A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, disse na terça-feira que o projeto de recuperação da Bacia do Rio Doce será de longo prazo.

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– Quando falo de longo prazo, é um projeto de pelo menos uma década – afirmou.

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A ministra participou da reunião com a presidente Dilma Rousseff e integrantes do comitê de gestão e avaliação de respostas ao desastre causado pelo rompimento das barragens da mineradora Samarco na região de Mariana, em Minas Gerais.

Izabella Teixeira lembrou também o plano de recuperação da Bacia do Rio Doce anunciado, após a reunião, pela presidente. Segundo a ministra, haverá muito trabalho pela frente a ser feito e que o objetivo é chamar todos as partes envolvidas para convergir numa proposta única que não é de curto prazo.

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– O desastre é enorme, é uma catástrofe, o pior desastre ambiental do país, e temos que tomar medidas inovadoras para resolver. A gente sabe que a parte de peixes, a fauna intocada, répteis, isso foi perdido. Os especialistas terão que dizer quanto tempo leva (a revitalização). Além da recuperação de nascentes e uma série de situações estruturantes para a restauração da qualidade ambiental na bacia – comentou.

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– A lama veio rolando como se fosse um tambor de 15 a 20 metros de altura – destacou a agricultora Rosilene Gonçalves da Silva, em depoimento a deputados de Minas Gerais, nesta terça-feira.

Rosilene era moradora do distrito de Bento Rodrigues e conta como conseguiu escapar da onda de lama que invadiu a região com o rompimento da barragem da Samarco no distrito.

– Se vocês não acreditam em milagre, podem passar a acreditar – salientou.

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Rosilene foi uma das primeiras pessoas ouvidas em audiência, na terça-feira, pela comissão extraordinária da Assembleia Legislativa criada para averiguar as causas da tragédia, ainda desconhecidas.

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A agricultora revelou que era comum ouvir funcionários da empresa que moravam em Bento Rodrigues comentarem que a Samarco “estava sempre fazendo remendos na barragem”. Conforme Rosilene, a tragédia só não foi maior porque a população de Bento Rodrigues, sem auxílio da Samarco, tomou conhecimento da queda da barragem.

– Uma amiga minha ouviu porque na empresa em que trabalha tinha um rádio comunicador – salientou.

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O aparelho, conforme Rosilene, captou comunicação entre empregados da Samarco sobre a ruptura da represa.

– Entre todo mundo ficar sabendo que a lama estava chegando e o distrito ser atingido, não se passaram mais do que 10 minutos. É ou não um milagre? – questionou.

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A agricultora também mencionou que seguiu para um morro próximo. Ela chegou a se separar da filha. Por um tempo, ficou sem saber o que tinha acontecido com a garota.

– Só a encontrei no ginásio (local para onde os moradores de Bento Rodrigues foram levados após a tragédia) – recordou.

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A garota havia corrido para outro morro, também próximo do distrito. O marido não estava em Bento Rodrigues e também se salvou.

Além do momento da fuga, a agricultora fez um relato do relacionamento dos moradores com a Samarco.

– O lugar onde construíram as barragens era nosso local de lazer. Íamos para lá ver os bichos e as plantas. Chegaram, compraram a área, nos proibiram de frequentá-la e construíram as represas – criticou.

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O promotor Felipe Faria de Oliveira, do Núcleo de Resolução de Conflitos Ambientais do Ministério Público de Minas, que também depôs na comissão, salientou que o plano de emergência da Samarco não previa treinamento da comunidade em caso de desastre.

– Isso já está sendo investigado – afirmou durante depoimento à comissão.

Rota da Lama

Na tarde do dia 5 de novembro, o rompimento da chamada Barragem do Fundão, em Mariana (MG), colocou em curso um dos maiores desastres socioambientais já vistos no Brasil.

Os 62 milhões de metros cúbicos de lama despejados morro abaixo – suficientes para encher 25 mil piscinas olímpicas – começaram a percorrer um trajeto de mais de 500 quilômetros por vales e rios que deverá desaguar no mar do Espírito Santo.

Zero Hora percorre o rastro de devastação deixado por esse tsunami de rejeitos a fim de documentar alguns dos principais impactos ambientais e materiais na população provocados pela tragédia ao longo do curso do Rio Doce. A primeira parada foi no município de Mariana, onde a localidade de Bento Rodrigues registrou mortes, desaparecimentos e foi praticamente extinta pela força do mar barroso que contamina solos e rios, aniquila fauna, flora e compromete o abastecimento de água de cidades inteiras.

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*AGÊNCIA BRASIL E ESTADÃO CONTEÚDO