O Ministério Público Estadual (MPSC) abriu investigação criminal para apurar se houve abuso de autoridade por parte do delegado de Balneário Camboriú, Márcio Colatto, e policiais militares que aparecem num flagrante de violência em um vídeo amador feito no camelódromo da cidade, no Litoral Norte.
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As polícias Civil e Militar também anunciaram procedimentos internos para apurar a conduta dos policiais. Eles não foram afastados de suas funções. As medidas saíram ontem, após o Diário Catarinense divulgar a gravação, feita por um cinegrafista amador.
No vídeo, o delegado Colatto aparece dando chute em um dos três egípcios presos no camelódromo. Colatto tinha uma pistola numa das mãos e um bastão – um equipamento chamado aspen – na outra.
Os estrangeiros estavam desarmados e dominados por policiais militares do Pelotão de Patrulhamento Tático (PPT). A investigação no MPSC será feita pela promotora Maria Amélia Borges Moreira Abbad, que está num curso no Rio de Janeiro. A sua assessoria de comunicação disse que ela está ciente dos fatos e que a apuração não tem data para terminar.
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Ela não informou quando ouvirá os policiais. Paralelamente à investigação da promotoria, as polícias Civil e Militar vão investigar em processos internos se os policiais agiram ou não corretamente.
Na Polícia Civil, a sindicância na corregedoria foi aberta pelo delegado-geral, Aldo Pinheiro D’Ávila. Aldo afirmou que a abordagem feita por Colatto na detenção dos egípcios não é padrão da Polícia Civil, mas evitou comentar detalhes do episódio, por não saber o que aconteceu antes das imagens gravadas.
Colatto e as partes envolvidas serão ouvidas. Durante a investigação, ele continuará a frente das atividades na delegacia de Balneário Camboriú. O comandante do 12º Batalhão da PM, tenente-coronel Renato José Thiesen, disse que só falará sobre a ação dos PMs do PPT depois da conclusão da sindicância da corporação, para ‘evitar injustiça aos policiais ou a possível vítima’.
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No MP, a investigação pode ser enviada à Justiça, se ficar constatado crime, ou ser arquivada. Quanto aos procedimentos internos das polícias, poderão resultar em ações disciplinares aos policiais. Os dois comerciantes egípcios que aparecem no vídeo ajoelhados na frente do delegado Márcio Colatto temem represálias da polícia e decidiram deixar temporariamente o camelódromo.
Pai e irmão foram presos
Wallid Hassan, 21 anos, que levou um chute de Colatto, disse que desde o dia da briga não sai de casa. Ele conversou ontem de manhã com o DC no escritório do advogado da família. Outro irmão, Ahmed Hassan, viajou para São Paulo.
– Não tínhamos arma, tava trabalhando. Não gosto de ninguém xingando minha mãe. O delegado me ameaçou – disse Wallid, ao comentar o flagrante de violência registrado no vídeo amador.
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Além dele, o irmão e o pai foram presos no camelódromo. Ficaram dois dias na prisão e foram soltos pela Justiça. Wallid afirmou que os libaneses não gostam dele nem de seus irmãos e disse desconfiar de que tenham proteção da polícia para intimidá-los.
Wallid mora há um ano no Brasil, irá se casar com uma brasileira em Balneário Camboriú e, apesar da confusão com os libaneses e o medo da polícia, quer continuar na cidade. Para ele, o delegado agiu com abuso e de forma covarde, pois já tinha se rendido à polícia antes de levar o chute e não oferecia resistência.
Na terça-feira, o delegado negou ter cometido violência e garantiu que agiu com técnica para imobilizar e algemar os irmãos egípcios. Colatto disse que agiu porque presenciou os libaneses sendo agredidos pelos egípcios, e fez questão de dizer que eles foram indiciados numa série de crimes pela Polícia Civil. O DC não encontrou o delegado ontem para comentar as declarações de Wallid.
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