Além dos Kennedy e dos Bush, os Romney são a única família a ter mais de um integrante com chances reais de se credenciar a uma temporada na Casa Branca nos últimos 45 anos. Em 1967, um close em preto e branco na TV enterrou as pretensões de George W. Romney. Carismático, mas impulsivo, ele era considerado favorito à vaga de candidato republicano à sucessão de Lyndon B. Johnson quando foi abatido em pleno voo por uma declaração sobre a Guerra do Vietnã.
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– Fui vítima da maior lavagem cerebral pela qual alguém poderia passar. Feita não só pelos generais, mas também por todo o corpo diplomático – disse, com firmeza, o abastado governador de Michigan em um escorregão imperdoável para um aspirante à Casa Branca.
Confira fotos da trajetória de Mitt Romney
George foi substituído por Richard Nixon, que entraria para a história como o primeiro presidente a renunciar ao cargo. Mas a sorte sorriu aos Romney, e o caçula de George, Mitt, tornou-se este ano o candidato do Grand Old Party (Grande Velho Partido, apelido da agremiação republicana). A entrevista do velho Romney, hoje eternizada no YouTube (http://migre.me/blZeq), serviu de lição para Mitt. O jovem de feições como as do pai, que carregava seus tacos de golfe e sua maleta, transformou-se em um adulto cauteloso, um paciente estrategista – um observador no canto da sala.
– Precipitar-se não é bom na política – dizia o pai.
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Naquele ano, Mitt passava uma temporada na França, rezando e batendo de porta em porta como missionário mórmon. Escrevia para casa, frustrado por não convencer ninguém a adotar a religião. O pai o consolava por já ter convertido a bela Ann Davies, com quem se casaria e construiria uma família de cinco filhos homens.
Antes dos 40 anos, Romney – abstêmio de álcool e cafeína – já havia ascendido na estrutura da igreja. Foi bispo e encarregado de uma “diocese” em Massachusetts. Engana-se, porém, quem o imagina vibrar diante de uma plateia de fieis. Ele preferia o aconselhamento individual.
– Ele sempre foi afável, mas bastante pensativo. Nunca foi o tipo de pessoa dominante em uma roda de conversa – descreveu a Zero Hora Ryan Englund, colega de Romney na Bain & Company, nos anos 1980. Englund o acompanhou de perto também nas atividades da igreja, e os filhos de ambos são amigos de infância.
Ao receber visitas, Mitt passava boa parte do tempo quieto se não fosse provocado, recorda-se Englund, que, em vez de Paris, serviu como missionário no Rio Grande do Sul, em Porto Alegre e Passo Fundo, na década de 1970. Quando vê o antigo companheiro nos debates, dedo em riste para Barack Obama, Englund capta sua aflição:
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– Não se enquadra no estilo dele. O pai, sim, era aquela figura convencional de um líder, aberto, solto, persuasivo.
Apesar de ser descrito como um habilidoso negociador e que ajudava as pessoas sem fazer alarde, traços impulsivos de seu DNA emergem, gerando desconforto.
– Romney raramente se desculpa. É verdade que não fez muitas coisas erradas em sua vida, mas quando fez, não se lembra delas – ironiza o jornalista Ron Scott, autor da biografia independente Mitt Romney: An Inside Look at the Man and His Politics, lançada em novembro de 2011.
Em maio de 1981, conta Scott, Romney estava prestes a dar a partida em sua lancha em um lago em Boston quando um policial viu que a licença da embarcação estava vencida. Já era autoridade na igreja e um tipo que impressionava no esqui aquático quando perdeu as estribeiras. Discutiram, e Romney tentou encerrar o assunto de forma prática – aliás, pragmatismo é a sua marca para resolver problemas, analisa Scott. Ofereceu US$ 50 ao policial e foi preso por desacato. Anos mais tarde, disse a um jornal local que era apenas uma pessoa como outra qualquer.
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Scott olha para os Romney e vê semelhanças com os Kennedy além da política (depois da morte de John, Robert Kennedy foi assassinado nas primárias de 1968). Os dois clãs atuaram em Massachusetts, têm família numerosa e unida – no caso de Romney, sem as tragédias dos Kennedy.
Mitt entrou para a política quase cinquentão. Em 1994, desafiou o senador Ted Kennedy. Perdeu, mas ganhou notoriedade. Depois, compôs parceria com Ted para divulgar a construção de um templo mórmon – na primeira de uma série de jogadas políticas habilidosas que o levaram bem além de George.