Dois anos atrás, o mês de outubro mudava a vida do coronel do Corpo de Bombeiros que, pelo voto de 2,6 milhões de catarinenses, era eleito governador do Estado. Agora, Carlos Moisés da Silva (PSL) entra em um outubro novamente marcado por votações, mas desta vez em comissões e tribunais que podem tirá-lo da cadeira conquistada em 2018. O governador vê implodir um projeto que o afastou de aliados e dos eleitores.

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As atenções estão todas voltadas para as próximas semanas e os prazos dos processos de impeachment contra Moisés e a vice-governadora, Daniela Reinehr (sem partido). Ainda não há data marcada, mas na semana do dia 14 de outubro o Tribunal de Julgamento formado por desembargadores e deputados estaduais deverá votar um relatório sobre o pedido de impedimento e, se aprovado, afastar o governador e a vice por até 180 dias para o julgamento final do impeachment.

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Se mantiver a série de derrotas que vem sofrendo nos últimos meses, Moisés pode não estar mais no cargo no fim do mês, quando comemoraria dois anos da vitória no 2º turno das eleições passadas, com 71% dos votos válidos. 

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O governador acumula derrotas em praticamente todas as frentes que encarou para tentar salvar o mandato no Executivo catarinense. Primeiro, viu uma comissão formada totalmente por opositores aprovar o primeiro relatório de impeachment na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc), onde mais tarde o prosseguimento da ação seria definido por 33 votos favoráveis contra apenas seis no lado do governador. O presidente da Casa, Júlio Garcia (PSD), se absteve.

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Agora, na última semana, viu cair por terra a tentativa de paralisar o processo de impeachment, ao questionar o rito da Alesc no Supremo Tribunal Federal (STF). Ao negar a continuidade da ação movida pela Procuradoria-Geral do Estado, a ministra Rosa Weber acabou dando mais um golpe nas defesas de Moisés. E dois dias depois, na última quarta-feira, dia 30, carros da Polícia Federal amanheceram na Casa d’Agronômica para mais um ato nessa história, investigando a possível participação do governador na desastrosa compra de 200 respiradores por R$ 33 milhões durante a pandemia.

A negociação dos respiradores, que nunca foram entregues, é o fantasma que ronda o governo de Moisés nos últimos meses. Ainda que o processo de impeachment mais avançado fale apenas sobre a supostamente irregular equiparação salarial de procuradores, o caso dos respiradores esteve presente em boa parte dos discursos dos deputados estaduais durante a votação do processo na Alesc. É também sobre a fatídica negociação o segundo pedido de impeachment que tramita atualmente no Legislativo, e que também deve ter na semana do dia 14 de outubro a votação do relatório na comissão especial de deputados. 

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Entre os que ainda apoiam Moisés, o caso dos respiradores é visto como um fato que tirou a confiança da população em relação ao governo. Mais polêmico e menos técnico que o caso dos procuradores que pode derrubar o governo primeiro, o pedido de impeachment por causa da compra dos equipamentos é visto dentro da Alesc como algo ainda menos defensável. 

Deputados ouvidos pela reportagem acreditam que, se chegar a uma votação no plenário, o segundo pedido de impeachment pode ter uma votação ainda maior que o 33 a 6 anterior.

Falta de diálogo e mudanças tardias de estratégia política

Na narrativa mais comum dentro do ambiente político que fechou o cerco contra o governador Carlos Moisés (PSL) nos últimos meses, três fatores são os mais repetidos para explicar como um governador eleito com 71% dos votos chegou ao momento atual sem apoio. Mais que uma base política rachada, Moisés encara o processo de impeachment sem ver os rostos que o elegeram, em uma ausência de manifestações em defesa do governo. 

Para muitos nomes da política catarinense ouvidos pela reportagem, a falta de mobilização se explica pela própria eleição de Moisés, motivada muito mais por um número e um apoio ao presidente Jair Bolsonaro do que pela própria figura do governador. Rachado com a base bolsonarista do PSL catarinense desde o ano passado, quando divergiu do governo federal em vários assuntos – como a taxação de agrotóxicos, por exemplo –, o governador sofre com a falta de apoio do próprio partido e dos eleitores que o escolheram como “o governador do Bolsonaro”. 

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O terceiro ponto mais citado envolve a falta de diálogo. Até mesmo quem defende Moisés admite que ele é um governador difícil de lidar, com problemas na comunicação com outros poderes, público e imprensa. Nos últimos 60 dias, vendo a situação piorar, ele teria tentado melhorar a comunicação, mas a reação tardia foi vista com receio e não ajudou a retomar a força política do chefe do Executivo. 

Olhando para frente, a política catarinense está em inércia enquanto espera os desdobramentos das próximas semanas, em votações que vão definir o futuro do governo do Estado e que, independentemente do resultado, trarão novos governos. Se o processo de impeachment continuar e o afastamento de Moisés e Daniela for consumado, o período de indefinições é estendido por meses, até um julgamento final, enquanto Santa Catarina passa por um governo provisório. 

Caso Moisés consiga reverter no Tribunal de Julgamento um placar que já começa em derrota por 5 a 0 (pelos votos anteriores dos deputados participantes) e o impeachment seja arquivado, um novo governo também deverá nascer, embora com as mesmas mãos.