Nesta terça-feira, a Feira do Livro de Joinville conta com a presença da Monja Coen. A missionária, fundadora de uma comunidade zen budista no Brasil, é famosa por seus livros em que ensina como o budismo pode ajudar a superar desafios e pensamentos negativos. Seu livro mais recente é “O Sofrimento é Opcional” e era uma das publicações que, ao serem compradas em um estande da Feira de Joinville, dava direito à palestra que ela oferece no Teatro Juarez Machado às 19h30 — evento que teve ingressos esgotados mais de 24 horas antes de seu início.

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Além da Monja Coen, a Feira do Livro de Joinville recebe também a escritora mineira Conceição Evaristo. A autora, premiada por sua obra pautada pela “escrevivência”, como ela chama o seu tipo de escrita nascida da experiência de vida, conversa com o público no palco principal do Expocentro Edmundo Doubrawa respondendo à pergunta: existe uma “escrita dos negros”? A palestra dela ocorre às 19 horas.

Nesta quarta-feira, Conceição retorna para a Feira e terá seu momento às 9h15, com a palestra “Que histórias os negros têm para contar?” e sessão de autógrafos em seguida.

Confira a entrevista com a Monja Coen:

AN – Esta é a sua terceira vez em Joinville. Como é retornar à cidade, agora para a Feira do Livro?

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Monja Coen – É uma alegria estar em Joinville, uma cidade tão bonita e tão trabalhadora. Foi muito bom estar aqui e participar da Feira do Livro, acho que feiras do livro são muito importantes para a gente divulgar pensamentos, ideias, reflexões, para provocar a mente humana a sair de um lugar de conformismo para entrar em outros espaços e ter expansão de consciência.

AN – A partir do seu novo livro, você pode nos explicar de que forma o sofrimento se torna uma opção?

Monja Coen – A dor existe, esta é uma frase de um poema do Carlos Drummond de Andrade. A dor existe, o sofrimento é extra. Você resolve se vai sofrer ou não. Por exemplo, coisas simples: “Perdi o meu celular”. Perder o celular é uma coisa que causa um certo embaraço, uma certa dificuldade. Perdi todos os meus números, meus contatos, o que faço? Eu vou resgatá-los, não vou ficar sentada chorando, dizendo “como eu sofro, isso só acontece comigo, como eu sou infeliz”. Meu pai, quando eu era criança, era engraçado: ele estava no trânsito, o sinal fechava e ele dizia “só para mim é que fecha”. E eu ficava pensando: “não, não é só para o meu pai que fecha”. Então, sofrer é isso: você pensar que é alguma coisa que é só para você, que só acontece com você, que é um castigo que você está recebendo. Dores todos nós passamos. De encontros, de desencontros, de nascimentos, de velhice, de doença, de morte. Nós temos lutos na vida, se não por pessoas que vão antes de nós, mas de sonhos, de projetos que temos e às vezes não se realizam. E temos que atravessar o luto, que é uma dor, agora eu vou sofrer em cima disso? É como se a vida nos desse flechadas e eu pusesse uma flecha em cima e ficasse apertando em cima da flechada que já recebi. Não precisa. Há bastante dor no mundo para a gente colocar mais dor em cima dela. Por isso que eu acho que práticas meditativas nos ajudam a perceber e a evitar aquela dor extra que eu vou chamar de sofrimento.

AN – Como o budismo pode ajudar a prevenir essas dores diárias e a doença do século, que é a depressão?

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Monja Coen – Ele não exatamente previne, mas ele pode ajudar a “lidar com”. O zen budismo e a meditação não previnem nem curam coisa alguma, mas nos faz perceber o que está acontecendo conosco e aonde que eu procuro ajuda e apoio. Às vezes eu posso encontrar ajuda em algum texto sagrado, às vezes eu posso encontrar ajuda e apoio com um professor, um mestre, um psicanalista, algum psiquiatra ou em algum remédio. Então, nenhuma das possibilidades está excluída. Pode ser atividade física ou sair de algum lugar onde eu estou afundando como uma areia movediça como essa história perigosa que a gente está falando hoje que é a doença do século. Ela vai nos levando para baixo, é uma tristeza que começa pequena e vai virando uma coisa imensa e a pessoa não se dá conta mais. Ela não consegue lidar mais com isso. Então, o que a gente oferece? Medite um pouco, observe em profundidade a si mesma.

Observe o que está acontecendo com você. Como que faz isso? A gente começa com uma postura correta. Às vezes uma pessoa com depressão nem da cama levanta. Então o que a gente fala: mesmo na cama, estique o corpo, mexa os pés, contraia pés, pernas, coxa, abdômen, sinta o seu corpo, mas contraia ele direitinho e depois solta de cima para baixo, e depois faz o contrário. Energiza o seu corpo. A energia plana, a energia vital não está circulando bem. Então você pode trabalhar em fazer essa energização circular. E depois tem algumas técnicas que também são usadas no que hoje se chama mindfullness, que é plena tensão. De você levantar da cama com atenção, de ter noção de onde é que eu piso, que textura tem o chão em que eu estou pisando, ou um chinelo que eu uso, quando eu vou comer eu percebo o talher que eu estou levando à minha boca o alimento, que sabores pode ter as águas.

O principal disso tudo é respiração consciente, nós não temos consciência da nossa respiração. O que faz a tristeza? Ela vai por o ombro para a frente, as costas ficam mais curvadas, a cabela cai para a frente, é uma postura de tristeza. Aí você pode começar a trabalhar o corpo, põe os ombros para trás, abre o diafragma, respira melhor, abre a janela de manhã, sente a frescura da manhã chegar até você, respira, conscientemente, de espirar, seu corpo sabe que você está espirando e ao espirar . Parece nada, sabe, mas isso é uma chave de ouro. Se a gente for capaz de fazer algumas vezes por dia, ao amanhecer, antes do almoço, no fim da tarde… alguns minutos só. De estar em silêncio com você, sentindo a sua respiração e tudo aquilo que pode ter sido estimulado na sua mente, e você chegar ao ponto zero. É o ponto onde o estímulo ainda não aconteceu.