Circulando há mais de 30 anos entre os maiores artistas plásticos catarinenses, Paulo Israel Martins, 48 anos, mora no Abraão, em Florianópolis, e tem o trabalho exposto em diferentes museus brasileiros – e até no Vaticano. Mesmo que você seja um amante das artes, provavelmente nunca ouviu falar dele, já que não assina as obras nem participa de exposições. Entre os pintores, entretanto, a realidade é diferente: Paulinho é responsável por emoldurar quadros de Martinho e Rodrigo de Haro, Hassis, Vera Sabino, Sílvio Pléticos e nomes nacionais como Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti.

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Dos dois últimos conheceu apenas as telas: Tarsila morreu em 1973 e Di Cavalcanti em 1976, quando Paulinho era uma criança. Já alguns dos outros não apenas se tornaram seus amigos como o ajudaram a virar uma referência dentro da área.

O ioguslavo naturalizado brasileiro Silvio Pléticos, por exemplo, tem uma parte considerável das obras emolduradas por Paulinho. O pintor expôs na Itália, na Argentina e em inúmeras cidades do país. Grande admirador da parceria entre os dois, Pléticos diz ter trabalhado centenas de vezes com Paulinho:

– Um bom artista calcula o efeito da moldura no quadro antes mesmo de pintá-lo. Comecei com o Paulinho quando ele ainda era jovem, mas continuo admirando seu trabalho. Ele faz a pintura ser valorizada – afirma.

Quando a artista Vera Sabino quis enviar uma pintura da Madre Paulina ao papa João Paulo II no começo dos anos 1990, não hesitou em escolher Paulinho para emoldurá-la. Como eles trabalham juntos desde o começo da década de 1980, Vera acredita que praticamente todas suas telas passaram pelas mãos do moldureiro. Além da tela que está no Vaticano, a pintora expôs na França e nos EUA, e vendeu um painel para um colecionar particular da China – tudo com o toque de seu moldureiro favorito.

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De fotos 3×4 a outdoors

Paulinho começou em uma molduraria que possuía uma galeria de artes, em Florianópolis. Depois de conquistar clientes de destaque, resolveu trabalhar por conta própria: primeiro no porão da casa da mãe, depois na parte de trás de uma loja na Rua Laurindo da Silva, e por fim, na parte da frente, onde toca o negócio até hoje.

Atualmente ele faz molduras que vão “de fotos 3×4 a outdoors”, como brinca. Para Paulinho, a principal mudança no seu trabalho é o material usado – afinal, as madeiras nobres dos anos 1980 não podem mais ser obtidas com tanta facilidade. O interior da sala onde trabalha é uma bagunça muito particular: ao mesmo tempo em que os quadros pendurados dão um tom de museu, as ferramentas espalhadas transformam o lugar numa oficina.

– Comecei a ampliar os negócios para a parte de vidraçaria, já que meu filho está se dando melhor nesta área e tem se especializado. Pensei em dar aulas para novos moldureiros e buscar auxílio, mas é dificílimo encontrar mão de obra qualificada, é um serviço muito detalhado que tem desaparecido pouco a pouco – lamenta Paulinho.