É no horário eleitoral gratuito que a maioria dos eleitores conhece melhor os candidatos, o que eles fizeram no passado, o que planejam para o futuro. Ao mesmo tempo, a propaganda de TV também é o momento em que ações são supervalorizadas, problemas são exagerados e cada informação merece uma boa checagem. A reportagem do Diário Catarinense destacou alguns pontos dos programas de televisão de Raimundo Colombo (PSD), Paulo Bauer (PSDB) e Claudio Vignatti (PT), atrás de verdades e mitos da atual disputa pela cadeira de governador do Estado nas Eleições 2014.
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Raimundo Colombo (PSD)

O que diz o programa eleitoral
“Na Saúde, Raimundo constrói dez novos hospitais. Três já foram entregues, em Florianópolis, Blumenau, São Francisco do Sul, e outros sete estão em construção, em Itajaí, Joaçaba, Lages, Braço do Norte, Chapecó, Xanxerê e Criciúma”
Na prática
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Ao pé da letra, o governo de Raimundo Colombo não construiu 10 novos hospitais. Novo mesmo, nenhum. O governo investiu em reformas, ampliações e anexos em cinco hospitais estaduais que já existiam, localizados em Lages, Xanxerê, Itajaí, Chapecó e Florianópolis. Essa unidade da Capital – o Hospital Florianópolis – teve sua reforma iniciada ainda no governo de Luiz Henrique (PMDB), atravessou o mandato-tampão de Leonel Pavan (PSDB) e quase todo o mandato de Colombo até ser concluído após sucessivas prorrogações de prazo de entrega da obra.
Também foram reformados e ampliados com recursos do governo outros três hospitais que não são estaduais. São instituições filantrópicas, administradas por universidades ou entidades beneficentes, em Criciúma, Braço do Norte e Joaçaba. Para essas obras, o Estado repassou R$ 25 milhões.
Assim, dois hospitais são realmente novos. O Nossa Senhora da Graça, em São Francisco do Sul, é administrado pela prefeitura. O outro é o Hospital da Furb, Universidade de Blumenau. Em ambos, o governo repassou recursos que permitiram a conclusão das obras, somando cerca de R$ 5 milhões.
O que diz o programa eleitoral
“Somos, hoje, o Estado que mais gera novos empregos em todo o Brasil”
Na prática
Os números do Ministério do Trabalho mostram Santa Catarina em uma situação de destaque em relação à geração de empregos no país, tanto em percentuais quanto em números absolutos. No ano passado, o Estado teve o maior crescimento proporcional de vagas de emprego com carteira assinada em todo o país. Um crescimento de 4,3% em relação ao número de vagas que havia no início do ano anterior.
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Ao total, foram 87.099 novos postos de trabalho, que colocaram os catarinense atrás apenas de São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná em quantidade de empregos gerados – à frente de Minas Gerais e com mais do que o dobro das vagas criadas pelo Rio de Janeiro.
Em 2014, pelos números atualizados até agosto, Santa Catarina mantém o ritmo, embora tenha perdido a liderança percentual para Goiás. Em números absolutos, ainda é o quarto maior gerador de emprego, atrás de São Paulo, Minas e Paraná.
Paulo Bauer (PSDB)

