Na manhã deste sábado, o aposentado Valmir Nicácio de Almeida, de 78 anos, espiava uma movimentação fora do comum da janela de sua casa, que fica ao lado da Igreja Nossa Senhora do Monte Serrat, na comunidade de mesmo nome, em Florianópolis. Com um sorriso largo no rosto, ele acompanhou o trabalho de cerca de 100 voluntários que pintavam as paredes da igreja, da Informa Anastácia – a Central de Oportunidades da comunidade, do Centro de Voluntariado e da casa de seu amigo: padre Vilson Groh.
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— Eu só não ajudo porque estou de muletas — berrou ele da janela, aos risos.
Valmir, nascido e criado no então Morro da Caixa (hoje Monte Serrat) é da mesma família de duas lendas da comunidade, dona Uda Gonzaga, ex-professora e ativista social, e primo de João Ferreira de Souza, o reconhecido Teco.
— Não vai mais existir pessoa como o Teco. Ele fez de tudo pela comunidade. Tudo aqui foi conquistado através de muita luta. Nós mesmos que calçamos a rua, por exemplo. O pessoal chegava do trabalho e ajudava no calçamento. Em cada casa, recebíamos uma xícara de café e bolachas como forma de agradecimento. Para você ver como o povo era unido. Aí brigamos por ônibus, asfalto, coleta de lixo, e cada vez mais, precisamos lutar por emprego — contou o aposentado.
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Neste sábado, Valmir viu parte de suas lutas terem continuidade com o Monte Serrat Cor, iniciativa capitaneada pelo vizinho padre Vilson. O aposentado viu paredes ganharem cor pelas mãos de voluntários que vieram de outras cidades, bairros, e também por colegas da própria comunidade. Emocionou-se com a revitalização do Monumento da Caixa d´Água, datado de 1909, e, finalmente, vibrou quando a caçamba de lixo que ficava em frente à sua casa, que tanto o incomodava, ser recolhida pela Comcap.
— É a primeira vez que recolhem a lixarada no sábado. Antes, deixavam acumular de sexta até segunda, e não dava nem para passar em frente por causa do cheiro e das moscas. Tudo isso que estão fazendo é maravilhoso — diz ele, satisfeito.
Futuro melhor como objetivo
O projeto funcionou neste fim de semana da mesma forma que o Mocotó Cor e contou com patrocínio de empresas da região. E muito mais do que dar cor e alegria à localidade, pretende-se, com esta ação, quebrar barreiras e criar pontes, bem como explica o padre Vilson.
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— O objetivo é explorar o capital social do morro, integrar ele com o Centro. Precisamos derrubar esse muro. E aí, um projeto como esse, facilita a criação de pontes. Esta iniciativa nos mostra que isso é possível. O povo que veio aqui hoje pode vir aqui depois para ouvir um samba, comprar um artesanato, comer uma comida típica. Essa é a grande ação: sensibilizar de que estes espaços são ricos culturalmente e que podemos nos integrar. E sem dúvida esse é o caminho para a juventude dessa comunidade — avalia o padre.
Confira no vídeo mais sobre a ação, nas palavras do Padre Vilson:
“Monte Serrat Cor” reúne cem voluntários na comunidade do Maciço do Morro da Cruz
As cores do Monte Serrat foram criadas por várias mãos, e de várias idades. A moradora da localidade e professora, Maria Aparecida da Silva, 46, levou a neta, Nathalia Ferreira Santos, de sete anos, para colocar a mão na massa também. Lá, encontraram o amiguinho Gustavo Demari Mendes, de apenas seis, que não se intimidou com as latas de tintas, pincéis e rolos.
— Eu estou achando essa ação muito importante. Valoriza as pessoas, a comunidade. Integra com os demais — avalia Maria.
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Integra de tal forma, que teve gente que veio do Sul do Estado, lá de Imaruí, somente para participar. É o caso do trabalhador da área de construção civil, Célio Lúcio Lino, 51.
— Participei uma vez do Mocotó Cor e vi a importância em ajudar. Só vim à Floripa por causa do projeto. Vi que com pouco, a gente pode fazer muito — exemplificou o trabalhador.
Próximos passos
O Monte Serrat Cor deve ter ainda uma segunda edição neste semestre, onde o centro voluntariado será ampliado para receber mais cursos profissionalizantes para os jovens do bairro. Já há uma parceria com uma pizzaria da cidade, por exemplo, que usará o espaço para formar pizzaiolos, e em seguida, já empregá-los.
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O Monumento da Caixa também ganhará um mirante nesta segunda edição. O espaço, que agora foi limpo e recebeu pintura, deve virar um novo ponto turístico da Capital com a iniciativa.