O vernissage em que Luiz Henrique Schwanke estreou as esculturas concebidas a partir do uso de baldes, bacias, mangueiras e outros materiais plásticos foi um acontecimento e tanto. O ano era 1989 e ele já desfrutava de prestígio conquistado graças aos célebres Linguarudos, desenhos que se tornariam uma marca. Nem o frio daquele inverno esvaziou o evento, cercado de antecipada expectativa. Salas e jardins do Museu de Arte de Joinville (MAJ) foram tomadas por um público movido pela curiosidade. O resultado se mediu pelas reações, as mais diversas, do espanto e admiração ao escárnio.
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Intencionalmente ou não, a produção de Schwanke sempre mobilizou debates e aquela noite sinalizava o rumo da construção de uma identidade artística. Eclético no uso de suportes e matérias-primas, alcançou resultados de plasticidade inéditos, com formas, texturas e volumes atrativos ao gosto e, ao mesmo tempo, desconcertantes. Conceitual, mas sem abandonar a necessidade de mínima compreensão, rompeu fronteiras inimagináveis ao ampliar a geografia de seu talento. Fez uso de todas as ferramentas que tinha à mão para levar adiante a sua produção. Uma delas era a diplomacia, o jeito simples, os modos contidos, características que combinava – na esfera pública e privada – com outra face da personalidade, a ousadia.
Se por ações planejadas ou não, a força de seu acervo está ligada à opção pela liberdade criativa e pela total rejeição aos maniqueísmos e ofertas às custas de vínculos ao oficialesco. A independência, porém, cobra seu preço, enquanto angariava aplausos em outros territórios, no estado natal amargava a falta de reconhecimento, colecionando críticas, muitas envoltas pelo véu da ignorância.
Na intimidade, com os amigos, impressionava a capacidade de não se deixar abater ou pelo menos não demonstrar sinais de tristeza. Pelo contrário, mesmo quando estava envolvido com algum projeto, era presença garantida em encontros sociais e jantares. Nessas ocasiões, chegava pontualmente, nas mãos um vinho ou uma flor, sempre com aquela doce formalidade.
Tantos anos passados desde o vernissage, continua bem viva na memória a imagem de Schwanke circulando aqui e acolá, tecendo comentários ou perguntando sobre os trabalhos. Destemido, queria opiniões, fossem boas ou negativas.
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Imbuído de uma espécie de missão renovadora, esse homem, embora erudito, não se apresentava orgulhoso, para sorte dos que o conheceram. Por vezes introspectivo, de sorriso comedido, porém fácil, trazia dentro de si o desejo de dividir com os outros o seu vasto conhecimento, que não era pouco, com interesses que iam de filosofia e política à jardinagem e à gastronomia. Dândi do final do século 20, deixou um acervo de valor inestimável, restando aos catarinenses o dever de zelar pelo seu nome e pelo seu legado – uma boa reflexão justo na passagem do seu aniversário, lembrado em 16 de junho.
*Jornalista e escritor