Produzir mais, em menos tempo e com o mínimo de desperdício são objetivos comuns entre os empresários que visitam a Febratex. Tecnologias para isso não faltam, mas sustentabilidade também parece ter se tornado palavra de ordem no universo têxtil.

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Uma volta pela feira mostra que a preocupação com meio ambiente ganha força no mercado, impulsionado por um novo perfil de consumidores. O tema se tornou tão relevante que nesta edição do evento ganhou um espaço para apresentar soluções menos agressivas ao planeta.

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Minifábrica ecológica

Entre as novidades da Febratex 2022 está uma fábrica ecológica. A tecnologia israelense permite estampar qualquer tipo de tecido usando apenas duas máquinas que consomem 85% a menos de água em relação ao processo tradicional e uma economia de até 88% em energia.

A proposta é ousada e deve atacar outro problema do mundo da moda, conta Felipe Sanchez, CEO da Bloom. É o desperdício de peças que são produzidas e não vendidas, que chega a 24% segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).

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— A grande questão ecológica é começar a olhar para uma indústria têxtil que produz só aquilo que realmente foi vendido. Então o que essa tecnologia permite é que você possa primeiro fazer uma peça virtual no e-commerce e produzir somente o que já foi vendido — pontua.

É possível pensar que isso tornaria o processo de entrega do produto final ao consumidor mais demorada, porém a sensação não é real. Sanchez explica que o processo de estampar o tecido leva apenas seis minutos de processo, enquanto no modelo tradicional levaria até seis dias para ficar pronto do cru até o estampado.

A americana Amazon se tornou uma das acionistas da empresa que detém a patente e usa a tecnologia.

— Ela produz um milhão de camisetas por dia, todas sob demanda, nada para estoque — diz Sanchez.

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Fio menos poluente

Os fios também estão na mira da chamada economia circular. Ao longo dos 455 estandes da Febratex 2022 é possível encontrar quem conseguiu tornar garrafa pet em matéria-prima para o setor têxtil. Ou ainda ver capinhas de celular se transformarem em amaciante químico para tecidos. São processos caros para tirar os resíduos das ruas e dar vida a novos produtos e esse ainda é um obstáculo a ser superado, mas os expositores se mostram otimistas.

O fio de poliamida feito a partir de materiais usados é a aposta trazida para a feira neste ano pela Huvispan. Os números mostram o quão sustentável é o produto, com 86% menos emissão de carbono, 78% no despejo de efluentes em rios e 90% quando o assunto é o esgotamento de recursos naturais e combustíveis fósseis.

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O produto não chega ao mercado em larga escala. Da fornecedora Acelor, em Taiwan, na China, devem sair cerca de 100 toneladas ao mês e com um preço superior ao do fio convencional, pois o processo de transformação é mais demorado e mais caro. Enquanto o quilo do fio comum está na casa dos R$ 35, passa para R$ 50 quando é reciclado.

A tendência de mercado, entretanto, sugere a cobrança do consumidor por itens menos agressivos ao meio ambiente.

— O produto é fruto da percepção de que o consumidor vai procurar itens mais sustentáveis — afirma o gerente comercial Saulo Lacerda.

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Jeans reciclado

Se o cliente quer, cada vez mais, produtos com o mínimo de impacto ao meio ambiente, o fim da vida útil da roupa não pode ser ignorado. A Plataforma Circular Cotton Move, dedicada a captar roupas que iriam para o lixo e dar uma segunda vida aos tecidos, vem para a Febratex em 2022 disposta a mostrar isso. 

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Através de parcerias com a Vasart e a Therpol transforma as fibras de peças jeans em base para criar vasos de decoração 100% reciclados.

— Tudo inicia na Plataforma Circular, que reduz o desperdício têxtil, gerando novos produtos com fibras recicladas. O jeans usado é desmanchado em fibras, que são adicionadas a uma biotecnologia à base da borracha da seringueira, transformando em matéria prima. Aí outra empresa a insere no processo de produção e cria vasos como estes — explica Jonas Lessa, CEO da Retalhar, responsável pela logística reversa.

A plataforma tem atualmente 250 pontos de coleta em todo o Brasil. Em Santa Catarina tem nas lojas C&A nos shoppings. Os materiais reciclados se transformam inclusive em fios para novas peças de roupa. Lessa mostra tecidos jeans com até 30% da composição de fibra reciclada. 

A empresa estima que, desde 2014, aproximadamente 325 toneladas de resíduos têxteis foram coletadas através da iniciativa e deixaram de ir para aterros sanitários no país.

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Processo de reúso das peças jeans
Processo de reúso das peças jeans (Foto: Plataforma Circular, Reprodução)

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