Segundo estudo publicado pela revista científica The Lancet, o número de crianças e adolescentes de 5 a 19 anos obesos em todo o mundo aumentou dez vezes nas últimas quatro décadas. O Brasil é um país que enfrenta forte crescimento de doenças associadas à obesidade, em todas as faixas etárias. Outro estudo comprovou que entre 15 a 20% das crianças menores de cinco anos já apresentam sobrepeso ou obesidade. E não é difícil perceber o aumento do número de crianças gordinhas nas ruas, nas escolas e em todos os lugares. Muita comida _ ou alimentação hiper calórica _ associada à pouca atividade física resulta numa população de baixinhos bem acima do peso considerado saudável.
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A obesidade é uma doença, e pode desencadear várias outras. O melhor, então, é preveni-la. A pediatra Gabriela Nunes e a endócrino-pediatra Laura Cudizio participam da seção “Pergunte ao Especialista” da plataforma Doctoralia, onde respondem várias dúvidas dos pais e aproveitam para desmistificar o assunto. “A obesidade infantil pode ser evitada de forma muito simples, principalmente por meio de mudanças nos hábitos da família”, explica a endocrinologista. Elas esclarecem alguns mitos sobre o assunto.
“Sou obeso e por uma questão genética meu filho também será”
Quando um dos pais é obeso, a criança pode ter um risco 15% maior de ser obesa. Quando o pai e a mãe são obesos esse risco pode aumentar para 30%. A obesidade por fatores genéticos existe, mas corresponde a menos de 10% dos casos. Em geral acontece porque os hábitos de vida da família são favoráveis para o ganho de peso das crianças. Acontece pouca prática de atividades físicas, horários irregulares para as refeições, consumo exagerado de alimentos processados/ultraprocessados ricos em gorduras e açúcares. Se os adultos têm hábitos que levam ao ganho de peso, as crianças também terão, mas isso não é genético, é comportamental.
“Só não emagrece quem não quer”
“Ninguém ganha peso de um dia para outro” é mais correto. Quando o pediatra identifica que o ganho de peso inadequado está acontecendo, em geral, as mudanças nos hábitos são suficientes para interromper esse processo. É muito difícil perder peso, principalmente com o passar do tempo.
“Criança não pode fazer dieta”
Se comer nos horários corretos, quantidades adequadas, sem excesso de gorduras e açúcares for fazer dieta, então deveríamos todos fazer dieta. O conceito de dieta que temos para adultos, com restrição de calorias e grupos alimentares (low carb, 100 calorias, entre outros) realmente não é o recomendado para crianças. Quando uma criança está acima do peso ou apresenta problemas de saúde relacionados diretamente com maus hábitos alimentares (alteração de colesterol, por exemplo) é necessário consultar um especialista para entender onde está o erro e como corrigi-lo.
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“Uma criança obesa será um adulto com tendência a engordar mais fácil”
Estatisticamente, uma criança obesa tem maior risco de ser um adolescente obeso; um adolescente obeso tem mais chances de ser um adulto obeso; pais obesos têm maior probabilidade de ter filhos obesos.
“Criança não pode comer açúcar até os dois anos”
Essa é uma recomendação das sociedades de pediatria e endocrinologia pediátrica do mundo todo. Não é recomendado oferecer alimentos ultraprocessados nem adicionar açúcar aos alimentos oferecidos às crianças menores de 2 anos de idade. A criança está desenvolvendo o paladar e conhecendo o sabor dos alimentos. A adição de açúcar, na maioria das vezes é desnecessária, portanto deve ser evitada.
“É melhor substituir o refrigerante pelo suco de caixinha”
A orientação atual é não oferecer sucos para as crianças menores de 2 anos, deve-se oferecer a fruta inteira em razão de ser uma melhor fonte de vitaminas e fibras. O líquido de escolha é água. Se for oferecer suco, a melhor opção é o suco natural da fruta da estação, que não precisa ser adoçado, pois a fruta é naturalmente doce. Atualmente há sucos de caixinha que são 100% suco e sem adição de açúcar ou conservantes. Eles são melhores do que os “sucos de caixinha” do tipo néctar – menos de 30% de suco e adição de açúcar. Refrigerantes devem ser consumidos com moderação e muito esporadicamente, nunca antes dos 2 anos de idade.