Principal figura do governo federal na Copa, o ministro do Esporte amanheceu a quarta-feira subindo o tom a jornalistas estrangeiros na Costa do Sauípe. Ao responder sobre a violência no país, disse que uma bolsa esquecida num aeroporto brasileiro é levada ao Achados e Perdidos; no terminal de Paris, causa pânico de terrorismo. Depois, minimizou os atrasos:

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– Sempre a noiva atrasa nos casamentos, e nenhum deixa de acontecer por isso.

Mais tarde, Rebelo falou a ZH e reforçou a ideia de que o problema de demora nas obras da Copa é menor _ apesar do fato de que nenhum estádio entre os seis ainda em obras ficará pronto em dezembro, como estipulado.

Zero Hora – O senhor foi duro ao responder a um jornalista estrangeiro sobre a imagem do Brasil, citando casos de assaltos em países da Europa. Mas os atrasos nos estádios e a desorganização não reforçam o estereótipo de que o Brasil não é um país sério?

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Aldo Rebelo – Por ser estereótipo, ele não corresponde à descrição fiel de qualquer país. Não se pode pensar em não fazer um evento em Nova York por conta do 11 de setembro, ou na Alemanha por causa dos atentados de Munique. É preciso levar em conta que temos problema de violência, do crime comum, mas isso não inviabiliza a realização da Copa no Brasil como essas coisas não impediram os outros eventos fora.

ZH – Uma das razões pelas quais o Brasil trouxe a Copa foi projeção internacional. Depois da violência nas manifestações, dos atrasos nas obras e do acidente em Itaquera, que ganharam manchetes mundiais, como transmitir uma boa imagem do país?

Rebelo – O Brasil já recebeu a Copa e a Olimpíada por ter uma boa imagem lá fora. A de um país pacífico, alegre, que rechaça violência racial e religiosa. Queremos potencializar essa imagem, a ideia de que faremos uma Copa sem a mesma infraestrutura de um país como EUA ou Alemanha, mas uma ideia muito forte da negação do racismo e da intolerância. Isso, podemos fazer.

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ZH – Pela manhã, o senhor comentou os atrasos nas obras dizendo que noivas se atrasam mas os casamentos ocorrem mesmo assim. Isso não reforça a impressão de que nada sai no prazo? Os atrasos não custam mais caro?

Rebelo – Não vejo desta forma. O Brasil, todo ano, cumpre tarefas como organizar grandes carnavais em Rio, Olinda, Salvador e São Paulo e nunca se ouviu falar em atraso. Nunca tivemos problemas para organizar o Campeonato Brasileiro. Existe muito mito em torno dessa coisa do atraso. Nunca ouvi falar que não tem safra de trigo porque atrasou o plantio. Existe uma má vontade em relação a certas coisas no Brasil.

ZH – Mas é má vontade criticar atrasos que têm custo financeiro? Casos como Porto Alegre, que retirou todas as obras da lista da Copa porque não ficarão prontas a tempo? É demais reclamar disso?

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Rebelo – Não. Estou falando da ideia de que tudo aqui atrasa, e isso não é verdade. Não há essa história de que tudo aqui atrasa e que o jeitinho brasileiro é ruim para o país. O que se chama de jeitinho é muitas vezes a nossa capacidade de obter soluções difíceis para problemas difíceis. É a criatividade e a capacidade de improvisar. Acho que a crítica em relação aos atrasos deve ser feita. As obras da Matriz da Copa são do PAC, programadas para serem entregues muito depois da Copa. Foram antecipadas para termos um Mundial mais confortável. Quando se foi ver, nem tudo seria possível antecipar, e então o que não ficou pronto no prazo ficou para o prazo anterior.

ZH – Há alguma garantia de que as obras vão sair? Afinal, boa parte dos projetos do PAC seguem no papel.

Rebelo – A garantia é que essas obras da Copa foram quase todas já iniciadas. Muitas estão, se não no todo, em parte concluídas. Não vai ser uma obra abandonada. Será entregue _ um pouco depois, mas será.

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ZH – Mas o senhor não se pergunta se investir R$ 30 bilhões na Copa era mesmo prioritário?

Rebelo – Esse seria um investimento feito de qualquer forma. Não é por causa da Copa. Se a Copa, como preveem as consultorias, gerar 3,6 milhões de empregos, só isso já é mais do que um legado.