O latifúndio ocupado pelo PMDB no governo Dilma Rousseff, que começará a ficar vazio após a sigla aprovar a debandada da base aliada, é uma das últimas cartadas do Planalto na tentativa de construir uma frente parlamentar capaz de barrar o impeachment na Câmara. As cotas peemedebistas serão ofertadas pelo PT a deputados que se dispuserem a votar contra o afastamento. As negociações serão diretas com cada político, alheias às instâncias partidárias.

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Para seduzir o Congresso, o governo disporá de até sete ministérios que deverão ser abandonados pelos peemedebistas, alguns de largo orçamento, como a Saúde, que contou com R$ 110,2 bilhões em 2015. As estruturas da administração direta ocupadas pelo PMDB garantem a indicação de pelo menos 1.590 cargos em comissão (CCs). Em alguns postos, como a Agricultura, a expectativa é de que a ministra Kátia Abreu se mantenha no cargo, desobedecendo a ordem de saída. Ela não descarta voltar ao PSD, seu partido anterior, para se manter fiel a Dilma. Nesses casos, a ideia é de que o ministro que fica possa garantir alguns votos nas suas bancadas. Os titulares da Saúde, Marcelo Castro, e da Ciência, Tecnologia e Inovação, Celso Pansera, também resistem em sair.

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Para os outros quatro ministérios – Turismo, Minas e Energia, Aviação Civil e Portos –, a estratégia é negociar no “varejo”.

– Agora, o que menos importa é a sigla, mas sim a possibilidade de a pessoa vir para o governo. Vamos para cima dos deputados e senadores, que são os que têm voto – diz um petista da cúpula nacional do partido.

A operação é ampla, no Planalto e no Congresso. Dilma concordou, em encontro nesta terça-feira à noite com seu núcleo político, incluindo a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com a necessidade de aumentar o espaço de aliados como PP e PR na reformulação na Esplanada dos Ministérios. PMDB e PRB já aprovaram a saída do governo. Em PP, PSD e PR, há pressões para seguir o mesmo caminho. A intenção do Planalto é manter no mínimo bolsões de fidelidade, assegurando cargos aos aliados.

O PTN, com 13 deputados, apesar de pequeno, está cotado para assumir postos relevantes, como a Funasa.

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– Ainda não consolidamos posição. Vamos decidir na próxima terça sobre ser governo ou oposição. Hoje, diria que estamos meio a meio – diz o deputado Aluisio Mendes (MA), líder da bancada do PTN.

No último levantamento do PT, faltavam cerca de 40 votos para alcançar os 172 votos necessários para barrar o impedimento em plenário. Na comissão especial em andamento, a derrota é considerada irreversível.

– O governo vai tentar um desesperado toma lá dá cá, mas não vejo possibilidade de resultados positivos. A perspectiva de poder mudou de lado – diz o deputado Carlos Marun (PMDB-MS), sobre o fato de que o afastamento de Dilma poderá jogar a Presidência no colo de Michel Temer (PMDB).

A importância de cada pasta

Minas e Energia

Orçamento 2015 – não informado

Cargos em comissão – não informado

Algumas subsidiárias – Petrobras, Agência Nacional de Energia Elétrica, Eletrobras, Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais, Pré-Sal Petróleo

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Agricultura

Orçamento 2015 – R$ 11,7 bilhões

Cargos em comissão – 850

Algumas subsidiárias – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária e Companhia Nacional de Abastecimento

Aviação Civil

Orçamento 2015 – R$ 2,5 bilhões

Cargos em comissão – 155

Subsidiária – Infraero

Saúde

Orçamento 2015 – R$ 110,2 bilhões

Cargos em comissão – 300

Algumas subsidiárias – Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Fundação Nacional da Saúde (Funasa), Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)

Portos

Orçamento 2015 – R$ 640,5 milhões

Cargos em comissão – 145

Algumas subsidiárias – Instituto Nacional de Pesquisas Hidroviárias, Agência Nacional de Transportes Aquaviários e as companhias Docas de Ceará, Bahia, Espírito Santo, São Paulo, Pará, Rio Grande do Norte e Rio de Janeiro

Turismo

Orçamento 2015 – R$ 299 milhões

Cargos em comissão – 140

Subsidiária – Instituto Brasileiro do Turismo (Embratur)

Ciência, Tecnologia e Inovação

Orçamento 2015 – R$ 5,4 bilhões

Cargos em comissão – não informado

Algumas subsidiárias – Agência Espacial Brasileira, Alcântara Cyclone Space, centros Brasileiro de Pesquisas Físicas, de Gestão e Estudos Estratégicos e de Tecnologia da Informação Renato Archer

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