O Brasil do futebol é também o país do vôlei. Enquanto brotam craques com a bola nos pés em campinhos, nos ginásios e praças são forjadas estrelas das quadras. Prova dessa capacidade de renovação é a seleção brasileira de voleibol feminino, que mesmo sem algumas das principais jogadoras chegou ao topo do pódio no Grand Prix, no último fim de semana.
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Para orgulho dos catarinenses, uma dessas estrelas nasceu em Nova Trento. Rosamaria Montibeller é cria de um projeto local e estava na equipe comandada por José Roberto Guimarães que bateu a Itália por 3 sets a 2 na decisão.
Rosamaria é a expoente do projeto que existe há quase duas décadas. Foi em 1999 que Vandelina Tomasoni Ribeiro, a Vandeca, fundou o Voleibol Nova Trento, projeto que administra até hoje, com meninas de 8 a 18 anos. Ao todo, são 80 garotas, sendo que 17 são de fora da cidade.
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Para lapidar os talentos da modalidade, o projeto de Vandeca conta com o apoio da prefeitura, que cede o ginásio para treinamentos, e da iniciativa privada local, como uma academia e uma clínica de fisioterapia. Mas também há cobrança sobre as jovens: é preciso ter assiduidade na escola e boas notas.
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E engana-se quem pensa que o pré-requisito para ser aceito pela coordenadora seja a altura. Mais do que tamanho, ela quer ver força de vontade.
— Quando a menina me procura e diz: "Eu faço qualquer coisa pelo voleibol", ali é meio caminho andado. Qualquer profissão é assim. Se é determinado e tiver dificuldades, vai superar. Acredito que determinação é tudo, assim como a disciplina. Se fosse só altura, toda pessoa alta seria atleta, mas não é. Não adianta ter altura e não ter determinação, vontade. O vôlei é uma profissão que tem que abrir mão de muita coisa — pondera Vandeca.
E esse requisito não faltou para Rosamaria. Ela começou a treinar quando tinha oito anos, reunindo todas as características que a comandante gostaria de ver.
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— Ela entendeu o que queria, focou, foi determinada. Chegou lá em cima por ter muitas qualidades, requisitos necessários para um atleta chegar ao alto rendimento.
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Mais talentos prontos para brilhar
O projeto que no ano passado foi apadrinhado pelo técnico Bernardinho e por seu filho, Bruninho, tem outros destaques nas categorias de base. A içarence Gabriella Rocha (Brasdeco-SP), a brusquense Karoline Tormena (Minas Tênis-MG) e a manezinha Daniela Cechetto (Sesi-SP) também iniciaram em Nova Trento. As três também defendem as seleções de base: as duas primeiras na sub-23, e a última, na sub-18.
Só o que a coordenadora lamenta é que a base não receba mais investimentos, pois acredita que muito mais atletas de sucesso seriam reveladas.
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Rosamaria: "A gente sempre teve muita disciplina"
Aos 23 anos, Rosamaria Montibeller faz parte de uma renovação do voleibol brasileiro. Formada no projeto Voleibol Nova Trento, a catarinense se mostra orgulhosa de suas raízes, fala da carreira e como alcançou o sucesso. Ela estava na equipe que conquistou o 12º título do Grand Prix, no domingo passado, na China.
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A conquista do Grand Prix é um sonho de infância realizado?
— Não sei se foi um sonho de infância, mas um sonho recente realizado com certeza, desde que eu vi a primeira oportunidade de participar da seleção adulta. A gente sabe o quanto o Grand Prix é uma competição tradicional, e que o Brasil também é muito tradicional, 12 vezes campeão. Ter a oportunidade de jogar já foi muito bom e ainda mais da maneira como foi. Acho que a gente mostrou que o Brasil está sempre brigando, sempre lá em cima é muito importante. A gente sabe que está numa fase de renovação, sempre complicado, uma fase de muito trabalho. Mas começar com o título, e um título de renome como o Grand Prix, foi muito bacana com certeza.
Você faz parte dessa renovação da Seleção. Qual o peso de estar chegando em uma equipe que tem no currículo duas olimpíadas?
