Quando Sabini da Silva Roncaglio, 35 anos, engravidou pela segunda vez, os tempos eram outros. Não havia pessoas com máscaras pelas ruas de Blumenau, cidade onde mora, e muito menos necessidade de isolamento social. 

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Em poucos meses, porém, tudo mudou. 

O chá de bebê teve de ser cancelado e o parto, em maio de 2020, aconteceu em meio à pandemia de um vírus até então desconhecido. Medo e mudança brusca de rotina para a família marcaram a chegada da pequena Catarina. Mas não foi só isso.

Para Sabini e o marido, a pandemia trouxe a oportunidade única deles terem mais tempo com os dois filhos. O trabalho remoto imposto para ambos e o cancelamento das aulas presenciais em 2020 resultaram em permanência integral dentro de casa. 

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O esposo, representante comercial, deixou de viajar semanalmente. Sabini, que é jornalista, migrou para o home office no final da gravidez. Pai, mãe e filho de três anos de repente tiveram a convivência super intensificada. A adaptação mal havia acontecido quando a bebê nasceu.

— Esses dias vi o termo “filhos da pandemia”. Acho triste, minha filha foi planejada, resultado de uma história de amor. É claro que a pandemia é algo triste, nós também perdemos pessoas próximas, mas ao mesmo tempo conseguimos acompanhar o crescimento da nossa filha de perto, com mais dedicação e presença. Experimentamos uma nova rotina — avalia Sabini.

Se por um lado a pandemia uniu, por outro ela desesperou. Com as incertezas do que o coronavírus poderia causar nela ou na filha, Sabini se isolou desde o primeiro decreto do governo do Estado, que restringiu atividades por conta da Covid-19. Naquela semana estava marcado o chá de bebê com familiares e amigos próximos. Foi cancelado. 

A partir daquele momento, cuidados preventivos marcaram a reta final da gravidez. Sair de casa? Apenas para consultas médicas. A primeira vez que ela deixou o lar sem ser para ir a um consultório, Catarina já tinha três meses.

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Diferente do que aconteceu com o primeiro filho, a mulher não pôde ir às lojas para comprar o que faltava do enxoval da caçula. A alternativa foi adquirir os produtos pela internet. Levar a recém-nascida para os bisavós e tios conhecerem, como ocorreu com o primogênito, não foi possível. O passeio só aconteceu quando a bebê já havia completado sete meses. Cerca de 40 dias depois, a avó de Sabini morreu vítima da Covid-19.

Sem contato presencial com amigos e parentes durante meses, alguns ainda não viram Catarina pessoalmente. A casa que vivia cheia de pessoas queridas, ficou vazia.

— Ela é bem mais desconfiada com os outros do que o irmão era na mesma idade. Acho que tem relação com a pandemia, porque depois que começamos a sair mais isso melhorou. Ela está mais sorridente — analisa a mãe.

Depois que a vacina chegou, aos poucos o casal foi flexibilizando o comportamento. Catarina passou a frequentar a creche após o primeiro ano de vida. O irmão também voltou à escolinha em 2021 e agora os encontros da família com amigos e parentes mais distantes já ocorrem.

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A pandemia deu outro rumo à vida do casal e dos filhos. Não teve festa de primeiro ano, nem chá de bebê. A ida à creche foi postergada, a rede de apoio ficou menor, o contato com pessoas importantes foi limitado. Faltou presença, dessas em carne e osso. Mas sobrou amor e um olhar positivo em meio ao caos: gerar uma nova vida trouxe luz e esperança aos dias sombrios.

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