Envolvido em denúncias de fraude na alteração do projeto de mobilidade urbana de Cuiabá, o ministro das Cidades, Mário Negromonte (PP), chorou nesta sexta-feira, em Salvador, e disse ser alvo de preconceito por ser nordestino. Ele afirmou que, caso sinta que a presidente não o queira, deixará o cargo.

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– Fico muito honrado de fazer este trabalho junto com a presidente Dilma, a primeira mulher presidente do Brasil, mas só vou ficar lá se me sentir confortável e ela também. Se eu sentir que ela não me quer, eu vou lá e entrego.

De acordo com Negromonte, o Planalto o avisou que, neste momento, ele pode ficar “tranquilo”.

– Quem me ligou foi o ministro Gilberto Carvalho (secretário-geral da República), dizendo que eu ficasse tranquilo, que a presidente da República conhece todo o trâmite, que por ela não tem problema nenhum – afirma.

– Não tenho apego a cargo, não vou ficar de joelho para ninguém – completou.

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O ministro disse ser vítima de “fogo amigo” dentro do governo e acusou a imprensa de ser preconceituosa com mulheres e nordestinos.

– Identifico fogo amigo, claro que sim! Partidos da base aliada e o próprio PP nacional (não da Bahia) têm interesse no Ministério.

– As denúncias surgem porque o Ministério é importante. A gente toma conta de diversos programas, como o Minha Casa, Minha Vida, de R$ 170 bilhões, o de saneamento básico, de R$ 50 bilhões, o de mobilidade urbana, de R$ 30 bilhões. E a gente contraria muitos interesses. Aqui e acolá tem meia dúzia de insatisfeitos na bancada, é normal.

O ministro participou, durante a manhã, de um evento no qual foi anunciada a construção de imóveis da segunda etapa do Programa Minha Casa, Minha Vida. Deputado eleito pela Bahia, Negromonte também disse ser vítima de preconceito por ser nordestino e acusou a “imprensa do sul” de ser preconceituosa.

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– As denúncias vêm de parte da imprensa, insatisfeita com o governo federal, interessada em enfraquecer a presidente Dilma (Rousseff). É uma mulher e existe discriminação.

– Existe discriminação com o nordestino também. Fizeram uma ilação com a Festa do Bode (Negromonte é acusado de tráfico de influência para ajudar a financiar o evento). Se fosse a Festa da Uva ou da Maçã, certamente ninguém faria discriminação. Mas como é Festa do Bode, coisa de nordestino, e o ministro é nordestino, tome cacetada.

Sobre a possibilidade de exonerar auxiliares, o ministro disse ter instaurado uma sindicância para “apurar eventuais irregularidades” e ter avisado a Controladoria Geral da União (CGU) e o Ministério Público.

– Disponibilizei toda a documentação original – afirma.

– Mas não vou culpar ninguém antes de julgar. A sindicância vai apontar se houve erro e não vou passar a mão na cabeça de ninguém.

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Ele, porém, diz não ver irregularidades, previamente.

– É bom que se entenda que ainda não houve licitação, quem tiver desconfiança tem de ir ao Estado (MT) procurar o governador (Sinval Barbosa, do PMDB). O governo passado tinha feito uma proposta de BRT e ele (o governador) achou por bem mandar os técnicos analisarem melhor e quis o VLT, que é uma coisa mais moderna – lembra.

– Aí, mandou (a proposta) para Brasília, para uma decisão colegiada da Gecopa, que reúne técnicos dos Ministérios das Cidades, do Planejamento, da Fazenda, do Turismo e do Esporte. Quando ele nos procurou, propondo a alteração, eu disse: mudar o modal, tudo bem, mas você vai ter de batalhar para conseguir mais recursos. E ele vai conseguir mais recursos buscando o financiamento através do seu governo.