— Eu não sei se a palavra é peso, mas acho que uma responsabilidade. Mas como eu sempre falo, cada grupo tem a sua história. Nosso grupo está batalhando pra continuar com esse legado olímpico. Mas a gente tem que batalhar pra fazer a nossa história. Camisa não ganha jogo, o Brasil é super respeitado pelo trabalho excelente que já fez todos esses anos. Mas a gente tem que lutar pra continuar mantendo isso e construir a nossa história de vitórias, se Deus quiser.
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Quais as lembranças que você tem da época do projeto Voleibol Nova Trento?
— Da época do projeto são memórias muito boas. Uma das principais coisas que eu aprendi foi realmente a como ser um atleta, não simplesmente os fundamentos do vôlei, acho que isso fez muita diferença na minha carreira e de todas as meninas que saíram daí. A gente sempre teve muita disciplina, uma das coisas que sempre me marcaram muito. Mesmo nos campeonatos de base, nós sempre fomos muito focadas porque a Vandeca impunha sempre isso para gente, primeiro foco no que a gente for fazer acima de qualquer coisa. Então, levei isso muito pra minha vida de atleta.
A Rosamaria de hoje é a mesma da época do projeto em Nova Trento?
— Mudou pouca coisa. Acho que os valores, os princípios, são sempre os mesmos. Carrego coisas muito fortes de lá, coisas que tenho certeza que nunca vão mudar, que eu aprendi no projeto, com a Vandeca e com a minha família. Isso não muda independente do tempo e do lugar que a gente está. Acho que essa base muito forte que eu tive foi superimportante pra conquistar o que estou conquistando hoje. O amor e o carinho que eu tenho pelo projeto de Nova Trento é uma coisa difícil até de explicar. A Vandeca sabe, todo mundo sabe que eu tento ajudar da maneira que eu posso, porque é complicada a situação das categorias de base no Brasil. Então, tento ajudar da melhor maneira para que o projeto não morra, e pra outras meninas terem a oportunidade que eu tive.
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Como é trabalhar com o técnico José Roberto Guimarães?
— É um aprendizado e uma superação a cada dia, porque ele é realmente um cara incansável. Você pode imaginar um cara que já conquistou tudo que ele conquistou e ele não perde o brilho nos olhos. Isso é muito motivador pra gente que está ali. Muitas vezes a gente mesmo desiste ou acha que não vai dar, e é impressionante como ele tem confiança, confia no trabalho que realmente é sensacional porque eles estudam, se dedicam 100% a isso. Então, você vê um cara como ele, tricampeão olímpico, renomado e está ali o tempo inteiro desde o menor ao maior campeonato, ele realmente é um vencedor. Ele gosta disso e passa esse espírito pra gente, então ele cria cabeças vencedoras. Acho que isso é o mais importante.
E ser considerada musa da Seleção, como você se sente?
— Sobre esse rótulo, fico feliz, mas acho que também significa que meu trabalho dentro de quadra está sendo visto primeiro, para depois eles poderem analisar o quesito beleza. O que a gente se importa mesmo é dentro de quadra, quero estar fazendo bem o meu trabalho, fazendo o que gosto, o que amo, e o que vier a mais é lucro. Fico feliz do pessoal reconhecer, gostar e admirar, mas o foco principal é sempre dentro de quadra.
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Seu projeto é a Olimpíada?
— Objetivo maior é a Olimpíada. Lógico que a gente procura evoluir a cada campeonato, mas o foco final é sempre na Olimpíada. Espero trabalhar bem os quatro anos. A gente sabe que nada vem de uma hora pra outra, tem que ser um trabalho contínuo nestes quatro anos, tem que ser construído agora. Tóquio já está sendo construído, então a gente tem que pensar a partir de agora focado lá na frente.
Qual o recado para as meninas que se inspiram em você?
— Fico muito feliz de poder ser um exemplo de quem realmente sonhou, queria alguma coisa, foi atrás, descobriu que realmente isso de nada é impossível é muito verdade. Quando você trabalha duro e tem um objetivo, as coisas acontecem. Acredito que as coisas conspiram a favor de quem trabalha. Então, se elas querem e se o foco é ser um atleta profissional, que continuem lutando. Nada vem de graça, nada é fácil, a gente tem que abrir mão de algumas coisas. Mas, no final, quando você conquista, quando você tem a sensação de trabalho realizado, tudo vale a pena.
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