A quem diga que as mobilizações brasileiras às ruas representam um perigo social pela interferência de grupos radicais, presentes excessos, criminosos mascarados e outros aproveitamentos ilícitos. Por certo, não se duvida, existem, sim, os aproveitadores, oportunistas, criminosos de plantão, que se valem destes legítimas manifestações para o aproveitamento indevido.

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Todavia, assim como não podemos deixar de respirar o oxigênio, em que pese a poluição, não podemos desprezar o maior instrumento da população brasileira das últimas décadas, representada pela força da legítima e necessária manifestação popular às ruas contra as diversas mazelas que afetam o país, com destaque para a corrupção nacional institucionalizada que formatou um conjunto de padrões sociopolíticos de comportamento ético adverso às formas racionais mais modernas de trato da coisa pública.

Quando espontaneamente milhares de brasileiros se mobilizam num 7 de setembro contra a corrupção, longe de uma solução mágica, verifica-se uma nova possibilidade, pautada pela consciência coletiva e pela mobilização social. Afinal, o que todos nós temos a ver com a corrupção? Mas quem sou eu para achar isso ou aquilo?

Socorro-me, pois, dos ensinamentos do maior educador deste país, que consolidou com razão espiritual: “Eu estou absolutamente feliz por estar vivo ainda e ter acompanhado essa marcha que, como outras marchas históricas, revelam o ímpeto da vontade amorosa de mudar o mundo. Essa marcha dos chamados “Sem Terra”. Eu morreria feliz se visse o Brasil cheio, em seu tempo histórico, de marchas. Marcha dos que não tem escola, marcha dos reprovados, marcha dos que querem amar e não podem, marcha dos que se recusam a uma obediência servil, marcha dos que se rebelam, marcha dos que querem ser e estão proibidos de ser. Eu acho que, afinal de contas, as marchas são andarilhagens históricas pelo mundo?O meu desejo, o meu sonho, é que outras marchas se instalem neste país. Por exemplo: a marcha pela decência, a marcha pela superação da sem vergonhice que se democratizou terrivelmente neste país. Eu acho que essas marchas nos afirmam como gente, como sociedade querendo democratizar-se”. (Paulo Freire in memoriam).

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