O ex-governador e atual deputado estadual Leonel Pavan (PSDB) toma posse hoje como Secretário de Estado de Turismo, Cultura e Esporte (SOL). Ele é o oitavo político a assumir a pasta em seis anos. Nomes como o ex-prefeito de Florianópolis Cesar Souza Junior (PSD) e o ex-prefeito de Imbituba e empresário Beto Martins (na época PSDB, hoje PP) já passaram pela secretaria. Embora importante para o Estado, a indicação de gestores para a SOL tem sido tratada como moeda de troca em articulações políticas em vez de experiência técnica na área ser valorizada na hora da escolha.

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Com o desembarque do Partido da República (PR) do governo (sigla liderada pelo deputado federal Jorginho Mello, pai do ex-secretário da SOL Filipe Mello), a Secretaria volta para o PSDB, partido que recompõe a base do governador Raimundo Colombo.

A Secretaria da Organização do Lazer — de onde vem a sigla SOL — foi criada em janeiro de 2003. Dois anos depois, em 28 de fevereiro de 2005, passou a se chamar Secretaria de Estado de Turismo, Cultura e Esporte. Logo após a criação, a pasta se tornou uma das cotas do PSDB para compor o governo, o que levaria mais tarde Beto Martins e José Natal Pereira, na época tucanos, para a SOL. Em 2011, quando Raimundo Colombo assumiu o governo, chamou o ex-prefeito de Florianópolis Cesar Souza Junior (PSD). Desde então, nenhum dos nomes que passou pelo órgão tinha afinidade com gestão cultural.

Cumprindo expediente na SOL desde a semana passada, Pavan tem demonstrado, em declarações públicas e nas primeiras ações de trabalho, foco total no turismo. Em entrevista ao DC sobre planos para a cultura, admitiu pouca afinidade com a área e insistiu em resumir a secretaria como se fosse apenas de turismo.

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O vaivém de secretários ocorre em meio a uma crise do setor cultural: são obras inconclusas, como o Memorial Cruz e Sousa, inaugurado em 2010 quando Pavan era governador, e que nunca foi aberto ao público; e a reforma da ala norte do Centro Integrado de Cultura (CIC), ambos em Florianópolis; insatisfação da classe artística, que reclama da falta de diálogo e chegou a realizar em 2012 o Ocupa CIC, manifestação que reivindicou o respeito às deliberações do Conselho Estadual de Cultura. Outro anseio esquecido é a realização do Salão Nacional Victor Meirelles, concurso bienal criado em 1993 e voltado para as artes visuais cuja última edição foi em 2008. Há ainda os editais atrasados, como o Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura, lançado em 2009 para ser realizado anualmente e que até hoje teve apenas três edições.

Se cultura e arte tendem a ser vistas como supérfluas, vale lembrar que Paris, uma das cidades mais importantes do mundo, à época após as dificuldades do fim da Segunda Guerra Mundial, reergueu-se graças ao investimento em três setores: moda, perfume e artes. São eixos da economia criativa, uma indústria limpa e apontada por especialistas como um dos caminhos para o futuro da economia.

Não é nem preciso ir até o Velho Continente. Pernambuco, Estado menor que SC em tamanho e Produto Interno Bruto (PIB), é onde hoje se produz o melhor cinema do país. Relembre, por exemplo, a vitrine internacional dada ao Brasil com o sucesso em grandes festivais de Aquarius, filme dirigido pelo pernambucano Kléber Mendonça Filho.

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Pernambuco, além de ter uma pasta exclusiva para a cultura, conta com a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), órgão executor da política cultural por lá, e com o Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura, instituído em 2002 e hoje o principal mecanismo de fomento e difusão da produção cultural. O fundo tem modelo de gestão compartilhada que envolve a Secretaria, Fundarpe, instituições culturais e entidades representativas da classe artística.

Para se ter uma ideia do impacto do cinema na economia do Brasil, em 2014 a pesquisa Contribuição Econômica do setor Audiovisual Brasileiro, feita pela Motion Picture Association na América Latina (MPA-AL) em parceria com o Sindicato Interestadual da Indústria do Audiovisual, mostrou que a indústria cinematográfica injeta mais de R$ 19 bilhões por ano no mercado nacional, com um faturamento bruto anual de R$ 42,8 bilhões.

Segundo o estudo, em 2012 o setor foi responsável pela criação de 110 mil empregos diretos e 120 mil indiretos — e para cada emprego direto no setor, pelo menos mais uma vaga indireta é criada.

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Diante da tendência de fragilizar a potência que a arte tem em problematizar, romper, emocionar e questionar a sociedade, o novo secretário assume o cargo com a responsabilidade de destravar uma área essencial à formação da identidade do catarinense e ao turismo e economia do Estado.