Conforme avança o trabalho de pavimentação da Serra da Rocinha, trecho da BR-285 no Sul de Santa Catarina, o entorno também se transforma. Ao longo da rodovia, animais silvestres ganharam passagens subterrâneas para que evitem transitar no asfalto. Em sete dias de monitoramento, as armadilhas fotográficas registraram animais de três espécies, que ao utilizar as passagens seguras, minimizam os riscos de atropelamento.
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No lado catarinense da obra, que liga Timbé do Sul à divisa com o Rio Grande do Sul, são três passagens de fauna de 2,25 m² que tem entre 16 e 19 metros de extensão. Durante o monitoramento, as câmeras registraram alguns Graxaim-do-mato, Gambá-de-orelha-branca e Mão-pelada, que é uma espécie de guaxinim, utilizando as estruturas. A região tem predominância de Mata Atlântica.
Com a pavimentação da rodovia, além dos impactos sentidos pela comunidade, os animais também são afetados. O consórcio que realiza a obra tem pelo menos 20 projetos ambientais para amenizar os efeitos negativos, e um deles são as passagens para animais. Também foram implantadas duas passagens secas por debaixo das pontes, outra rota segura para os animais.
— Estudos dizem que animais demoram para fazer o reconhecimento da estrutura e utilizá-la. O monitoramento é feito para saber quais espécies estão utilizando, de que maneira, e com os dados podemos melhorar as estruturas, as cercas direcionadoras, por exemplo, que encaminham o animal, e vão costeando até a passagem — explica o biólogo Andrews Duarte da Cruz, que atua na obra.
Essa e outras atividades estão previstas no momento em que a obra solicita o licenciamento ambiental. Os locais, por exemplo, são definidos em conjunto com técnicos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).
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— O terreno é visto de cima, e assim se identificam os corredores ecológicos, que ficam normalmente perto de cursos hídricos. O hábito dos animais é buscar camuflagem na vegetação mais densa, então é preciso também fazer o plantio de árvores nativas, para que os animais não estranhem a estrutura e se sintam ambientados — avalia o supervisor ambiental do consórcio construtor, Francisco Feiten.
Atropelamento é causa de morte
O atropelamento é a principal causa de morte da vida silvestre no Brasil. O alerta é do Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE), ligado à Universidade Federal de Lavras (MG). A estimativa é que 475 milhões de ocorrências por ano.
O levantamento, iniciado em 2012, é do professor doutor Alex Bager, coordenador do CBEE. Ele cruzou dados de atropelamentos, frota de veículos por estados, artigos científicos e pesquisa de campo.
— Medidas de proteção são um excelente método de redução de impacto das rodovias e ferrovias na nossa biodiversidade — diz.
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Trânsito liberado para cadastrados
Por solicitação de moradores e empresários que utilizam a Serra da Rocinha todos os dias, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) fixou novas regras para o tráfego no local. Desde abril, o trecho da BR-285 que liga Timbé do Sul-SC a São José dos Ausentes-RS, está bloqueado em função da pavimentação da rodovia. Agora, pelo menos 50 veículos pré-cadastrados poderão utilizar a estrada, com horários determinados e somente de segunda a sexta-feira.
A obra que tem o término previsto para abril de 2020, e até lá, o trânsito deve passar por liberações e interdições temporárias.
Quando iniciar a pavimentação com placas de concreto, os horários e dias estabelecidos podem sofrer alterações. A princípio, o tráfego só estará permitido nas segundas, das 6h às 8h, e nas sextas-feiras, das 17h às 19h. O bloqueio é questão de segurança, segundo o DNIT, e por isso os usuários cadastrados que poderão utilizar a via assinarão um Termo de Responsabilidade.