Bloqueios de rodovias, longas filas, crimes sem apuração e atendimentos apenas se forem urgentes atingem a população na mobilização de policiais rodoviários federais e policiais federais em Santa Catarina. Na próxima semana, a situação tende a se agravar, pois um dos movimentos não descarta radicalizar as ações como forma de protesto ao não atendimento das reivindicações.

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Os sete quilômetros de congestionamento na BR-101, na manhã de quinta-feira, em Biguaçu, na Grande Florianópolis em direção ao Norte, foram apenas uma prévia de uma cena que deverá se repetir e se alastrar para outras regiões do Estado.

Os policiais ligados ao sindicato da categoria fizeram uma operação pente-fino, fiscalizando principalmente os veículos de carga, o que gerou o engarrafamento, que durou toda a manhã.

– Vamos repetir em outros postos por Santa Catarina e dependendo até na Via Expressa (entrada de Florianópolis) – disse um policial rodoviário ao DC, antecipando que a ordem por enquanto é aguardar a decisão do sindicato.

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A paralisação da entrada e saída da Ilha de Santa Catarina corre nos bastidores dos movimentos, mas ao menos até segunda-feira não estaria nos planos dos sindicalistas. Por enquanto, afirmam que há mobilização e que a greve geral será decidida numa assembleia às 14h30min de segunda-feira, na Capital.

Na Polícia Federal, a greve entra hoje no quarto dia. Oficialmente abrange agentes, escrivães e papiloscopistas, mas delegados também apoiam o movimento. Na superintendência regional, na Avenida Beira-Mar Norte, em Florianópolis, a investigação de crimes está completamente parada, assim como a fiscalização da costa marítima e o atendimento do setor de armas.

– A gente está procurando fazer o atendimento mínimo e os casos emergenciais e essenciais. Mas não há impedimento do servidor público em fazer greve – disse o escrivão Luiz Carlos Mayora Aita, presidente do Sindicato dos Policiais Federais de Santa Catarina.

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A punição para policiais que fazem greve costuma acontecer apenas em relação aos militares, onde as corporações têm códigos próprios que preveem penalidades, o que não é o caso agora.

Um experiente delegado da PF na Capital ouvido pela reportagem avaliou a greve como preocupante por ser nacional e pelo fato de já se estender a outras categorias de servidores federais.

– O quadro que se instala é inédito internamente porque há um contexto de uniformidade e que abrange também ao mesmo tempo outras categorias de servidores federais, o que pode impactar o país – alertou o delegado.

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Entrevista: Hamilton Rodrigues, presidente do Sindicato dos policiais rodoviários federais de SC:

“Não descartamos radicalizar”

O inspetor Hamilton Rodrigues, 59 anos, sendo 38 anos na PRF, afirmou que o movimento pode se radicalizar na semana que vem no Estado. Confira os principais trechos da entrevista dada por telefone, na quinta-feira:

DC – A greve vai continuar nos próximos dias?

Hamilton Rodrigues – Não. E não é greve, é uma mobilização pré-greve. Vamos definir a greve na segunda-feira. No fim de semana ficará tudo normal em Santa Catarina. O que houve até agora foram mobilizações.

DC – Surgiu informação que farão manifestação na Via Expressa, na entrada da Ilha, com intenção de trancar as pontes…

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Hamilton – Não procede.

DC – Como avalia a adesão em SC?

Hamilton – Os policiais estão convencidos da necessidade de manifestação. Ontem definimos que iriam apenas alguns companheiros (na BR-101, em Biguaçu, na operação pente-fino). Se não houver por parte do governo o retorno às negociações… de repente vamos radicalizar mesmo, com movimento mais forte.

DC – Isso a partir da semana que vem então?

Hamilton – É. Para a gente fazer greve precisamos respaldo jurídico e um deles é a assembleia. Não descartamos radicalizar e estamos se preparando para isso.

DC – Quais as reivindicações principais?

Hamilton – São três: passar o cargo para nível superior, aumentar o efetivo que é pequeno e melhorar a condição salarial. Há postos no Oeste que trabalha apenas um policial por turno.

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DC – A mobilização com bloqueios de estradas afeta a vida das pessoas. Como o senhor vê essa condição?

Hamilton – É o que acaba acontecendo e também não acho legal. Às vezes a gente também sofre isso, com greve de ônibus. Entendemos que as reivindicações quando não são atendidas… Me parece que ele (governo) precisa disso para que comece a decidir alguma coisa. Mas entendo que é desagradável. A gente até pede desculpas pelo transtorno.