O que diz o programa eleitoral
“No nosso governo vamos construir pelo menos 20 policlínicas. Cada uma custa R$ 7,8 milhões. No total, 20 policlínicas custam R$ 156 milhões. Isso é menos da metade do valor gasto pelo atual governo em propaganda.”
Na prática
De acordo com o Tribunal de Contas do Estado, foram gastos R$ 313,8 milhões em publicidade e propaganda durante o primeiro mandato de Raimundo Colombo (PSD), incluindo dados parciais de 2014. Em termos numéricos, a fala do candidato tucano é praticamente exata. Mas o discurso utiliza o valor bruto de publicidade, que incluiu as despesas realizadas com correios e telégrafos, publicação de editais, extratos, convocações e assemelhados, sem caráter de propaganda e afins. Nem o TCE e nem o governo estadual souberam separar o que era exatamente gasto com propaganda.
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Em relação às policlínicas, a campanha de Paulo Bauer (PSDB) afirma que o custo de cada uma dela é previsto pelo próprio governo estadual, no Pacto pela Saúde. Seriam R$ 5 milhões para construir a unidade e R$ 2,8 milhões para equipá-la. Entretanto, a propaganda informa quanto vai custar a obra, que é um gasto que se encerra em si, e não detalha como será feita a contratação de profissionais para colocar em funcionamento essas novas 20 estruturas – ou seja, o gasto permanente.
Se as policlínicas tiverem administração direta do Estado, os custo dos novos funcionários tem impacto na folha de pagamento e deve obedecer os limites da Lei de Responsabilidade Fiscal. Se a administração for terceirizada, através de organização social, é feito um repasse mensal para a entidade, também com impacto permanente. A terceira opção é repassar a gestão para prefeituras, que tem enfrentado dificuldades ainda maiores para assumir gastos permanentes.
O que diz o programa eleitoral
Apresentadores dizem que após 12 anos de promessas nas campanhas presidenciais de Lula e Dilma Rousseff, nenhum quilômetro das BRs 280 e 470 foi duplicado até agora.
Na prática
São realmente antigas as promessas para duplicação das BRs 280, no Norte do Estado, e 470, no Vale do Itajaí. Ambas ganharam ganharam maior ênfase nas promessas dos políticos a partir das eleições de 2006, quando avançava a duplicação da BR-101.
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Em 2008, Dilma Rousseff – ainda ministra no governo Lula – se comprometeu em Joinville de que os editais para início de ambas as obras começariam ainda naquele ano e, otimista, previu que trechos da 280 e da 470 estariam duplicados até 2010. Não aconteceu e a promessa voltou às campanhas eleitorais dela e do principal adversário José Serra (PSDB) – e também do então candidato a governador Raimundo Colombo. Na época, ele dizia que se o governo federal não iniciasse a obra da BR-470, pediria a estadualização da rodovia para duplicá-la com recursos próprios.
Hoje, ambas as obras estão em andamento e em estágios semelhantes. O trecho a ser duplicado da BR-280 foi dividido em três lotes e dois deles estão em obras, em fase de demarcação e terraplanagem As propostas as empresas interessadas no outro lote serão abertas no dia 29. Pelos contratos, tudo termina em três anos.
O trecho que será duplicado na BR-470 foi dividido em quatro lotes, todos já licitados e em obras, mas também em fases iniciais. O DNIT não tem cronograma para a duplicação e sequer iniciou as conversas para desapropriação de 900 imóveis.
Claudio Vignatti (PT)

O que diz o programa eleitoral
“Vou fechar as secretarias regionais, o que gera uma economia de mais de R$ 500 milhões por ano. Com isso, dá para investir pesado na saúde, na educação, infraestrutura e segurança pública.”
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Na prática
O valor apontado por Vignatti em sua campanha eleitoral é até menor do que o total gasto através das 36 secretarias regionais de desenvolvimento: dados do próprio governo estadual apontam R$ 677 milhões em 2013. O problema é que a maior parte desses gastos estão entranhados na estrutura do Estado.
Em 2013, por exemplo, foram gastos R$ 108 milhões com funcionários efetivos, que continuariam sem as regionais. O gasto com cargos de confiança, que poderia ser cortado, foi de R$ 24 milhões. Também faz parte da conta que não pode ser cortada a manutenção da rede de escolas estaduais, hoje feita pelas SDRs: R$ 161 milhões.
Os gastos específicos de manutenção da estrutura das 36 SDRs _ água, luz, telefone, terceirizados, transporte, diárias – teriam somado, em 2013, R$ 35 milhões. Pode ser cortado, mas ainda haverá algum gasto para manter órgãos hoje abrigados nas SDRs, como as gerências regionais de saúde e educação.
Outro ponto que distorce a conta é que R$ 287 milhões do gasto das regionais é investimento – reforma de escolas e pavimentação de estradas, por exemplo. É um valor maleável de acordo com a vontade do governante, mas as demandas da região não deixariam de existir com o fim das secretarias regionais.
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O que diz o programa eleitoral
“A situação da saúde em Santa Catarina é grave. Faltam médicos especialistas, falta equipamento e sobram filas”
Na prática
A situação grave da saúde em Santa Catarina é uma constatação que se repete há anos em pesquisas. Na mais recente, em julho, o Ibope perguntou a qual a área em que os catarinenses enfrentavam mais problemas, apresentando uma lista de 22 temas. A saúde ficou em primeiro com 39% das citações, contra 12% da educação. Em seguida, era apresentada a mesma lista e permitido ao entrevistado apontar três áreas. A saúde passou para 69% das citações, contra 31% da segurança pública.
A dificuldade na contratação de médicos especialistas tem reflexo na chamada ambulancioterapia _ a viagens de pacientes do interior para Florianópolis em busca de atendimentos específicos. Em maio deste ano, a secretária de Saúde Tânia Heberhardt assinou artigo no DC em que admitia o problema e apostava no pagamento de adicionais por produtividade para tornar atrativa a carreira pública para os médicos especialistas.
Em relação ás filas, o situação chegou a parar na Justiça. A 3ª Vara Federal de Florianópolis chegou decidir, em liminar, pelo bloqueio de 30% da verba de publicidade do governo estadual até que fosse zerada um fila de 5 mil cirurgias ortopédicas na Grande Florianópolis. A liminar foi derrubada, mas o governo teve que apresentar um plano de ação para acabar com a demanda.
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