“ Há 24 anos, era identificada no Cemitério de Perus, em São Paulo, uma vala clandestina composta por 1,5 mil sacos plásticos com os restos mortais de desaparecidos políticos durante o regime militar. A descoberta comoveu o país: centenas de pessoas com histórias de vida e sonhos haviam sido transformadas em sombra pelo Estado que as devia proteger, um desaparecimento forçado que convenções internacionais descrevem como um crime de natureza continuada.
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Para responder às famílias, também elas vítimas indiretas da violência estatal, a análise dos restos mortais de Perus está sendo retomada. Desde julho, profissionais contratados pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República sistematizam dados sobre a vala, recorrendo a arquivos pessoais e documentos para identificar possíveis vítimas. Após dois meses, essa equipe apresenta hoje as suas conclusões parciais.
Mais do que uma opção, é obrigação do Estado resgatar a história dos opositores políticos, moradores das periferias e indigentes aos quais foi imposto o desaparecimento forçado.
Além de revelar a memória de suas vidas e a verdade de suas mortes, tal resgate é fundamental para garantir que o desaparecimento forçado de pessoas e a criação de sepulturas clandestinas jamais voltem a ser política de Estado. Na literatura sobre o tema, isso é conhecido como a garantia da não repetição.
Sintomaticamente, a retomada dos trabalhos – realizados em parceria com a sociedade civil, instituições acadêmicas e outros órgãos governamentais – ocorre dias após o sepultamento de Epaminondas Gomes de Oliveira. Morto durante a Guerrilha do Araguaia, o sapateiro foi identificado e sepultado na cidade de Porto Franco, no Estado do Maranhão, 43 anos depois de seu desaparecimento.
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A descoberta vem como um alento: mais do que os restos mortais das pessoas desaparecidas, é preciso resgatar as vivas verdades ainda ocultas na Vala Clandestina de Perus.“