalho _ alega o presidente da Fundação Cultural, Sylvio Zimmermann.
Zimmermann afirma que as secretarias de Planejamento Urbano (Seplan) e de Serviços Urbanos (Sesur) são responsáveis pela manutenção destes monumentos em espaços públicos. Segundo lista da Seplan, a cidade possui 21 monumentos.
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Deste total, 15 representam personalidades históricas. Mas a relação não inclui peças como o busto de pedra e nariz remendado do Marechal João Baptista Mascarenhas de Moraes, na Praça da Fonte, ou o bronze de Alwin Schrader num pedestal trincado da Via Projetada 72 (Rua do Blumenau Esporte Clube).
A lista da Seplan inclui a escultura do garoto que representa todos os alunos da cidade, na Praça dos Estudantes. Porém o dedo que indicava o rumo das revoluções próprias da juventude está decepado. Não se sabe se por vandalismo, acidente ou falta de cuidado.
Em frente à Delegacia Regional, não há como saber o que representa a escultura escondida pela sujeira e sem qualquer placa de identificação. É o Monumento à Mãe, idealizado com participação do poeta Lindolf Bell, esculpido por Mário Avancini.
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Na Praça Fritz Müller, a grama está aparada e as calçadas varridas. Mas se o naturalista sentado no pedestal de frente para a Rua São Paulo pudesse falar, o que contaria sobre um dos espaços que o homenageia?
_ É gente se agarrando, brigando… já fizeram até feijoada debaixo dessa estátua. É vergonhoso não deixarem nem uma luz para o Dr. Fritz Müller. Se não tem dinheiro para lâmpada, poderiam colocar pelo menos uma velinha _ critica Eronildo da Silva, taxistas da praça.
Com a mão direita enfurnada nas barbas, Fritz Müller talvez pense num jeito de colocar em prática o título de ‘Príncipe dos Observadores’ que recebeu de Charles Darwin, mesmo ali, sem nenhuma lâmpada no entorno para iluminar as noites.
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