Os momentos vividos na Arena Joinville ainda estão na lembrança de três personagens ouvidos por “A Notícia”. Quase uma semana depois, cada um deles tem sequelas diferentes do trauma vivido na arquibancada, onde torcedores do Vasco e do Atlético-PR protagonizaram uma das maiores pancadarias do ano no futebol brasileiro – a mais violenta da história do estádio joinvilense.
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“Foram cenas de terror que ainda tento esquecer”, conta Felipe
O corretor de seguros Felipe Eduardo Vieira, de 24 anos, foi para a Arena Joinville com um amigo que morou com ele em Dublin, na Irlanda, até quatro meses atrás. A ideia era ver um jogo emocionante da última rodada do Campeonato Brasileiro da Série A, com equipes lutando por diferentes objetivos na competição.
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Ele conversava no meio da torcida do Atlético-PR com o amigo que veio de Curitiba. De repente, começou a confusão, a cerca de dez metros de onde ele estava.
– Eu estava parado e não tinha o que fazer. Era muita gente correndo, uma confusão. Alguns correndo para o lado da briga, outros para o lado oposto – observou.
Nem deu tempo de Felipe e o amigo se protegerem. Quando eles perceberam, a Polícia Militar já havia entrado na arquibancada, atirando bombas de gás. Uma delas explodiu perto deles.
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O jovem é torcedor do JEC e ainda não sabe se vai à Arena neste domingo. Se decidir ir, ele promete gravar e fazer um pequeno documentário.
– Queria mostrar que Joinville é uma cidade receptiva, bem alegre. A Arena não tem nada a ver com esta história de confusão – afirmou Felipe.
“A bomba explodiu bem debaixo dos meus pés”, diz Marcos
Para o publicitário joinvilense Marcos Aurélio Schneider, de 36 anos, não é apenas na memória que a pancadaria ficou gravada. Ele tem seis pontos na perna esquerda. Uma das bombas lançadas pela PM explodiu perto de onde ele estava, causando dois ferimentos profundos e queimaduras nos pés.
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– Estava com a bandeira do Vasco em uma das mãos. A outra mão estava levantada, mostrando que não estava a fim de briga. A polícia entrou atirando e vi que tinha uma granada vindo na minha direção. A bomba explodiu bem debaixo dos meus pés – diz.
Ele caiu de olhos fechados e não sabe se pulou ou foi empurrado pelo deslocamento de ar provocado pela explosão. Só deu tempo de proteger o rosto. Ao levantar, percebeu que a perna esquerda sangrava muito.
Em meio à multidão acuada, ele resolveu buscar ajuda por conta própria. Havia uma ambulância da PM do lado de fora, mas ninguém estava atendendo. O primeiro impulso foi correr até o hospital. Um vascaíno o avisou para tirar a camisa, para não apanhar mais. O publicitário não sabe se voltará a pisar na Arena depois do que ocorreu. Ele se preocupa com sua segurança.
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“Alguns torcedores fizeram o papel da segurança da Arena”
Mais do que se proteger da briga, o metalúrgico Marcos Aurélio Espíndola de Barros, de Joinville, ficou preocupado em proteger o filho Mateus, de dez anos. Ele levou o menino para ver o jogo no domingo, mas percebeu no caminho para o estádio que havia algo errado. Em volta das famílias que estavam perto dele havia duas torcidas organizadas em fúria.
– Foi um dia de terror. Os meninos pequenos começaram a chorar. Estavam apavorados. Peguei meu filho e levei para longe. Segurei ele como pude – relatou.
Uma das coisas que chamaram a atenção do torcedor é que só havia quatro seguranças entre as torcidas na hora da confusão. O metalúrgico percebeu que o problema só não foi maior porque alguns torcedores tomaram a frente para evitar que a briga chegasse aos mais velhos, às mulheres e às crianças. Eles agiram como seguranças da Arena, disse ele.
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– Segurei meu filho e pedi pelo amor de Deus para não bater nele. Graças a Deus, a briga e a polícia foram para o outro lado – lembrou.
Mesmo depois do trauma, Marcos e o filho Mateus voltam para a Arena neste domingo, felizes.