Do mundo dos negócios para o budismo. Depois de exercer cargos gerência e até direção em empresas, o homem de negócios Petrucio Chalegre se tornou Monge Genshô. O sucesso não era suficiente. Ele é “vazio de significado”, conforme descobriu Genshô, que resolveu seguir o Budismo, que para ele promove “a libertação do homem das suas ilusões”. Hoje, o monge presta consultoria às mais diversas empresas.

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A própria experiência de vida fez com que ele aprendesse a conciliar a competitividade do mercado e a espiritualidade profunda. O aprendizado se tornou ensinamento, que o Genshô compartilha em palestra neste sábado, em Joinville. Para o colocar em prática os ensinamentos, domingo é dia de meditação no Monte Crista. Antes de cumprir os compromissos na cidade, o monge empresário fala sobre sua experiência para os leitores do Jornal A Notícia.

A Notícia – Por que você decidiu se tornar monge?

Monge Genshô – Fui durante toda a minha vida um executivo. Fui diretor de empresas de grande porte. E ao longo dessa vida procurava também de significado. Porque não foi uma questão de sucesso ou não na vida civil. mas sim o fato de que o sucesso, no fim, parece vazio de significado. E por causa disso eu acabei me tornando um monge. Mas por que um monge budista? Porque sendo uma pessoa com a mente muito cética e racional, as religiões baseadas em fés não conseguiam me atrair. Então, quando eu conheci o budismo ele me pareceu fascinante por causa desse aspecto.

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AN – Como surgiu a proposta de conciliar a competitividade do trabalho com uma vida espiritual profunda?

MG – Surgiu justamente por causa da minha história. Porque eu continuei trabalhando como consultor de empresas, até hoje. Então eu estou inserido no mundo dos negócios. E a pergunta constante que as pessoas fazem é se é possível trabalhar no mundo competitivo, e você conhece muito bem por exemplo o mundo das comunicações, e como é que ao mesmo tempo você pode manter sua serenidade, sua calma, sua paz de espírito e se dedicar a um projeto que tenha como principal objetivo ajudar as outras pessoas a escaparem do sofrimento?

AN – Essa é uma resposta simples?

MG – Ela simples, no sentido de que a gente pode dizer: sim, é possível. E complexa, se você pergunta: como? Esse como tem muitos aspectos que precisam ser considerados. Essa é a especialidade do Budismo. Como é que você se afasta dos sofrimentos causados, pelo fato de você ser humilde, de você desejar coisas, de você ambicionas e viver aprisionado num mundo onde tudo é insatisfatório. É cíclico.

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AN – O sucesso vem de uma inquietação, de um desejo. A paz seria possível nesse caminho movido pelas vontades?

MG – Na medida em que você se afasta das suas paixões. Não é o fato de desejar fazer uma coisa boa que vai fazer sofrimento, mas o fato de você desejar uma coisa e de alimentar expectativas que serão frustradas. essa frustração será o sofrimento. Então, na realidade, se você conseguir desenvolver uma profunda aceitação das coisas tais como elas vêm, a frustração desaparecerá. E isto é um treinamento mental. E Buda ensinou que o que deveríamos fazer era a fazer o bem, evitar o mal e sermos senhores de nossa mente. Este ser senhor da sua própria mente, de suas paixões, inclinações, sentimentos e emoções é uma coisa que exige um treinamento agudo, profundo e difícil. Por isso o Budismo dicas- se muito à meditação. É o principal treinamento da mente.

AN – Se o budismo pode ser definido como a busca de um caminho de libertação, de que maneira as práticas e crenças dessa religião se conciliariam com o trabalho, que muitas vezes limita e aprisiona?

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MG – Em primeiro lugar a gente tem que compreender que o Zen Budismo não se baseia em crenças. Normalmente a gente responde que ele não é uma religião de acreditar mas uma religião de despertar das ilusões. Simplesmente porque você pode fazer qualquer coisa sem alimentar crenças nem expectativas nem ilusões. Você tem que saber como ele realmente é. O que vai perturbar e levar você ao sofrimento é aquilo que você pensa a respeito, não aquilo que ele é. O trabalho é um jogo em si. Você participa dele como participa de um jogo. Se você deseja ganhar vai sofrer porque perdeu. Se tem medo de perder vai sofrer porque tem medo. Então, o sofrimento verdadeiro está na sua mente não nos acontecimentos.

AN – De que maneira o trabalho pode ser pensado a partir do que diz o Dharma?

MG – Dharma quer dizer ensinamento, sabedoria. Se você olhar na perspectiva do Dharma, do ensinamento budista, a competitividade é, como eu disse antes, um jogo. Se você for ver um jogo de futebol e tiver uma grande paixão pela sua equipe e quiser que ela ganhe muito, você vai sair ou eufórica ou triste, dependendo do resultado do jogo. Mas se você compreender que ele é um jogo e com o jogo ele tem por natureza derrota ou vitória, então não tem nenhum sentido nem você se alegrar nem se entristecer, porque essa é a natureza dos jogos. De novo, exatamente como um jogo de futebol, a sua visão da vida, do trabalho estão condicionadas aos óculos que você coloca quando olha para eles, ou seja, às suas crenças, à maneira como sua mente funciona.

AN – Em que ponto o caminho ao sucesso e ao Nirvana se encontram? Seria esse o segredo para conciliar ambos?

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MG – Nós temos que entender em primeiro lugar que o Nirvana não é um lugar. O Nirvana é esse estado de uma mente que não é arrastada pelos ventos das paixões. Então, o Nirvana está aqui agora. Assim como o céu está aqui agora, o inferno está aqui agora também. Depende de como você está olhando para ele. Então, tudo começa na sua perspectiva mental. E a sua perspectiva mental é aquilo que o budismo tenta alterar. A solução está toda dentro de você. Não está fora. Não existe ninguém fora que vai resolver as coisas para você abençoá-la, salvá-la nem nada disso. Todas as soluções para o budismo estão dentro do próprio ser.

O QUÊ: Palestra com o tema “Espiritualidade e trabalho”

QUANDO: sábado, das 19 às 20h30

ONDE: Terraço Center, rua Mário Lobo, 61, 15 ° andar, Centro, Joinville.

QUANTO: R$ 20. Com vagas limitadas. Adesão antecipada pelo email zenjoinville@gmail.com ou pelo telefone (47) 9744-9838. No local dependendo da disponibilidade.

O QUÊ: Zazenkai

QUANDO: dia 26, das 11 às 18 horas.

ONDE: Monte Crista (www.montecrista.org). Estrada Monte Crista, s/n – Bairro Três Barras. BR 101 entre o Km14 e o Km 15.

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QUANTO: R$ 70 (almoço e café da tarde inclusos). A cobrança pelas atividades é estritamente para cobrir custos de aluguel dos locais dos eventos, hospedagem, alimentação e transporte.