Isabel Casimiro é professora de sociologia no Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, onde se especializou em direitos das mulheres e direitos humanos. Em agosto de 2017 ela esteve em Florianópolis para o Congresso Mundo de Mulheres e foi entrevistada pelo DC. Na manhã deste domingo voltamos a conversar com ela, desta vez por telefone e sobre um assunto bem mais triste. Confira:

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DC – Como está a situação em Moçambique hoje?

Isabel: Terrível. As nações Unidas, a ONU, diz que nenhum país estaria preparado para esta que é a pior tragédia humanitária no Hemisfério Sul.

O país tem dados oficiais dessa realidade?

Ainda não temos uma avaliação completa. Os trabalhos estão sendo aferidos pelo Instituto Nacional de Gestão das Calamidades e ONU. A cada dia chegam mais informações acerca das quatro províncias afetadas. Temos duas situações: populações atingidas pelo ciclone e as consequências do vento que chegou a 200 quilômetros por hora; assim como os atingidos pelas águas das chuvas que se intensificaram no final de fevereiro e começo de março.

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As notícias que nos chegam dão conta que Beira foi a cidade mais atingida?

Sim. Agora também se comenta que o ciclone fez um U, ou seja, ele existiu numa situação, e voltou dias depois para Beira, cidade à beira mar, abaixo do nível do mar e com problemas. Mas temos cidades inteiras submersas, onde só o telhado das casas é avistado. É uma situação terrível, já que algumas pessoas conseguiram escapar para lugares mais altos, como arquibancadas de campos de futebol e copas de árvores, mas não se sabe o que aconteceu com tantas outras.

Tem muita área rural atingida?

No interior a situação é ainda mais complicada de sabermos o que se passa, pois está tudo inundado e não se consegue chegar com socorro. Sabe-se que as pessoas perderam tudo: casas, cultivos, bens. Agora ainda há resgates, mas e depois? As estruturas foram todas abaladas, como hospitais, que estão sem teto.

Como está a rotina em Maputo, a principal cidade do país?

Tem havido muita solidariedade, tanto dos moçambicanos como de outros países. São 4,5 mil voluntários ajudando a abrir contas e encher contentores com remédios, alimentos, roupas. O Barco da Solidariedade partiu sábado para o porto de Beira carregando tudo isso.

Como está a ajuda internacional?

Recebemos ajuda humanitária através da ONU. Países também ajudam. Portugal mandou aviões da Força Aérea. Turquia, Canadá e Índia encaminharam equipes médicas.

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