A 10ª Promotoria de Justiça de Itajaí instaurou um novo inquérito envolvendo o empreendimento Porsche Design Towers Brava, parceria da Porsche Design com a construtora Carelli. Desta vez, o alvo é o sumiço dos documentos que embasaram a aprovação do projeto arquitetônico de dentro da Secretaria Municipal de Urbanismo (SMU), e uma minuta de contrato de quase R$ 700 mil para viabilizar o trâmite da papelada junto à prefeitura _ o que, segundo o Ministério Público de Santa Catarina, levantou suspeitas de improbidade administrativa e tráfico de influência.

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A documentação que embasou a aprovação do projeto já havia sido solicitada pela promotoria no ano passado. Mas só em junho a SMU respondeu ao pedido, com uma série de observações do atual secretário de Urbanismo, Amarildo Madeira. Entre elas a de que houve “controvérsias” na aprovação que não puderam ser esclarecidas “pela ausência de documentos no processo de aprovação”.

O secretário afirmou ao MPSC que a aprovação, em agosto de 2015, se deu “com sobressaltos” e que persistiram dúvidas em relação ao projeto, especialmente no que diz respeito à legislação de Itajaí e ao enquadramento do terreno da construtora em área preservação.

A aprovação prévia do projeto arquitetônico ocorreu dias antes de ter sido deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) a Operação Dupla Face, que investigou denúncias de corrupção e derrubou membros do primeiro escalão na prefeitura de Itajaí. Foi quando Amarildo, que ocupava cargo técnico, passou ao controle do Urbanismo.

Contrato

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As respostas do secretário de Urbanismo já haviam sido incluídas na ação civil pública movida pelo promotor Álvaro Pereira Oliveira Melo, que tenta impedir a construção do empreendimento. Mas passaram também a integrar o novo inquérito depois que a promotoria recebeu da Polícia Federal documentos apreendidos quando deflagrada a operação Ex-Câmbio, em setembro do ano passado _ entre eles uma minuta de acordo em que a construtora Carelli se compromete a pagar R$ 693 mil ao contratado pelo encaminhamento do projeto arquitetônico junto à prefeitura.

O compartilhamento de provas foi oferecido pela PF e autorizado pela 7ª Vara da Justiça Federal em Florianópolis, onde corre o processo da Ex-Câmbio. Além da construtora, o inquérito do MPSC também tem como alvos o contratado e uma mulher.

Recurso no Tribunal

O Ministério Público de Santa Catarina vai recorrer da decisão do Tribunal de Justiça que autorizou a emissão de alvarás para as obras do Porsche Design Towers Brava no início do mês. A posição dos desembargadores levou em conta apenas os impactos econômicos da obra, em detrimento das questões urbanísticas e ambientais que foram levantadas na ação pelo promotor Álvaro Pereira Oliveira Melo, responsável pela ação.

Os argumentos do MPSC para tentar barrar o empreendimento são de que a obra sobre o morro não apenas vai causar impactos para o meio ambiente, em área protegida por lei, mas também abrir espaço para que outros empreendimentos pleiteiem os mesmos direitos. “Apenas a existência da marca Porsche leva a uma hipnose coletiva dos mais incautos, que acreditam que a edificação de 4 gigantes torres com 740 apartamentos e ampla área comercial pode ser realizada efetivamente em meio a Mata Atlântica, em local que o Município entende como Zona de Proteção Ambiental” _ afirma o promotor na ação.

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Álvaro Pereira Oliveira Melo também chama atenção, no texto, para o fato de empreendimentos da Porsche em Miami, nos Estados Unidos, e em Frankfurt, na Alemanha, terem apenas uma torre e não mais do que 150 apartamento _ enquanto que o projeto no Brasil tem quatro vezes mais _ e para os anúncios feitos pela construtora que oferecem apartamentos “em meio à Mata Atlântica”.

CONTRAPONTO

O que diz a Carelli:

A Carelli informou que não foi questionada pelo Ministério Público sobre os pontos do inquérito citado até o momento. Desta forma, a construtora continuará posicionando-se em todos os aspectos exigidos pelos órgãos competentes e se adequando às medidas legais necessárias.