Marilda Nascimento Morimoto, 83 anos, mantém uma fisionomia séria, mas revela uma alma que transborda alegria. Não é preciso escancarar os lábios para mostrar a grandeza de um sorriso sereno e reconfortante.

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Sua gargalhada está imersa na caridade, na preocupação com o próximo e na “teimosia”, adjetivo que usa para se autodefinir. Dona Marilda é um livro de histórias.

– O que você quer saber? Minha vida tem muitos acontecimentos – antecipa.

Mas começa pelo presente, dedicado quase que de forma integral ao trabalho voluntário. Há 22 anos ela participa do Grupo de Voluntárias do Hospital Municipal São José. Sua missão é dedicar duas manhãs por semana aos pacientes, levando palavras de apoio e de otimismo.

– Não é um grupo religioso. Conversamos sobre tudo. Muitos pensam que eu sou psicóloga, mas eu sou psicóloga da vida.

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O grupo é formado por 35 senhoras – apenas duas têm mais tempo de estrada do que dona Marilda. No hospital, ela se sente apta a ajudar todos os pacientes – desde os casos mais leves até os mais sérios.

A arma é o bom humor e a tranquilidade.

– Não adianta trazer para casa o que a gente viu lá. Nossa missão é extrair sorriso dos pacientes. E conseguimos. Hoje mesmo, o dia foi de muitas risadas.

Entre os momentos mais marcantes que viveu no voluntariado, ela lembra de um dia em que conversou com um menino de 11 anos que sentia uma dor forte na perna.

Assim que a viu, ele imaginou se tratar de uma freira e pediu que rezasse por ele. Ela imediatamente tocou-o e avisou que deveriam rezar juntos. A dor passou.

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Além do trabalho no hospital, dona Marilda também dedica uma tarde ao voluntariado na Sociedade Espírita de Joinville. Começou como costureira, mas agora corta fraldas para montar enxovais para famílias pobres.

Ela cumpre toda essa agenda movimentada dirigindo o próprio carro, tarefa que pretende exercer até o ano que vem, quando vence a carteira de habilitação. Dona Marilda é a típica mulher à frente do seu tempo. Aos dez anos, começou a estudar, contra a vontade dos pais, semianalfabetos, em Imbituba, cidade onde nasceu.

Já adolescente, foi para Florianópolis aprender a lecionar. Em Campo Alegre, tornou-se professora e continuou o ofício em Joinville, onde se aposentou. Mãe de dois filhos, avó de três netos e bisavó de quatro (um ainda está a caminho), ela conta que a teimosia sempre foi um ingrediente na sua vida. Para muitos, entretanto, esse predicado pode ser confundido com coragem.