Milton Lopes Budal é o vizinho que todos querem ter. Sempre disposto a ajudar, é assim que ele é definido pelos vizinhos: um amigo para todas as horas. E diante da última benfeitoria que Milton fez à comunidade, os amigos pensam em homenageá-lo. Durante dois dias, Milton se dedicou a melhorar um caminho no meio do mato que liga a rua São Paulo à Igreja Santa Rosa de Lima, usado por moradores da rua Guarapuava, no bairro Floresta, em Joinville.
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Percebendo a dificuldade que idosos e crianças da catequese – como o filho dele, Heverton, de 9 anos – , tinham para chegar à igreja, ele pediu autorização ao dono do terreno, abriu uma picada em meio ao mato, e construiu uma escada, em chão-batido, com tábuas.
– É uma coisa simples, mas que ninguém faz – diz Luiz Delfino Miranda, ressaltando a importância do gesto do vizinho.
A escada facilita a subida, que passou a ser um caminho mais seguro, e poupa moradores de fazerem todo o contorno, um trajeto de 800 metros, para chegar à igreja. Caminho esse que os moradores querem chamar de “Servidão Milton”, ou “Servidão Quico”, como é carinhosamente chamado. A lama ainda é um obstáculo, mas os vizinhos já pensam em se mobilizar para comprar brita e melhorar ainda mais a obra iniciada pelo vizinho conhecido como “faz tudo”.
Como cria sozinho o filho Heverton desde que ele tinha três anos de idade, Milton conta que não pode trabalhar em uma empresa. É ele quem cozinha, limpa a casa, lava, passa a roupa, leva o filho à escola e o acompanha na hora de fazer as lições.
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– Praticamente uma dona de casa – brinca o bem humorado paizão.
– Ele é pai, mãe, é tudo para aquele filho que ama ele – diz a vizinha da frente, Marisa Silveira Vieira.
– Pra mim, meu filho é tudo na vida – reforça Milton, de 55 anos.
Para estar sempre por perto, ele optou por prestar serviços gerais à vizinhança, como jardinagem e pintura, para sustentar a pequena família. Milton não costuma dar preço ao serviço, recebe o que a pessoa acha que é devido. Outras vezes, prestativo como sempre é, faz questão de ajudar sem receber nada em troca, além, é claro, de um sorriso em retribuição. E quando a temporada de chuva faz com que caia a demanda pelos serviços, ele sabe que pode contar com os amigos, que sempre dão um jeito de ajudar com cestas básicas e muito carinho, em retribuição aos favores já prestados.
– Quando teve a enchente, ele percorreu as casas atingidas para ajudar as pessoas a salvar os móveis e limpar, sem cobrar nada – conta Luiz Delfino.
– Qualquer hora, do dia ou da noite, ele está disposto a ajudar. É uma pessoa rara, um exemplo para qualquer comunidade.
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Humilde, Milton fica sem graça diante dos elogios. Para ele, as boas ações, mesmo que envolvam horas de trabalho e muito suor, não são sacrifício algum. Parte do princípio de que um homem pode ser medido pela contribuição que pode dar ao mundo. E enquanto alguns constroem muros que separam, Milton faz escadas que ligam a comunidade à sua fonte de fé e energia.