O Ministério da Agricultura (Mapa) encontrou contaminação com risco à saúde pública em oito de 302 amostras de carne dos 21 frigoríficos que estavam impedidos de exportar desde a deflagração da operação Carne Fraca no dia 17 de março. Desse grupo de 21, o único em Santa Catarina é o paranaense Peccin, que tem uma unidade de processamento em Jaraguá do Sul. O secretário-executivo do Ministério, Eumar Novacki, apresentou os resultadoas das análises laboratoriais nesta quinta-feira.
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Dessas oito, sete laudos se referem a hambúrgueres contaminados pela bactéria Salmonella, produzido pelo frigorífico Transmeat (do Paraná), dono da marca Novilho Nobre. Esta linha de produção da empresa foi fechada e os lotes do produto foram recolhidos no dia 23 de março. Os produtos serão destruídos sob supervisão de técnicos do Mapa.
Também foi constatada a presença da bactéria Estafilococus na linguiça cozida do FrigoSantos (Campo Magro-PR). O Mapa determinou o recolhimento preventivo da linguiça e a interdição desta linha de produção. O FrigoSantos foi justamente um dos três que tiveram permissão para voltar a exportar anunciada na segunda-feira pelo próprio Mapa, antes, portanto, desse resultado laboratorial.
Em nota, o órgão afirmava, na terça, que as unidades seriam liberadas para exportar “uma vez que não foram constadas irregularidades, sejam de natureza econômica ou de impacto sobre a saúde humana”.
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Excesso de amido em produtos da Peccin
Também foram constatados problemas de ordem econômica, que representam o descumprimento de normas técnicas, em 31 amostras, todas de embutidos. Em salsichas produzidas pelo frigorífico Peccin, de Jaraguá do Sul (SC) e de Curitiba (PR), os exames laboratoriais revelaram excesso de amido.
Ao longo da investigação da Polícia Federal, ex-funcionárias da Peccin relataram diversas irregularidades. A médica veterinária Joyce Igarashi Camilo, que trabalhou na Peccin em 2014 como responsável técnica pelo controle de qualidade, declarou à PF que presenciou, por diversas vezes, a empresa comprar carregamento de carnes estragadas que eram ¿maquiadas¿ com ácido sórbico. Ela também afirmou que a empresa fraudava notas de compra de carne, uma vez que praticamente não utilizava carne nos seusprodutos.
Além do excesso de amido nos produtos da Peccin, os exames laboratoriais constataram uso de ácido sórbico (sorbato de potássio), conservante proibido em salsichas e linguiças, nos produtos do frigorífico Souza Ramos, de Colombo (PR).
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Frigoríficos de Jaraguá do Sul terá registro cassado
O Mapa iniciou o procedimento para cancelar o Serviço de Inspeção Federal (SIF) das unidades da Peccin em Jaraguá do Sul e em Curitiba, além do Central de Carnes (Colombo-PR). Não esclareceu, contudo, até a publicação desta matéria, os critérios para cassar o registro apenas dessas unidades.
— Outros frigoríficos também poderão ter o registro cassado, na medida em que nossas auditorias avancem. Todos os que erraram terão de pagar pelo erro. Não importa se são grandes ou pequenas empresas – afirmou Novacki.
O Ministério irá intensificar a fiscalização e antecipar o calendário de auditorias. Já estão sendo realizadas ações em Santa Catarina, Pernambuco, Bahia, Tocantins, Rio de Janeiro,a e São Paulo. As equipes de fiscalização nesses Estados terão rodízio com troca de posições e até possíveis substituições de superintendentes.
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— Queremos que essas auditorias nos deem a situação real de como estão funcionando os serviços de inspeção em cada estado. Todos os resultados serão divulgados e compartilhados com a Polícia Federal e o Ministério Público Federal- disse o secretário-executivo.
Para reconquistar a confiança dos mercados, Novacki irá viajar, entre os dias 17 e 27 de abril, para se reunir com autoridades dos governos do Irã, Egito e Argélia. Em maio, o ministro Blairo Maggi visitará a China, Hong Kong, Emirados Árabes, Arábia Saudita e Europa para intensificar as negociações com importadores da carne brasileira.
Outro lado
Nenhum representante do Peccin Agro Industrial foi localizado para comentar o cancelamento dos SIFs. Em nota publicada em seu site no dia 18 de março, a empresa repudia o que chama de falsas alegações que culminaram na prisão de seus diretores.
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Logo após a deflagração da Carne Fraca, a Peccin demitiu 177 funcionários que trabalhavam na planta de Jaraguá do Sul.
Confira a situação das 21 unidades frigoríficas que estão proibidas de exportar desde a deflagração da operação Carne Fraca:
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Carne Fraca: ex-funcionárias do frigorífico Peccin denunciaram irregularidades à PF
Rescisões na Peccin, de Jaraguá, devem começar nesta quinta-feira