Separadas por 600 quilômetros de distância, a capital austríaca Viena e a cidade alemã Stuttgart precisaram encontrar uma solução semelhante buscando a integração dos vários meios de transporte para resolver os problemas de mobilidade. Os exemplos podem servir de inspiração para Joinville, que está a cerca de 10 mil quilômetros, mas passa por situação parecida ao que já viveram as duas cidades europeias.
Continua depois da publicidade
O carro hoje é o meio de transporte mais usado em Joinville. São 265 mil em toda a cidade, juntando-se a outros 145 mil veículos, como motocicletas, caminhões e ônibus. Com tantos veículos nas ruas, tornou-se comum ver congestionamentos, principalmente nos horários de pico. No entanto, cidades modernas e mais desenvolvidas por todo o mundo, como os exemplos citados, consolidaram um outro modelo conhecido como transporte multimodal.
Doutora em Planejamento de Transportes e Mobilidade e professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Simone Becker Lopes explica que a multimodalidade é quando existe, pelo menos, dois modos de transporte em uma cidade. O objetivo é que também aconteça a integração entre eles para que uma mesma pessoa use diferentes meios durante um deslocamento.
– Que eu possa acessar um determinado terminal usando uma bicicleta, por exemplo, e deixá-la com toda a infraestrutura e segurança para pegar um ônibus, um trem ou um bonde e seguir meu caminho. O que se busca é uma otimização dos deslocamentos e da ocupação do espaço público – exemplifica.

Como Joinville pode começar a transformação
Simone também afirma que a importância de se ter mais de um modo de transporte é porque as cidades têm características diferentes. Cada região de um município pode ter perfis e necessidades distintas, que podem ser atendidas por modais também diferentes. Por isso, a especialista sugere que Joinville comece essa transformação por um planejamento para entender qual o perfil da cidade.
Continua depois da publicidade
– A gente tem que começar a analisar quais são as características das diferentes regiões de Joinville. Temos morros, a Baía da Babitonga, os rios, então quais são os melhores meios de transporte para cá? Tem que propor algumas alternativas, simular e fazer uma avaliação a longo prazo, levando em consideração os impactos e os custos – sugere.
Após o planejamento, o próximo passo seria adotar as alternativas mais viáveis e as pessoas entenderem que os meios de transporte não devem ser concorrentes entre si. Eles precisam ser compreendidos como complementares porque é isso que se busca na multimodalidade e na integração entre modais. Todos terão espaço em diferentes regiões e situações dentro de uma mesma cidade.

Viena tem menos carros por habitantes
Quem pensa que as cidades europeias não têm problemas com mobilidade se engana. No entanto, muitas delas já conseguiram resolver vários dos problemas ao longo das últimas décadas. Viena é um desses exemplos. A capital da Áustria sofreu com o aumento desenfreado no número de carros se deslocando pelas ruas porque sempre deu incentivos para o uso do automóvel. Com isso, foi preciso mudar as diretrizes e planejar o futuro para criar uma solução mais viável, que hoje já pode ser visto por lá.
Atualmente, Viena tem 381 carros por 1 mil habitantes (são 449 em Joinville) e, de acordo os últimos dados, de 2012, 73% das distâncias percorridas pela população na cidade são realizada com transporte público, bicicleta ou a pé. Os outros 27% são com automóveis. Como o município quer melhorar o índice, o plano de mobilidade prevê que essa proporção cresça para 80% até 2025.
Continua depois da publicidade
Automóveis não acessam todas as regiões
Segundo Simone Lopes, que já estudou na capital austríaca, a cidade tem regiões em que não é possível o acesso com automóvel. Como alternativa, há outros modos de transporte para chegar a esses pontos. Um dos exemplos é o veículo leve sobre trilhos (VLT), muito parecido com os antigos bondes. Diferentemente da maioria das cidades brasileiros que já tiveram os tradicionais bondes como meio de transporte no passado, Viena manteve essa opção e a modernizou para torná-la mais eficiente e confortável.
Além disso, são usados também o metrô, o ônibus e toda uma rede integrada cicloviária. Todo o transporte público tem um bilhete único para facilitar a integração entre eles e até o próximo ano a administração municipal está fazendo um investimento de € 70 milhões (cerca de R$ 315 milhões) para expandir e acelerar o sistema de ônibus e bondes.
– Uma questão que é bem destacada no plano de Viena é transformar os pontos de transporte público em estações intermodais. É onde você consegue acessar diversos modos, ter a integração, mas também ter serviços, atendimentos e facilidades para quem usa bicicleta. Você tem lá uma oficina de bicicleta, um estacionamento seguro de bicicletas, lojas e outras coisas para manter esse local ativo e garantir a segurança –explica a especialista.

Joinville e Stuttgart: perfis parecidos e planejamentos diferentes
Com cerca de 600 mil habitantes, Stuttgart mantém um perfil muito parecido com Joinville. A cidade alemã é conhecida como um polo industrial e tem economia voltada para a engenharia mecânica. Por estar localizada em uma região com fabricantes e montadoras de veículos, ela teve grande influência dessa indústria ao longo dos anos, impactando também no grande número de carros circulando pela cidade.
Continua depois da publicidade
As limitações de relevo e da região urbana também ajudaram a sobrecarregar as vias principais. Hoje, cerca de 600 mil veículos circulam diariamente pela cidade, mas os números poderiam ser maiores se não tivessem sido realizados investimentos em transporte público na década de 1970. Esse modelo passou a ser priorizado desde então, contribuindo para uma melhor mobilidade baseada na multimodalidade.
As estatísticas de Stuttgart mostram que atualmente 25% das viagens realizadas diariamente são a pé, além de haver 500 trens e metrôs em funcionamento na cidade, transportando aproximadamente 1 milhão de pessoas por dia. Há também um sistema de veículos leves sobre trilhos, ônibus e aluguel de bicicletas comuns, elétricas e scooter.
Inclusive, há trens que têm uma espécie de plataforma para bicicletas na parte frontal. O passageiro chega sobre duas rodas, acessa o transporte coletivo e ainda pode levar a bicicleta junto para seguir o caminho após descer do trem. Há lugares também em que existe limitação de velocidade para carros, justamente para incentivar o uso de transportes ativos (como a bicicleta).
Confira as próximas reportagens:
Segunda-feira
Transporte multimodal e integração de transportes
Terça-feira
Quarta-feira
Confiabilidade no transporte público
Quinta-feira
Alternativas para novos meios de transporte
Sexta-feira
Ações para o futuro da mobilidade em Joinville
Sábado
Teste de mobilidade