O Ministério da Agricultura identificou a presença de antibióticos em vinhos de mesa produzidos no Rio Grande do Sul. As amostras foram coletadas no ano passado, em uma operação conjunta com a Secretaria da Agricultura (Seapa).

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Os rumores vinham preocupando a secretaria há mais tempo, segundo o gerente da Defesa Vegetal, José Cândido Motta. Mas a pasta não possui condições técnicas de comprovar o uso de substâncias como, principalmente, a natamicina – um tipo de conservantes cuja utilização é permitida na fabricação de queijos e embutidos.

O processo de compra do equipamento para realizar este tipo de teste está em tramitação há mais de dois anos, através do Fundo para a Convergência Estrutural e Fortalecimento Institucional do Mercosul (Focem).

– Isto [o uso de antibióticos] não é novidade para nós. No momento em que estivermos aparelhados, teremos condições de coibir a prática – disse.

As substâncias seriam utilizadas, segundo ele, em vinhos e espumantes suaves e em suco de uva, que contêm açúcar, fazendo com que as bactérias se proliferem com mais facilidade.

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De acordo com Motta, uma nota técnica sobre o problema foi encaminhada ao Ministério Público no ano passado. O texto alertava sobre os efeitos da substância para a saúde humana. “No Brasil é permitido para conservação de determinados tipos de queijos e embutidos e alguns medicamentos humanos. A preocupação é seu uso continuado, que pode criar resistência e venha a perder seu efeito quando necessário”, dizia o documento.

Conforme apuração da Rádio Gaúcha, 13 indústrias vinícolas são investigadas por adulteração no vinho. Os processos por fraude no vinho estão sendo concluídos pelo Ministério da Agricultura e serão encaminhamento ao Ministério Público.

Ministério promete divulgar nomes das empresas nesta sexta

O superintendente do Ministério da Agricultura no Rio Grande do Sul, Francisco Signor, prometeu divulgar o nome das empresas nesta sexta-feira. Em viagem pelo Interior, ele não soube dar mais detalhes da operação.

– Vamos dar nomes aos bois. Amanhã, vocês vão saber quais são as empresas, porque, senão, acabam achando que é tudo farinha do mesmo saco – disse.

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Segundo Signor, a fiscalização do setor é compartilhada com a Secretaria da Agricultura, que é responsável pelo trabalho de campo, fazendo coletas esporádicas e exames. Se algum problema é detectado, o ministério é comunicado.

– É possível que tenham colocado o produto de maneira ingênua, achando que ele poderia melhorar a qualidade do vinho. Não quero condenar ninguém, mas, se não está previsto na legislação, não pode fazer, já é fraude.

Ibravin desconhece “formalmente” o problema

Em nota, o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) alegou desconhecer “formalmente esse tipo de problema”, e destacou que cabe aos órgãos responsáveis “investigar, punir os responsáveis e orientar o setor a fim de não prejudicar a reputação da cadeia produtiva”. No Rio Grande do Sul, o setor produtivo da uva e do vinho envolve 15 mil propriedades vitícolas e 735 vinícolas com cadastro ativo.

O Ibravin informou ainda que o projeto para atualização tecnológica do Laboratório de Referência Enológica (Laren), que realiza as análises, foi pré-aprovado pelo Ministério do Planejamento e pelo Fundo de Convergência Estrutural do Mercosul (Focem). Orçado em R$ 5 milhões, a proposta está em fase final de avaliação para liberação dos recursos.

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Leia trechos da nota técnica da Secretaria da Agricultura, enviada ao Ministério Público no ano passado:

“Os rumores, nos bastidores, de que se está usando conservantes/antibióticos de uso proibido em vinhos e espumantes, que contém açúcar residual, e em suco de uva, é grande [sic]. E não só no nacional, mas principalmente em vinhos chilenos e argentinos demi-sec e suaves.”

“Um dos poucos países que permitem a sua utilização [natamicina] é a África do Sul, mas para o seu mercado interno. A UE [União Europeia] proíbe e recentemente a Alemanha rechaçou vários rótulos de vinhos argentinos e sul-africanos que continham esta substância antifúngica.”

“O que o setor reivindica e o serviço de fiscalização deseja é que se tenha esse equipamento no LAREN [Laboratório de Referência Enológica], para que todos os industriais sigam a mesma prescrição, tanto para a produção nacional como dos importados, o que garantirá a concorrência sadia e a preservação da saúde do consumidor.”

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