O derramamento de sangue no confronto entre Israel e Hamas prossegue e milhares de pessoas sem vínculo militar têm as vidas atingidas pela guerra. ZH conversou com um israelense que vive em uma região alvo dos mísseis disparados pelo Hamas e com um palestino que foi obrigado sair da cidade onde morava, na Faixa de Gaza, por causa da incursão do exército israelense. Na entrevista a seguir, o comerciante palestino Mohanned Haloub, 38 anos, que teve que sair de casa norte do território e ir para o centro, conta é viver em uma área em conflito:

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ZH – Há muitos soldados israelenses na região?

Mohanned Haloub – Não aqui. Eles estão mais na fronteira. Eu saí da minha área por causa dos tiros e dos combates. Eu não podia ficar na minha casa.

ZH – Como e por que você saiu de casa?

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Haloub – Eu deixei minha casa, no Norte, porque o exército de Israel mandou muitas mensagens dizendo para eu deixá-la. Eles destruíram minha fazenda nos bombardeios e havia muitos tiroteios em volta da minha casa. Então, eu tinha que sair. Eles exigiram que eu saísse.

ZH – Você teve familiares ou amigos feridos?

Haloub – Parentes da minha família foram mortos. Todos da mesma família. O homem, a mulher e os filhos. Em torno de oito pessoas da mesma família. Estamos em guerra. E meu escritório foi destruído também.

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ZH – Quando você acha que a guerra vai acabar? A paz tem alguma chance?

Haloub – Talvez nós teremos alguns dias (de trégua) para ajuda humanitária, mas não sei do futuro.

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ZH – Essa é a primeira operação israelense que o senhor vivencia?

Haloub – Não, é a terceira. E eu também vivenciei em 1990 a Guerra do Golfo.

ZH – A cidade onde você estava foi destruída?

Haloub – Sobrou um pouco no chão. Um pouco, não muito. Nós podíamos viver até agora (o último conflito).

ZH – Onde você está agora tem água, comida e energia elétrica?

Haloub – Temos água, não tínhamos energia e, sobre a comida, nós armazenamos antes (da guerra) e temos utilizado até agora. E água é a do mar, dessalinizada.

ZH – E você está na casa de quem agora?

Haloub – Na casa de uns amigos (suspiro).

ZH – Você pensa em deixar Gaza?

Haloub – Não. É minha casa, minha terra, meu trabalho, minha vida. Não podemos deixar isso.

ZH – Como está o sentimento das pessoas na região?

Haloub – Todos querem ficar, mas querem viver em paz. Não querem mais problemas, estão todos muito cansados, não querem a guerra. Querem o direito de viver como humanos e não temos nada disso em Gaza. Essa guerra é pelos nossos direitos. Nós queremos direitos. Direito de sair de Gaza e retornar a Gaza. Poder comprar mercadorias de fora e enviar nossos produtos para fora. Nós estamos vivendo em uma grande prisão. Temos mar na costa, mas não podemos fazer nada no mar, não podemos pescar, não podemos explorá-lo. Não dá para pensar como era a vida antes da guerra.

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ZH – Mas como são suas lembranças de antes dos conflitos?

Haloub – Olha, minha vida foi em muitos países. Eu nasci no Kuwait, vivi na Síria por três ou quatro anos e vim para Gaza em 1994. Nessa época, a vida em Gaza era maravilhosa. Depois de 2000, começamos a vivenciar os problemas entre nós e os israelenses. Mas piorou muito depois de 2006, 2007. Passamos a não poder nos mover, trabalhar, fazer nada. Tudo piorou muito, muito. E passamos por três guerras depois disso. Mas essa guerra de agora é muito pior que a de 2008. Destruíram mais coisas aqui e estão matando mais civis, mulheres e crianças.

ZH – Obrigado pela sua ajuda.

Haloub – Tchau. Espero um dia ver você em Gaza. Não se preocupe, é um lugar muito bonito. Mas com a paz será um lugar ainda mais bonito.