De início, os três esportistas que se reuniram em Santos para fundar um clube em 14 de abril de 1912 estavam em dúvida sobre o nome de batismo, se um comportado Concórdia ou um presunçoso Brasil Atlético ou um surpreendente África.

Continua depois da publicidade

Pois é, Pelé poderia ter passado os 19 anos de sua carreira no país com a mítica camiseta 10 do Brasil Atlético Futebol Clube. Ou alguém imagina Neymar infernizando os adversários no time do África? Mas prevaleceu uma outra proposta, a do Santos Foot Ball Club.

Em princípio, seria uma camiseta em azul e branco com frisos dourados. O problema é que, assim, tricolor, era de difícil confecção e então tudo foi simplificado ao branco e preto. Quando o clube alcançou os seus 50 anos, em 1962, o Santos já era um dos maiores times do mundo. Chega aos 100 anos hoje de novo como tri da América e bi do Mundo, embora seja mais prudente considerá-lo agora apenas sério candidato a melhor time da América.

Não à toa, há 50 anos havia Pelé – hoje há Neymar.

O mito do Santos se criou impulsionado pelas arrancadas e pelos dribles descomunais de uma fera na pele de um garoto chamado Pilé ou Pelé, que chegara em 1955 à Vila Belmiro. O menino se juntou a Dorval, Mengálvio, Coutinho, Del Vecchio e Pepe e se tornou o ataque que mais infernizou as zagas alheias. Havia temporadas em que Pelé sozinho marcava entre 100 a 120 gols. Isso sem falar nas diabruras de Coutinho, o homem que fazia a dupla de tabelinha com Pelé. Por curiosidade, o Santos passou sua história agitado pelas duplas: mais adiante, teve os meninos da Vila Pita e João Paulo; Diego e Robinho e hoje expõe Neymar e Ganso.

Continua depois da publicidade

O que diz Coutinho

Um dos maiores atacantes da história, Antônio Wilson Vieira Honório, aos 69 anos, perdeu o encanto de falar sobre os tempos em que convivia com Pelé.

– Olha, a vida anda muito rápida, não gosto de pensar no passado; tenho muito que fazer cuidando dos moleques de rua.

De fato, há 10 anos Coutinho mantém um escolinha, a Gaba Futebol Clube, com atuação em Santos, São Paulo e Cubatão. Seu trabalho é resgatar crianças abandonadas e colocá-las em escola. Estão com eles nesse projeto Mengálvio, Dorval e Pepe, o pessoal do time campeão dos anos 50 e 60.

Você vai à festa de 100 anos do Santos?

– Não sei. Não fui convidado ainda – disse ele, na quinta-feira.

Coutinho foi autor de 370 gols pelo Santos. Não tanto quanto os 1.091 que Pelé fez pelo mesmo clube, mas ainda assim é considerado o mais companheiro do Rei de todos os tempos.

Continua depois da publicidade

O que diz Alcindo

O gaúcho Alcindo jogou ao lado de Pelé entre 1971 e 1973. Eram amigos pessoais. Uma vez, estavam os jogadores de folga em um bar perto da Vila. Era 20h, e eles estavam liberados, coisa rara naqueles tempos. Então um vulto de um negrão passou por eles. Estava correndo, de abrigo. Alguém achou que fosse Pelé, mas ninguém acreditou, era folga.

– Uma hora depois, o vulto voltou. Era Pelé mesmo. Então eu acreditei a razão do sucesso do Pelé. Ninguém treinava como ele, ninguém jogava como ele.